Peço muita paciência e
compreensão aos amigos e amigas para que leiam com atenção o que vamos
transcrever. Trata-se de belo texto de Mello Morais Filho e está em
Os ciganos do
Brasil* e Cancioneiro dos ciganos, p. 29 a 33. (Editora Itatiaia,
1981). A razão do pedido é que no final farei um resumo e uma indagação, e
se não souberem responder, vão ter que ler novamente. Mas vamos ao texto.
Ele está entre dois tracejados (inicial e final). As notas de rodapé são
também de Mello Morais.
O Sr. Pinto Noites [cigano de 92 anos], que ainda
conserva a lembrança das festas que tiveram lugar por ocasião dos
desposórios de Sr. D. Pedro I com a Princesa D. Leopoldina, Arquiduquesa
d’Áustria, descreveu-nos com clareza o que vira, chamando especialmente o
nosso interesse para o “curro no Campo”, por isso que aos do seu núcleo
couberam as glórias mais vivas[1].
Começaram os festejos a 12 de outubro de 1818 e
terminaram a 15.
No primeiro dia, depois das salvas das fortalezas, da
recepção do corpo diplomático no Paço da Boa Vista e das solenidades
religiosas, o povo em multidão, apinhado nas praças, nas janelas, nos
telhados, impacientava-se por avistar Suas Majestades e a família real.
As portas das casas estavam armadas de seda, as
colchas de damasco espelhavam ao sol, as ruas eram cintilantes de areia fina
e esmaltada de flores.
Coretos com bandas militares, arcos e bandeiras
tremulando nos galhardetes, soldados dos regimentos e das milícias, gente
aos borbotões, davam a essa festa o cunho da magnificência das dinastias
asiáticas...
Os sinos repicam, as girândolas estrugem, os
batedores, à disparada, de espadas desembainhadas, abrem alas...
D. João VI e a sua corte, às aclamações das turbas,
aos sons das fanfarras, entram triunfantes no Campo de Sant’Ana, para
assistir ao curro.
O Senado da Câmara aí fizera preparar um anfiteatro
deslumbrante: o terreiro, aplainado para as cavalhadas, achava-se circulado
de arquibancadas inúmeras, com panejamentos de cores múltiplas, enfeitadas
de bandeiras, destacando-se ao fundo o pavilhão de el-rei, enorme, forrado
de veludo e ouro, com cortinas de damasco finíssimo, estreladas e franjadas
de ouro, sobressaindo na frisa as armas portuguesas, entre legendas
fulgurantes.
Nos palanques faustosamente adornados, a fidalguia e a
vadiagem dominavam absolutas.
El-rei e os nobres, no seu dossel suntuoso, escutam as
bandas de música que executam dobrados e hinos, esperando o torneio.
A foguetaria estoura, as beldades, faiscantes de
pérolas e brilhantes, anseiam pelo instante da justa, que deveria ser
admirável.
Em frente do palanque real, o
rico e humanitário cigano
[grifamos] Joaquim Antônio Rabelo mandara arranjar, com a maior galhardia
imaginável, um tablado de preciosa madeira, onde se erguia, dos quatro
cantos, uma construção de estilo egípcio, realçando sobre o damasco, a seda
e o veludo, galões e rendas de ouro.
Joaquim Antônio Rabelo, a quem a história nacional
talvez um dia considere como uma força nas agitações políticas da
Independência, assim determinara, para o dançado dos ciganos, a quem
ensaiara com entusiasmo artístico e vestira à sua custa.
Às quatro horas da tarde rebentam bombas, as
girândolas sibilam e um soar de guizos, chocalhando nas cabeças e peitorais
de fogosos ginetes, anunciou as cavalhadas.
[...................................................................................................................]
Nisso, um outro grupo salta na liça: — os
Ciganos.
Guiando soberbos cavalos brancos arreados com
igualdade e riqueza, balançando penachos implantados em discos e forma
lunar, luzidos criados transpõem as barreiras.
