1
“Senhores turcos, piedade,
para a pobre ciganagem!
Foi contra nossa vontade
que ela pegou em armas,
para lutar, obrigada,
enfrentando vossas forças.
2
Piedade! A lua vos guarde,
Maomé viva mil anos,
que os males vos abandonem,
que Deus nos castigue agora,
se temos alguma culpa,.
Nos aprouve uma desgraça.
3
A culpa toda é de Vlad,
eu Deus lhe dê o castigo!
Ele nos pôs nesta empresa.
A ciganagem no mundo,
só quer paz, e lhe juramos
a luta não nos agrada...”
4
O príncipe Vlad notou
a covardia dos ciganos
e ordenou aos soldados
que logo entrassem em ação;
pronto soaram as trombetas,
era iminente a chacina.
5
Ao verem isto os ciganos
paralisaram-se em medo,
enquanto um cai desmaiado,
vê-se outro petrificado,
uns choram, soluçam outros,
dir-se-ia o fim do mundo. |
6
Todos perdem a compostura,
menos Neico, sempre firme,
embora com muita tristeza,
mas assim mesmo abre a boca
e então começa a falar
com expressão de esperança:
7
“Arre! Não dêem atenção
à covarde alma cigana,
fiquem com nossas riquezas,
só nos deixem nossa roupa,
mas para nosso consolo,
poupai-nos mulher e filhos.
8
Também na Turquia, sabem,
vivem os ciganos de esmolas,
trabalham, pagam os impostos,
mas se armarem e combaterem,
a isso foram forçados!
Perdão, vos proteja a Virgem!
9
E honestamente falando,
que hão de lucrar nos matando?
com filhos até de colo
ficarão nossas viúvas,
nós morreremos, é justo,
eterna será sua dor.”
10
Vlad, o Voivoda, não pode
conter o riso em seus lábios.
Igualmente a soldadesca
também começa a se rir
da ciganagem covarde
que gabara valentia.
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11
Neico queria falar,
Vlad cortou-lhe a palavra:
“É assim covardes, sem brio,
que vocês defendem a pátria?
E dei-lhes armas comida
e roupa, corvos malditos.
12
Pois desta vez lhes perdoo,
mas se isto repetir,
eu enforco a ciganagem!
não gosto de brincadeiras,
diz isto, Vlad, o Voivoda,
o que agora lhes fala!”
13
A ciganagem estonteada,
consciente da cilada,
entreolhava-se espantada
do disfarce dos monteses...
E enquanto se atormentavam,
Neico retoma a palavra:
14
“Perdoai-nos majestade!
Não temos culpa alguma,
quem iria advinhar
uma tal coisa — ora vejam,
os montanheses vestidos
como turcos. É de pasmar!
15
Se nós tivéssemos visto
que não sois turcos, é claro,
que nem sequer um menino
teria medo. E depois,
nem se fala o que faríamos,
ser valentes provaríamos...” |