Matéria Especial Benficanet - 26/10/2017
 
REZEM POR NÓS

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Não há céu sem tempestades, nem caminhos
sem acidentes. Não tenha medo da vida,
tenha medo de não vivê-la intensamente.
(Augusto Cury)

 

─ Mais um drinque?

─ Acho que não devo, ainda vou dirigir muito.

─ Só mais um daiquiri.

─ OK.

Um daiquiri, mais um, mais um uísque e o tempo passou. Passava das três da manhã.

─ Meninas! Está na hora, vamos!

O carro, um possante Hyundai, os esperava no estacionamento do hotel, onde dois amigos e respectivas esposas passaram um agradável fim de semana, nas cercanias de Juiz de Fora.

Bem que os hospedeiros tentaram inutilmente que ficassem.

─ Pessoal, esperem o canto do sabiá!

─ Não vai dar! Temos contrato substancial a assinar às 9 horas.

Saíram na matina da noite escura... e pegaram a BR-040. Os dois amigos que estavam sentados à frente, puxaram o cinto de segurança e se mandaram. A viagem corria tranquila; na madrugada o trânsito era escasso. A escuridão escondia o perigo, mas o que tem que ser tem força...

Em Itaipava foram parados numa “blitz” da Polícia Rodoviária Federal.

─ Documentos, por favor! Pediu um patrulheiro.

O motorista sacou sua carteira e outros documentos entregando-os ao policial que, ao se curvar para apanhá-los, observou que as damas, no banco de trás, não usavam o cinto de segurança.

─ Que pena! Vou ter que multá-los pela falta de uso do cinto.

─ Ah, seu guarda, alivia! Estamos guiando seguro e devagar.

─ Tá bem, desta vez passa, mas ponham o cinto, adiante há mais patrulhas e a estrada hoje está perigosamente molhada. Lembrem-se de que por falta de cuidado a vaca atolou no brejo.

─ Deixa comigo “seu” guarda, obedeceremos a suas ordens.

“Eram duas ou três?” –– murmurou o guarda, sensitivo.

Partiram alegres e quase responsáveis, pois estavam na faixa dos trinta anos. E se foram estrada afora relembrando os bons momentos que passaram na fazenda, nas cavalgadas, na experiência de ordenhar as vacas, no debulhador de milho, e levando o milho ao moinho para moer; saudades dos saraus, serestas e a gostosa comida mineira. Doces dias, encantadores dias, inesquecíveis mesmo. Todos os passageiros estavam razoavelmente bem de vida; um deles e a esposa eram donos de uma firma de informática muito conceituada: LX-Sistemas, com sede no Rio de Janeiro.

A terceira dama portava uma gadanha...

...E seguiram "numa boa", principalmente o motorista, porque o guarda não lhe pedira para fazer o teste de consumo de álcool com o tal bafômetro.

Tudo bem, contudo as mulheres no banco traseiro continuaram sem o cinto ou se esqueceram dele, como recomendara o Federal.

Coisas ruins acontecem...

Na altura da Serra de Petrópolis havia forte cerração, tanto assim que o motorista teve de pôr a cabeça para fora do carro e tentar se guiar pela lista branca de tinta que demarcava as duas pistas, no asfalto. O ponteiro do velocímetro caiu de 110 para 90 km... mas ainda era muito.

...Havia água na pista.

De repente...

Aquaplanagem.

O chofer tentou em vão dominar o carro. O volante enlouqueceu e girou contra os desejos do condutor. O carro desgovernado foi à direita e bateu no guard rail: crás atravessou a estrada e voou à esquerda: baum, na mureta de cimento, que separava as pistas. Num relâmpago, capotou três vezes e retomou a posição normal, como se nada tivesse acontecido. Água e óleo corriam desamparados no asfalto, em direção à calha de escoamento.

A lataria dos dois lados estava completamente amassada e as portas voltadas para dentro. Eis que os ocupantes, da frente, conseguiram desfivelar os cintos e saíram sem ferimentos graves, exceto pelo estresse pós-traumáticos, porém...

─ Como estarão nossas esposas?

Perguntaram-se uníssono.

Olharam no interior, elas não estavam. O vidro traseiro desaparecera, ficara o buraco tal boca escancarada. Assustados perquiriram o entorno procurando-as e...

Tragédia, terror...

Uma estava agonizante na valeta ao lado do parapeito da estrada, e a outra fora atirada ao longe, num declive, sobre estrada vicinal, paralela à BR 0-40.

Rezem por elas.

E a terceira?... desapareceu...

Tempo de morrer...

O que diz nosso Deus? Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou... Eclesiastes 3:1-2

 
  
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