Os bailadores trazem as bailarinas à garupa: morenas,
sedutoras como as profetisas gentias.
Os homens trajam jaqueta escarlate, calção de veludo
azul, meias de seda cor-de-rosa, chapéu desabado de veludo com plumas,
sapatos baixos de fivelas. As moças ajustam à cintura flexível costume de
veludo, primorosamente bordado, calção, meias escarlates, sapatos de cetim
branco com ramagens de ouro; na cabeça, como um turbante de nuvens, um
toucando azul recamado de estrelas, como o diadema das noites do Oriente.
A embaixada cigana dirige-se ao palanque real; a
música toca, e os corcéis levemente fustigados, empinam-se no centro da
planície, rodam, dançam a polca.
A multidão, contente do desempenho, manifesta-se com
ruído.
Findos os primeiros exercícios, os pagens tomam da
brida dos animais e conduzem os cavaleiros ao recinto do baile.
Aí, depois das cortesias à família real, uma salva de
castanholas marca o princípio do dançado... E, ao som das guitarras, o
fandango espanhol peneira, arde e geme — mansinho como as ondulações de um
lago, quente como os beijos das odaliscas, lascivo como as inspirações do
Poeta-rei.
Os dançarinos são vitoriados: flores, fitas, aplausos,
eles os conquistam pela magia plangente de seus instrumentos, pela graça
ideal de suas danças.
D. João VI, participando do agrado geral, fá-los vir à
sua presença. Uma banda de música precede-os na maior ordem.
Subindo ao pavilhão, dois camaristas trazem estendidos
num coxim de púrpura, os prêmios que lhes eram destinados: patentes
militares aos homens e jóias às mulheres[2].
As ovações, os vivas a el-rei e as harmonias coroavam
os artistas e a festa...
Restabelecido o silêncio, voltaram jubilosos a seu
palanque.
Preludiaram na guitarra uns acordes casados a vozes de
uma cantilena em sua linguagem.
A tradição olvidou a toada e as letras...
Para o Sr. Pinto Noites, era o
Canto egípcio.
Às 6 horas os clarins, à frente de enorme préstito,
ecoaram na cidade. El-rei nosso senhor via as luminárias...
Uma mulher trigueira, no auge da aflição, olhando para
uma cruz vermelha, pintada no alto de sua porta, fitou o rei na sua
passagem, e estendendo os braços, como que querendo repelir uma visão
perseguidora exclamou: — Jala-te beng!
(Vai-te diabo!).
Joaquim Antônio Rabelo era
cigano rico, humanitário, protolíder (ativista) da Independência e
sargento-mor. Sendo que no ápice da festa foi promovido ao posto de
tenente-coronel. Assim, poderemos afirmar, sem medo de errar, ser ele um
exemplo digno de ser seguido, uma honra para qualquer nacionalidade ou etnia
a que pertencesse. É o que se conclui pela leitura criteriosa, sem
preconceito, do carinhoso texto de Mello Morais. Temos severas restrições a
este autor, mas, no caso, concordamos plenamente com ele.
Vai aqui uma pergunta que não quer calar:
Quem classificou/apontou Rabelo como
traficante de escravos? Queremos provas.
Excluindo in
limine a possibilidade de homonímia, estamos diante de mais uma
iniqüidade contra os ciganos, o que geralmente ocorre com pesquisadores à
procura de um título de mestre ou de doutor.
Lemos na
Revista de história da Biblioteca Nacional, ano 2, no14,
novembro de 2006, à p.30, que José Rabelo e José Luiz da Mota figuraram “nas listagens das fortunas cariocas e de
agraciados com condecorações. José Rabello e José Luís da Mota tiveram seus
nomes registrados na relação dos mais prósperos traficantes de escravos que
atuaram entre 1811 e 1830.”
Não é verdade! José Rabello não consta em tais relações; José Luís da Mota,
sim, está relacionado como traficante, mas não se sabe se era cigano. [O
Arquivo Nacional (ANRJ) informou-me que não consta a nacionalidade de José
Luís da Mota em Graças honoríficas, gaveta GH-M].
