A Associação de Moradores do
Bairro Benfica, gestão Benfica Bem Melhor, participou da última
conferência municipal de saúde, realizada entre os dias 24 e 27 de
junho, com os membros: Aline Junqueira, Paula Carpanez Corrêa,
Regiane Silva Caetano Caetano, Carlos Alberto Mendes e Joselito.
Aline diz que para eles, que não havíamos
participado dos encontros anteriores, ficou evidente que a sociedade
civil busca por melhorias no Sistema Único de Saúde, defende esta
conquista e tenta avançar. Mas também é difícil a participação
popular, seja por conta da apatia e descrença da sociedade nas
instâncias de representação democrática e seus líderes ou pela
demora do executivo em atender suas reivindicações. A constante
propaganda negativa do Sistema Único de Saúde, numa clara intenção
de privatização, algo que já acontece com os atendimento de
especialistas e laboratórios, dá visibilidade às falhas que não são
generalizadas e apaga a atuação dos bons profissionais e a
consciência do usuário de lutar pelos direitos de todos e não apenas
para "passar na frente". Somado a isso, a péssima gestão, que
desperdiça recursos públicos e desperdiça, ainda mais, o tempo das
pessoas que, neste caso, significa prolongar ou encurtar vidas, com
tantas idas e vindas, formulários mal preenchidos, esperas longas em
filas e judicialização.
A atenção primária, que é onde deve-se concentrar
as ações, parece ser constantemente boicotada, pela falta de
médicos, pelos horários limitados das unidades básicas de saúde,
pelas equipes incompletas, etc.
A atenção secundária (acompanhamento
especializado) se torna um privilégio diante da escassez de vagas.
Consultas demoram sete meses ou mais, motivando os usuários a
buscarem tratamento em planos populares que oferecem descontos mas
que não atendem o paciente em toda a complexidade do seu tratamento.
Este desserviço privado só serve para extorsão do dinheiro da
população que acredita encurtar um caminho e volta para a fila do
SUS.
Somado a isso, falta informação. O usuário não é
protagonista da sua saúde e, muitas vezes, não recebe a
contra-referência porque o médico especialista quer criar uma
dependência da sua autoridade ou oferecer o seu atendimento privado.
As UPAs canalizam essa ausência do setor secundário mas em nada
contribuem porque "não é sua obrigação". E assim uma pessoa entra
uma vez com dor de barriga, sai com receita de buscopan, e volta com
apendicite supurada.
Entre as intervenções que mais chamaram a atenção
na conferência, Aline destaca a de Mohamed, médico do Mais Médicos
que, demonstra a completa irracionalidade em vários procedimentos
com relação ao sistema, entre eles: a preferência de encaminhamentos
de alguns médicos em detrimento de outros, a ausência de
contra-referência, a mania de fazer o paciente voltar ao posto
médico para reiniciar o agendamento de cada procedimento, o
judiciário intervindo favorável à indústria farmacêutica, obrigando
o estado a comprar remédios que ainda estão em fase de
experimentação, a politização - no sentido clientelista - do
atendimento.
Se o dinheiro é insuficiente, o saco sem fundo parece ser do
atendimento da urgência e emergência (terciário) que é controlado
pela iniciativa privada, basicamente, com os serviços complementares
oferecidos pelos hospitais. Este grupo - os donos de hospitais com
participação em instituições filantrópicas que prestam serviços ao
SUS - não precisam ir a conferências.
A fala do Dr. Rodrigo de Barros, promotor,
ilustra essa afirmação. Do sistema de oferta de vagas, quando houve
uma visita de leitos, descobriu-se que 60% estavam irregulares. Uma
exemplo gravíssimo é de um paciente que segundo o registro estava há
um ano no leito da UTI e, na verdade, já havia recebido alta há
meses. Ou seja, o SUS (leia-se eu, você e todo mundo) pagamos por um
leito vazio em um hospital desta cidade e centenas de pessoas
deixaram de utilizá-lo.
É engraçado que, enquanto o nosso sistema parece
deteriorar-se, hospitais privados não param de expandir e o
adoecimento geral se torna uma fonte de lucro inesgotável. Diante
disso, não podemos desanimar, temos é que falar claro e alto, que
queremos aperfeiçoar nosso sistema, que queremos o dinheiro público
para a nossa saúde pública ter qualidade e que os barões da saúde
privada também paguem pelos seus crimes com a vida de tantas
pessoas. Finaliza Aline Junqueira - presidente da Associação de
Moradores do Bairro Benfica. |