Ato-arte na praça CEU contra a redução da
maioridade penal - 22/07/2015
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No último domingo (19), o Centro de Cultura e Esportes Unificado (CEU)
da Zona Norte recebeu um ato-arte em defesa da vida da juventude e
contra a redução da maioridade penal. A ação reuniu vários grupos e
coletivos de jovens que constituem o Fórum Regional Contra a
Redução da Maioridade Penal. "O objetivo do ato é mostrar para
a sociedade que a juventude pode e faz muita coisa boa e é fundamental
para o desenvolvimento do país. Não é necessário encarceramento, mas
investimentos no seu potencial positivo", afirma Priscila Alves
Fraga, 22 anos, estudante de Letras da UFJF, integrante do
Fórum.
Várias oficinas aconteceram simultaneamente: confecção de pipas,
amarração de turbantes, rap em cartaz, estêncil, grafite e produção de
um fanzine sobre a realidade da juventude. O Núcleo de Assessoria
Jurídica Popular (Najup) fez um tira-dúvidas sobre os
Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA). "Por meio de dinâmicas,
pretendemos quebrar preconceitos e informar as pessoas sobre o
judiciário quando se trata de menores. O direito tem também uma
estrutura hierarquizada e excludente, por isso não vamos levar a Lei,
mas construir, com as pessoas conhecimento sobre ela", comenta
Gabriela Cavalcanti, 20 anos, estudante de direito que
participa do núcleo.
Durante todo o dia, a quadra esteve ocupada com os jovens do Basquete.
"Acho que essa ação é legal porque vai mostrar que a gente não é
violento e que ninguém nasce violento, basta ter um espaço aberto, com
estrutura para os jovens, que ocupamos", ressalta
João Arthur Martins Barbosa, 16 anos, estudante de
edificações no IFET e membro do time Spider.
O movimento contou com o encontro de MCs e dança de rua. Os
participantes do Rap Costa Norte fizeram uma batalha.
Eles já se reúnem todos os domingos na praça e acreditam que essa é uma
alternativa para a juventude da periferia em vez da redução da
maioridade. "Quanto mais oprime, mais os jovens vão reagir com
violência. Aqui mostramos que a rua não é só feita de crime, mas de
cultura e união", conta
Carlos Magnum Reis Ferreira, 23 anos, conhecido como
MC Mandella. Ele mora na região e trabalha.
"A escolha da praça CEU para abrir uma série de atos é justamente para
dar visibilidade ao que consideramos fundamental para diminuir a
violência. Aqui temos um equipamento dirigido ao público jovem e várias
atividades cotidianamente. O espaço é compartilhado com a comunidade e
foi apropriado pela juventude, o que é muito positivo. Às vezes, o poder
público afirma que o custo de um projeto como este é muito alto, mas e o
custo das vidas em jogo e do sistema carcerário? A maioria dos jovens
infratores abandonaram os estudos e não tem ensino médio, já que não
possuem projeção de ensino superior e precisam de algo imediato pra
ajudar as pagar as contas em casa. E quando cometem uma primeira
infração, eles não tem um suporte da assistência social como deveria e
nenhum acompanhamento pra tentar mudar esse caminho. Resolveram
criminalizar toda a juventude... Quem fez esta sociedade pra eles?
Porque eles estão mais violentos? Será que não é toda a sociedade que
está mais violenta? Como as armas chegam nas mãos deles?", questiona
Aline Junqueira, presidente da Associação de Moradores do
Bairro Benfica (AMBB).
"O Brasil precisa incentivar suas crianças com projetos, integrando
atividades aos estudos para que elas não se afastem das escolas por
falta de interesse. O encarceramento não vai melhorar a juventude e
reduzir violência no país. Aqui mesmo na Zona norte de Juiz de Fora
temos o 'Cerespinho', por exemplo, que deveria estar de fato recuperando
os jovens infratores, oferecendo atividades, oficinas de aprendizado,
permitindo que eles retornassem à sociedade dispostos a seguirem um rumo
diferente, no entanto não estamos vendo isso.", diz Márcio da
Silva, 27 anos, estudante de música, morador do bairro
Democrata, que soube da mobilização e quis participar por acreditar que
a mudança poderia vir do investimento na educação, nos espaços culturais
e esportivos.
Conversando com Sueli, moradora do bairro Nova Era, que
acompanhou seu filho Matheus Crispin de 13 anos,
estudante da sétima série, voluntário na oficina de confecção de pipas,
ela disse que a família também é muito importante no direcionamento dos
filhos, sempre orientando, corrigindo e procurando além da escola, dar
ocupações com atividades saudáveis. "Porque os adolescentes sempre estão
em grupo e uma ideia errada pode comprometer aquele que não tem essa
base familiar. É o que infelizmente acontece com muitos.", comenta
Sueli. Perguntando ao Matheus porque ele estava ali ensinando aquelas
crianças a fazerem e a soltarem pipa, ele respondeu que ele gostava de
saber que poderia ensinar, já que alguém um dia o ensinou.