Adiante está a relação de traficantes, de Manolo
Florentino bem como nossas relações. Em nossas pesquisas sobre traficantes
de escravos, jamais nos deparemos com o nome de Joaquim Antônio Rabelo.
Agora, diante de festas relembrando os 200 anos do
período joanino, temos oportunidade de conhecer algo interessante sobre
escravos e traficantes de escravos. Lemos esclarecedora entrevista do
acadêmico Alberto da Costa e Silva, publicada em encarte especial de O Globo
de 29 de novembro de 2007 (1808-2008), de onde pinçamos estes dizeres:
Q (repórter) –– O senhor é um grande especialista em
África. O que observou sob o período joanino no que se refere à escravidão?
R (resposta) –– Para começar foram os anos que mais
entraram escravos no país. O tráfico de escravos foi muito intenso, mas o
joanino supera os períodos imediatamente anteriores. Calcula-se que 440 mil
tenham vindo nessa época. [1808-1821.
Q –– A maioria desses escravos vem para o Rio mesmo?
R –– Há muito tráfico para Bahia, Pernambuco, Rio. Mas
no Rio procede algo curioso: o prestígio dos traficantes de escravos. Um
deles é José da Silva, que transfere para D. João sua propriedade em São
Cristóvão, onde se instala o palácio. Veja que ao oferecer sua propriedade,
este negreiro já tinha uma das melhores casas da cidade. (Nota: Engano de
Costa e Silva, pois, o negreiro se chamava Antonio Elias Lopes).
Q –– Qual o papel desses comerciantes de escravos?
R –– As despesas para manutenção do Estado crescem e
quem as financia são os grandes mercadores, cuja maioria comerciava
escravos. Muitos são nobilitados e ingressam na Corte. Ora, depois de 1850,
quando os traficantes de escravos passam a ser objeto de opróbrio, aqueles
antigos comerciantes já eram nobres viscondes, marqueses, barões e não
mais se confundiam com os que passaram a ser chamados de contrabandistas. Há
muita coisa a ser descoberta sobre como atuou o escravismo brasileiro entre
1808 e 1821.
E aqui encerarmos o que nos interessa na entrevista de
Costa e Silva. Fica cristalino como água filtrada quem eram os traficantes.
Inserir os ciganos neste contexto, beira ao cinismo, à hipocrisia e à
heresia.
Listas de traficantes de
escravos
Em costas negras,
de Florentino, consta o apêndice às páginas 283 e 284 que tem este título:
Listagem nominal dos traficantes de escravos entre a África e o porto do Rio
de Janeiro, atuantes entre 1811 e 1830.
Abreu, Joaquim José Pereira de
Adolfo, Joaquim Luís Carlos
Albuquerque, Antônio Pedroso de
Alcântara, Marcelino José
Alves, Antônio Fernandes
Alves, Antônio Ferreira
Alves, Domingos Fernandes
Alves, Joaquim Antônio
Alves, José Antônio
Alves, José Luís
Almeida, Bernardo Luís de
Almeida, Joaquim Ribeiro de
Almeida, Joaquim Rodrigues Pereira de
Almeida, Vitorino da Luz de
Amaral, José Francisco do
Amaral, Policarpo Coelho do
Andrade, João Pereira de
Andrade, José Ferreira de
Andrade, José Freire de
Araújo, José Caetano de
Azevedo, Antônio José Alves de
Azevedo, Antônio Manuel de
Azevedo, Manuel Joaquim de
Aléxis, Antônio Ferreira
Barbosa, Antônio José da Costa
Barbosa, Francisco Borges
Barbosa, Francisco José Fernandes
