Em tupi, Pa’rab+iwa: braço de mar, ou rio impraticável para
navegação.
Rio da escravidão, cujas
águas profundas arrastavam as queixas dos meus irmãos escravos;
cujas águas tropeçando nas pedras do teu caminho, vão lavando
generosas a mancha da escravidão; que não te fizeste navegável
para não servir aos opressores dos meus irmãos escravos; rio da
minha infância, cujas enchentes afogam a miséria dos meus irmãos
camponeses; que vais correndo para não ver a miséria que vive
pelas tuas margens.
(In O Quilombo de
Manoel Congo, de Carlos Lacerda).
Em trabalhos anteriores, mencionei o rio do meu
coração:Paraibuna. Disse que morei às suas margens quase vinte
anos. Lembro perfeitamente do sítio Chalé que meu pai arrendou
de José Vieira Tavares. O rio passava a menos de quinhentos
metros de nossa casa. Ele, no local, tinha formato de uma foice
cujo gavião ficava além do pontilhão da Estrada de Ferro Central
do Brasil (EFCB), hoje MRS,e costeava pelos fundos do muito
citado por mim, o povoado de Chapéu D’Uvas. Nossa casa era
fincada aquém do pontilhão, exatamente no cabo da foice citada.
Tive bons momentos no arraial de Chapéu D’Uvas. E o rio que vi e
usufruí está agonizando...os sinos dobram por ele.
Muito anos depois, naveguei por outras praias e vim a
morar perto de outro rio: o Paraíba do Sul.
Este sofre as mesmas mazelas do seu afluente Paraibuna: ambos
poluídos como quê, e com biomassas em extinção.
O rio Paraíba do Sul envolve caprichosamente a cidade
de Volta Redonda, cede água para o povo se dessedentar, resfria
os fornos da Companhia Siderúrgica Nacional e é bom que se diga
que na bacia deste Rio e em seu entorno são gerados 80% do PIB
nacional e onde vivem mais de 80 milhões de pessoas. É nas
margens deste fabuloso rio que embalei e criei minha família,
não muito nas margens porque vez por outra, o rio indignado com
tantas afrontas põe suas águas fora da calha e é um deus nos
acuda! A CSN, gigante siderúrgica bebe muita água do Paraíba ao
qual agradece com efluentes oleosos, escória, poluição. Pobre
rio!
Costumo afirmar que Deus me deu um bônus ao me abençoar
com a família que tenho e morar tão próximo do Paraíba.
Penalizado com a poluição insidiosa dos
rios do Brasil, e com a desídia do povo e dos políticos, pedi a
um amigo que fizesse poeticamente um apelo para que salvem os
nossos rios antes que seja tarde demais. Seguem suas palavras:
Conversando com o rio Paraíba do
Sul
(Norberto Freitas)
Oh, rio Paraíba do Sul!
Quem te viu e quem te vê
Pode até ficar confuso
E não te reconhecer.
Porque o tal progresso
Em busca de lucro e sucesso
Está matando você.
A indústria e a natureza
Muitas vezes não se combinam.
Antes da industrialização
Suas águas eram tão claras,
Que chegavam a ser cristalinas.
Hoje, estão poluídas,
Seus peixes já não têm vida,
A poluição predomina.
Seu antigo volume de água
Quanta saudade me traz!
Suas margens abrigavam
Vários tipos de animais.
E hoje das suas águas,
Nem as aves bebem mais.
Suas pedras cobertas de lodo
De uma cor bem esverdeada.
A areia do seu leito parecia dourada.
E sei que até os seus peixes
Tinham escamas prateadas.
Como era tão bonito
Contemplar sua beleza!
Ouvir o barulho das águas
Pela sua correnteza.
Mas tudo isso foi passado,
Como um letreiro apagado
Lá se foi sua beleza!
Passando por rochas de pedras,
Até no meio da floresta,
Nas águas os pássaros se banhavam
Catando fazendo festa.
Mas desta bela natureza
Só saudade nos resta.
Senhores homens da lei,
Será que não têm ouvido?
A cada descarga que cai,
Esse rio dá um gemido,
Se fossem mais competentes,
O problema do meio ambiente
Estaria resolvido.
Oh, rio Paraíba!
Um apelo vou fazer:
Você não pode falar,
Mas eu falo por você.
Peço a todos que ajudem
A cuidar de sua saúde,
Para você não morrer.
Rio Paraíba do Sul, em Volta Redonda, sua curva deu nome à
cidade. |