Não há céu sem
tempestades, nem caminhos
sem acidentes. Não tenha medo da vida,
tenha medo de não vivê-la intensamente. (Augusto Cury)
─ Acho que não devo, ainda vou dirigir muito.
Um daiquiri, mais um, mais um uísque e o tempo passou.
Passava das três da manhã.
─ Meninas! Está na hora, vamos!
O carro, um possante Hyundai, os esperava no
estacionamento do hotel, onde dois amigos e respectivas esposas passaram um
agradável fim de semana, nas cercanias de Juiz de Fora.
Bem que os hospedeiros tentaram inutilmente que ficassem.
─ Pessoal, esperem o canto do sabiá!
─ Não vai dar! Temos contrato substancial a assinar às 9
horas.
Saíram na matina da noite escura... e pegaram a BR-040.
Os dois amigos que estavam sentados à frente, puxaram o cinto de segurança e
se mandaram. A viagem corria tranquila; na madrugada o trânsito era escasso.
A escuridão escondia o perigo, mas o que tem que ser tem força...
Em Itaipava foram parados numa “blitz” da Polícia
Rodoviária Federal.
─ Documentos, por favor! Pediu um patrulheiro.
O motorista sacou sua carteira e outros documentos
entregando-os ao policial que, ao se curvar para apanhá-los, observou que as
damas, no banco de trás, não usavam o cinto de segurança.
─ Que pena! Vou ter que multá-los pela falta de uso do
cinto.
─ Ah, seu guarda, alivia! Estamos guiando seguro e
devagar.
─ Tá bem, desta vez passa, mas ponham o cinto, adiante há
mais patrulhas e a estrada hoje está perigosamente molhada. Lembrem-se de
que por falta de cuidado a vaca atolou no brejo.
─ Deixa comigo “seu” guarda, obedeceremos a suas ordens.
“Eram duas ou três?” –– murmurou o guarda, sensitivo.
Partiram alegres e quase responsáveis, pois estavam na
faixa dos trinta anos. E se foram estrada afora relembrando os bons momentos
que passaram na fazenda, nas cavalgadas, na experiência de ordenhar as
vacas, no debulhador de milho, e levando o milho ao moinho para moer;
saudades dos saraus, serestas e a gostosa comida mineira. Doces dias,
encantadores dias, inesquecíveis mesmo. Todos os passageiros estavam
razoavelmente bem de vida; um deles e a esposa eram donos de uma firma de
informática muito conceituada: LX-Sistemas, com sede no Rio de Janeiro.
A terceira dama portava uma gadanha...
...E seguiram "numa boa", principalmente o motorista,
porque o guarda não lhe pedira para fazer o teste de consumo de álcool com o
tal bafômetro.
Tudo bem, contudo as mulheres no banco traseiro
continuaram sem o cinto ou se esqueceram dele, como recomendara o Federal.
Coisas ruins acontecem...
Na altura da Serra de Petrópolis havia forte cerração,
tanto assim que o motorista teve de pôr a cabeça para fora do carro e tentar
se guiar pela lista branca de tinta que demarcava as duas pistas, no
asfalto. O ponteiro do velocímetro caiu de 110 para 90 km... mas ainda era
muito.
O chofer tentou em vão dominar o carro. O volante
enlouqueceu e girou contra os desejos do condutor. O carro desgovernado foi
à direita e bateu no guard rail: crás atravessou a estrada e voou à
esquerda: baum, na mureta de cimento, que separava as pistas. Num relâmpago,
capotou três vezes e retomou a posição normal, como se nada tivesse
acontecido. Água e óleo corriam desamparados no asfalto, em direção à calha
de escoamento.
A lataria dos dois lados estava completamente amassada e
as portas voltadas para dentro. Eis que os ocupantes, da frente, conseguiram
desfivelar os cintos e saíram sem ferimentos graves, exceto pelo estresse
pós-traumáticos, porém...
─ Como estarão nossas esposas?
Olharam no interior, elas não estavam. O vidro traseiro
desaparecera, ficara o buraco tal boca escancarada. Assustados perquiriram o
entorno procurando-as e...
Uma estava agonizante na valeta ao lado do parapeito da
estrada, e a outra fora atirada ao longe, num declive, sobre estrada
vicinal, paralela à BR 0-40.
E a terceira?... desapareceu...
O que diz nosso Deus? Tudo tem o seu tempo
determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de
nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se
plantou... Eclesiastes 3:1-2
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