Barbosa, Joaquim José Fernandes
Barbosa, Joaquim José Fernandes
Barbosa, Luiz Antônio Fernandes
Barreira, Vitor de
Barreiro, Vicente Rodrigues
Barros, João Correia de
Barros, João de Santiago
Barroso, Antônio Gomes
Barroso, Diogo Gomes
Barroso, João Gomes
Bastos, José Domingos
Batalha, Luís Antônio
Batista, Manuel Simões
Belém, Geraldo Carneiro
Bernardes, Francisco José
Bernardes, Pedro José
Bracelete, Antônio José da Costa
Braga, Manuel dos Santos
Brandão, José Alexandre Pereira
Brito, Antônio Luís Ribeiro de
Brito, José Antônio Alves de
Caldeira, Antônio da Silva
Camisão, Lourenço Justiniano Pereira
Cardoso, João José
Carrilho, José Rodrigues
Carvalho, Agostinho José de
Carvalho, Bento José de
Carvalho, Domingos
Carvalho, João Rodrigues de
Carvalho, Manuel Gonçalves de
Castro, Antônio José de
Castro, Bernardino Brandão de
Castro, Nicolau Joaquim de
Coelho, Manuel Antônio
Correa, Antônio Dias
Correa Manuel dos Passos
Correa, Manuel Sabino
Costa, Joaquim de Matos
Costa, Manuel Antônio da
Costa, Manuel Teixeira da
Costa, Rafael José da
Cruz, Luís José da
Cruz, João Alves da
Cruz, João José da
Cruz, Luís José da
Cunha, Felipe Ribeiro da
Cunha, Geraldo José da
Dias, Domingos Francisco
Dias, José Lourenço
Domingues, Jerônimo
Domingues, José
Duarte, Domingos Gomes
Duarte, João Ferreira
Duarte, João Gomes
Faria, Joaquim Francisco de
Faria, Joaquim Pires de
Faria, José Justino de
Faria, José Justino Pereira de
Faria, Tomé Ribeiro de
Farinha, Joaquim Pires
Fernandes, Francisco Antônio
Fernandes, Francisco José
Fernandes, Jacinto Coelho
Fernandes, Luís
Ferreira, João Antônio
Ferreira, Joaquim Antônio
Ferreira, José Antônio
Ferreira, Luís Carlos Domingos
Ferreira, Manuel
Ferreira, Manuel José Gomes
Ferreira, Manuel José Gonçalves
Filho, Francisco José Rodrigues
Florim, José Inácio da Costa
Fogaça, Antônio Gomes
Fonseca, Manuel Joaquim da
Fontes, Estevão
Gomes, Antônio Joaquim de Lemos
Gomes, Feliciano Alexandrino
Gomes, Francisco José
Gomes, José Isidro
Gomes, José Ludgero
Gomes, Manuel José
Gomes, Miguel Ferreira
Gonçalves, Manuel José
Gonçalves, Inácio
Guerra, Antônio Tavares
Guimarães, Constantino Dias
Guimarães, Custódio Dias
Guimarães, Francisco da Costa
Guimarães, Francisco José
Guimarães, Francisco José Gomes
Guimarães, Francisco José Pinheiro
Guimarães, Francisco José da Costa
Guimarães, Francisco Pinheiro
Guimarães, João Alves de Souza
Guimarães, João Manuel da Silva
Guimarães, João Ribeiro
Guimarães, Joaquim
Guimarães, Joaquim José Cardoso
Guimarães, José Antônio de Castro
Guimarães, José Antônio da Costa
Guimarães, José Antônio Ferraz
Guimarães, José Joaquim
Guimarães, Manuel José Ribeiro
Guimarães, Manuel Pinheiro
Henriques, João Militão
Íncola, Joaquim Antônio
Jaciosa, Joaquim Antônio
Jesus, Ana Americana de
Joaquim, Simão
Jordão, Manuel da Mota
José, Firmino
José, Francisco
José, João
Labra, José Inácio
Leão, Fernando Carneiro
Leite, Francisco de Bessa
Leite, João Ferreira
Lemos, Custódio Francisco
Lessa, Bernardo Francisco
Lima, Francisco Xavier Pereira
Lima, Joaquim José de
Lisboa, José Antônio
Lobo, José Geraldo Soares
Lopes, Elias Antônio
Lopes, Manuel Domingues
Loureiro, Domingos Alves
Loureiro, Domingos Duarte
Loureiro, Tomas
Luz, Antônio da
Luz, Antônio Teixeira Pinto
Luz, João Alves da
Luz, José João da
Luz, José Joaquim da
Macedo, Diogo Teixeira de
Macedo, Domingos Teixeira de
Macedo, João Joaquim Teixeira de
Macedo, Joaquim Teixeira de
Magalhães, Francisco de Mello
Magalhães, Zeferino José Pinto de
Malheiros, Francisco Antônio
Malheiros, José Joaquim
Martins, Diogo Cândido
Martins, João Rodrigues
Matos, Fernando Joaquim de
Matos, Silvério José de
Medeiros, Antônio José de
Meireles, Antônio José
Melo, Duarte José de
Melo, Francisco José de
Melo, João José
Melo, José Antônio Vieira de
Mendes, Manuel Joaquim
Mesquita, Francisco Ferreira
Mesquita, Francisco Pedro de
Midosi, Guilherme
Moreira, João Batista
Moreira, Joaquim Dias
Moreira, Manuel dos Passos
Mota, Fernando Joaquim
Mota, Fructuoso Luís
Mota, José Luís da
Mourão, Joaquim Martins
Neto, João Gomes
Nepomuceno, Simplício da Silva
Neves, Manuel José das
Oliveira, José Antônio de
Oliveira, Manuel Francisco de
Pacheco, José Emídio Adauto
Paiane, Diogo
Pedroso, Antônio José
Pedroso, Manuel de Carvalho
Pereira, João
Pereira, João Rodrigues
Pereira, Joaquim José
Pessoa, José Henrique
Pinheiro, Constantino Dias
Pinto, Antônio Clemente
Pinto, Antônio José Pereira
Pinto, Joaquim Babo
Pinto, Manuel Guedes
Pintzaunner, Firmo Antônio
Porto, Antônio Alves da Silva
Porto, João Alves da Silva
Portugal, José Antônio Marques
Pupe, Manuel Gomes
Ramos, Custódio Francisco
Rego, Lourenço Antônio do
Ribas, João Rodrigues
Ribeiro, Antônio Coelho
Ribeiro, João
Ribeiro, José de Carvalho
Rocha, Antônio Ferreira da
Rocha, Francisco José da
Rocha, Joaquim Ferreira da
Rocha, Joaquim José da
Rocha, José Ferreira da
Rocha, José Francisco da
Rodrigues, Custódio
Rodrigues, Jerônimo
Rodrigues, José Ventura
Rodrigues, Tomas Raimundo
Sá, Domingos de Carvalho
Sá, José Bernardino de
Sá, Manuel Teixeira da Costa e
Salazar, Francisco José Fernandes
Santos, Albino Mariano dos
Santos, Félix José dos
Santos, Francisco José dos
Santos, João Ferreira dos
Santos, Joaquim Antônio dos
Santos, José Francisco dos
Santos, Manuel Cardoso dos
Seixas, Valeriano José de
Silva, Amaro Velho da
Silva, Antônio José de Oliveira e
Silva, Domingos José da
Silva, Firmino José Gonçalves da
Silva, Francisco Correia da
Silva, João Antônio de Oliveira
Silva, João Pereira da
Silva, João Ribeiro da
Silva, João Soares de Oliveira
Silva, José Antônio de Oliveira
Silva, José Bernardes da
Silva, José Bernardino da
Silva, José Gomes de Oliveira e
Silva, José Inácio da
Silva, José Joaquim da
Silva, José Jorge da
Silva, José Leite da
Silva, José Pinto Ribeiro da
Silva, José dos Santos Almeida Silva,
Manuel Pacheco da
Silva, Manuel Teixeira da Costa Siqueira, Joaquim José
de
Soares, José Nogueira
Soares, Manuel José da Costa
Sobrinho, Joaquim José da Rocha
Souza, Carlos Adolfo de
Souza, Domingos Carvalho de
Souza, Jorge José de
Souza, José Rabello de
Souza, Luís Inácio
Souza, Manuel Pereira de
Tavares, (José) Inácio
Teixeira, Antônio José
Teixeira, Gregório José
Tinoco, José Tomé Ferreira
Vale, João Gomes
Vasconcelos, Manuel Joaquim Mendes
Velho, Amaro
Velho, Leonarda Maria (baronesa de Macaé)
Viana, Bernardo Lourenço
Viana, Francisco Vicente Ferreira
Viana, João Martins
Viana, João Martins Lourenço
Viana, João Rodrigues de Araújo
Viana, Manuel Gonçalves
Vidal, João Alberto
Vidal, João Alberto de Almeida
Vidal, José Ferreira
Vieira, João Batista Luís
Vieira, José Inácio Vaz
Se avaliarmos pelos nomes, todos
estes ‘bravos’ traficantes de escravos eram portugueses e brasileiros, até
mesmo porque o Brasil-colônia, até 1808, era fechado para o mundo, exceto
para portugueses. Nem vamos falar de ciganos, pois, eles não tinham cacife
para traficar. É açodado o que indica um indivíduo como cigano. Entretanto,
alguns espertos de outras nações/etnias poderiam ter adotado nomes
lusitanos, para facilitarem seus negócios. Ora direis:
Os ciganos são useiros e vezeiros em
adotar nomes e pseudônimos. Concordamos plenamente. Os ciganos costumam
adotar até três nomes. i) o primeiro é soprado ao ouvido da criança ao
nascer e serve para protegê-lo dos malefícios; ii) o segundo é para ser
usado junto a seus irmãos de etnia; e iii) o terceiro é para se relacionarem
com os não ciganos (o mundo dos gadjês). E é Richard F. Burton, o homem que
sabia 28 idiomas incluso o romani, nos diz em seu livro
que escreveu sobre o
Brasil, que os ciganos adotavam nomes de fantasia (fancy)
como Esmeralda, Topázio, Safira e outros, bem como tomavam emprestados nomes
de árvores, plantas e de animais. (The
Jew the Gypsy and El Islam — 1898, p. 295).
Então,
poderemos admitir encontrar ciganos com nomes portugueses como os antes
listados. E não contestamos. Porém, afirmamos também que judeus e/ou
cristãos novos adotavam nomes portugueses (principalmente de árvores:
Pereira, Macieira, Oliveira e outros) para fugirem às perseguições
religiosas. Isto é incontroverso. Assim vamos combinar: traficantes foram
majoritariamente portugueses, brasileiros e principalmente judeus. Elias
Antônio Lopes, traficante cristão-novo, presenteou D. João VI com um
palácio, em 1808. Note-se que não queremos estigmatizar os judeus em
benefício dos ciganos, nosso desejo é adotar o princípio fundamental de
direito Unicuique suum = O seu a
seu dono.
Em 1810, na Companhia de Seguros
(CAIXA), dos 38 diretores e acionistas, 19 foram traficantes de escravos.
[Ver Almanaque do Rio de Janeiro para o ano de 1811, in
RIHGB, p.
207/208]. Mas temos outras relações oriundas de cansativas pesquisas na
Biblioteca Nacional e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
Citamos as pesquisas em obras raras da FBN que são: II-34-27-15; 25B, 5Bis,
36-38; 26, 4,112; 99D- 17-9; II 34-26-19; e o
Almanak Laemmert de 1844, 1847,
1849, 1852, in
RIHGB.
Todas estas pesquisas nos levam aos escravistas portugueses e brasileiros. E
para provar a simbiose e a promiscuidade entre escravocratas e o poder,
leia-se Sebastião Fábregas Serigué, in
Almanak Geral do Império do
Brasil (1836-1838), sob cód. 25B,
5Bis, 36-38. Lá estão os escravagistas: Antônio Gomes Barroso e José Alves
Pereira, como viadores. = Antigo
empregado superior da casa real que servia a rainha. (Novo Aurélio, séc.
XXI) e Braz Martins da Costa Passos, como
definidor. = Nas antigas cortes,
procurador eleito pelos seus pares para representá-los. (Houaiss).
Em
seguimento, vamos cotejar a listagem supramencionada, de Manolo Florentino,
com o manuscrito coligido por nós na Biblioteca Nacional, classificado
assim: II-34-27-15. Para que não se torne cansativa leitura,
apenas registraremos os nomes dos que não foram listados por Manolo
Florentino. O rol original contém 41 traficantes; aqui, pomos os 22 novos.
Custódio de Souza Guimarães
Manuel Caetano Pinto
Marcos Martins
Narciso Luís Alves Pereira
Manoel Gomes Ventura Fernandes
Frutuoso José da Cruz
Bento Antônio Moreira Muniz
Joaquim Antônio Jussuá
João Luís de Figueiredo
Manoel Gomes de Carvalho
José Gomes Pupe Correia
Antônio Fernandes de Souza
Manuel Gomes Cardoso
José Antônio Fernandes de Sá
Antônio Senra da Rocha
João Lopes Batista
João de Araújo Silva
João Inácio Tavares
Francisco Antônio de Barros
Manuel Paes de Azevedo
Francisco Luís de Almeida
João Soares de Oliveira
O manuscrito código II-34-26-19 trata de representação
de negociantes, proprietários, consignatários e armadores de resgate a
escravos para constituição de um Lazareto. [Seria um armazém central, na
Gamboa, que centralizaria todos os escravos recém-vindos, para serem
lavados, vestidos, tratados e redistribuídos para outros armazéns do Valongo].
Neste caso, não confrontamos com listagens anteriores,
logo alguns nomes serão velhos conhecidos.
Antônio Serra da Rocha
João Inácio Tavares
Antônio Joaquim Maia
Joaquim Ribeiro de Almeida
Francisco Pereira de Mesquita
Francisco José da Rocha
José Marcelino Rodrigues
Joaquim Antônio Jussuá
Bernardo Luís Viana
Francisco José Fernandes Salazar
Domingos Vaz de Azevedo
Manoel Antônio Coelho
Manoel José Ribeiro de Oliveira
José Antônio Fernandes de Sá
José Domingues
Carlos José Moreira
Francisco J. Fernandes Barbosa
Antônio Gomes Barroso
Antônio João da Costa Barbosa
José Inácio Vaz Silva
Antônio Cunha
Fernando Joaquim S. Mattos
Joaquim José da Rocha
José Francisco do Amaral
Frutuoso José de Almeida
José Ribeiro da Silva
Manoel Guedes Pinto
Luís de Souza Dias
João Alberto de Almeida Vidal Cunha
Manoel José da Silva
Manoel Gomes Cardoso
Manoel Gomes de Azevedo
Joaquim José Cardoso Guimarães
José Luís da Mota
Francisco Ferreira de Sampaio
Luís Antônio Fernandes Barbosa
João Fernandes Lopes
Os que se seguem, foram contra a
petição:
José Antônio Fernandes de Sá
José Roiz Borges
Francisco Joaquim Ferreira
Francisco Antônio de Barros
Joaquim Antônio Jussuá
Bernardo Lourenço Viana
Custódio Rodrigues Guimarães
Jerônimo José de Oliveira Guimarães
Francisco Xavier Dantas Moreira
João Ribeiro da Silva
O manuscrito classificado 26-4-112 é uma petição para que os
escravos sejam desembarcados imediatamente e foi assinado pelos seguintes
escravistas:
José Luís Alves; Francisco Pereira de Mesquita; Manoel
Caetano Pinto; Marcos Martins; Narciso Luís Alves Pereira; João Gomes Valle;
Manoel Gomes Pereira; Frutuoso João da Cruz; Bento Antônio Muniz; Joaquim
Antônio Jussuá; João Luís Brígido; Manoel Carlos de Carvalho; José Gomes Porto
Carreiro; Antônio Fernandes Torres; Amaro... Barbosa; Francisco José Hernandez;
João e Al... Gomes; Antônio Serra da Rocha; José Alberto Serra Vidal; João Lopes
Batista; João de Araújo Silva; João Inácio Tavares; Francisco Antônio de Barros;
Manoel Paes de Azevedo; Francisco J. Fernandes Barbosa; Francisco G. da Costa
Campos; Manoel S. Batista; Francisco Luís de Almeida; João Soares da Silveira;
José P. Guimarães; Manoel S... de C...; Joaquim José da Rocha; Francisco José da
Rocha; Custódio de Souza Guimarães; Antônio Gomes Barroso; Manoel Gomes Barroso;
Fernando Carneiro Leão; João Gomes Barroso; Amaro Velho da Silva; Bernardo
Lourenço Vianna; José Antônio Souza da Silva; Antônio J. Castelo Barbosa;
Francisco José...; João Alves S. Guimarães; Antônio S. Rocha; José Inácio
Tavares.
Para que
não percamos de vista nosso objetivo:
onde estão os ciganos? Ora direis: estas listas são de comerciantes de
grossa aventura, os ‘atacadistas’. Os ciganos, porém, ficariam com o retalho, ou
varejo, ou miudezas. Mas sobre este dilema escrevemos o livro,
Brumas da história, ciganos e escravos a
verdade. Cuja síntese está em Revista
do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro
(RIHGB), Rio de Janeiro, a. 163, n. 417, pp.11-60, out./dez. 2002. Se não vos
convencemos até aqui, que mais podemos fazer?
Uma promessa queremos fazer a todos açodados que envolverem
ciganos com o escravismo: Vamos conferir tudo, submeteremos ao microscópio mais
poderoso nossa análise e se improcedentes forem as afirmações, iremos
contestá-las.
Pedimos licença para, mais uma vez, citar Haroldo Ceravolo
Serezo que com muita lucidez disse:
“Debret coloca em duas de suas
pranchas ciganos no comando do negócio de escravos, o que é um pequeno delírio
histórico — ou porque Debret não viu o óbvio, ou seja, que a elite brasileira
comandava o negócio, ou porque o óbvio não podia ser visto.” (Haroldo C. Sereza,
é Jornalista, escritor, crítico literário in Estado de São Paulo, caderno 2, de
6/1/2002).
* 1ª
edição em 1886, B. L. Garnier.
[1] Esta
nota é número 9 no texto de Mello Morais Filho e diz assim: Não era a
primeira vez que os ciganos tomavam parte, oficialmente de festas
protocolares. O Barão de Eschwege, BRASILIEN DIE NEUE WELT, II, 55 narra
a participação entusiasta de um grupo cigano na comemoração pública
quando do casamento da princesa D. Maria Teresa, primogênita do Príncipe
Regente, com seu primo, Infante de Espanha, D. Pedro Carlos, a 13 de
maio de 1810. Eschwege informa: — “Os ciganos foram convidados para as
festas dadas na capital brasileira por ocasião do casamento da filha
mais velha de D. João VI com o infante espanhol. Os moços desta nação,
trazendo à garupa suas noivas, entraram no circo montando belos cavalos
ricamente ajaezados. Cada par pulou no chão, com incrível agilidade, e
todos juntos executaram os mais lindos bailados que eu jamais vira.
Todos só tinham olhos para as jovens ciganas e os outros bailados que
também executaram pareceram ter tido por único fim fazer sobressair os
dos ciganos como os mais agradáveis”.
[2]
Corresponde à nota de rodapé número 11 no livro citado. A Joaquim
Antônio Rabelo, sargento-mor do 3o regimento de milícias da corte, foi concedida a mercê de
melhoramento de reforma no posto de tenente-coronel; e nomeados alferes
agregados das Ordenanças da corte, José Cardoso Rabelo, Manuel Laço,
Antônio Vaz Salgado, Fernando José da Costa, José Luís da Mota, Baltazar
Antônio Policarpo e João do Nascimento Natal.
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