REIS CIGANOS
Parte I

por Asséde Paiva[1]
Rev. Acir Reis

postado no Benficanet em 15/08/2017

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Que rei sou eu?
Sem reinado e sem coroa,
Sem castelo e sem rainha,
Afinal, que rei sou eu?!

Este trabalho é absolutamente impessoal e totalmente imparcial. Não nos move outro objetivo senão informar aos leitores e leitoras sobre um assunto bastante controverso e ainda não esclarecido, qual seja da existência (ou inexistência) de reis ciganos, ao longo dos séculos ou milênios. Como não temos maior interesse do que registrar os fatos (ou lendas), tudo que pusermos aqui será opinião de outros escritores que abrigam uma ou outra opinião, seguram uma ou outra bandeira. Digladiam e não chegam a um denominador comum. Oxalá isso fosse possível, para o bem dos ciganos em geral.

Nós nos baseamos nas enciclopédias Britannica (1962); Grande Delta Larousse (1973); Espasa-Calpe (1925), p. 215-230; Mirador (1977); bem como nos grandes e respeitáveis antropólogos/pesquisadores/professores: Grellmann, Angus Fraser e Jean-Paul Clébert; e na jornalista Isabel Fonseca. Dentre os brasileiros citamos J. B. D’Oliveira China e Ático Vilas-Boas da Mota, que nos forneceram excelentes dados.

Vamos, para início de nossa conversa, ver o que se entende por rei, à luz da Grande Enciclopédia Delta Larousse (p. 5731):

Rei s.m. Chefe ou príncipe soberano de um reino. Pessoa que, em virtude de uma eleição ou por hereditariedade, exerce (em geral perpetuamente), ou tem o direito de exercer, o poder soberano; monarca. O rei concentra em sua pessoa todos os poderes de chefe de Estado. Fig. Que se destaca entre indivíduos de uma mesma classe ou espécie. Aquele que goza de poder absoluto. O mais importante produtor: o rei do petróleo; o rei do aço; o rei do gado etc. Folc. Imperador das festas de Espírito Santo. Ludol. Cada uma das quatro figuras de maior valor de um baralho.

Nesta mesma linha de pensamento: rei momo (no carnaval); rei do congo (nos congados); rei do futebol etc.

Alguns fatores inibem ou dificultam a existência de um rei cigano, citando-se: insubmissão, sentimento de independência, impermanência, nomadismo, dispersão, transnacionalidade, extraterritorialidade, amor à liberdade individual e do grupo, desorganização, desinteresse pelo passado e pelo futuro, diversidade do povo, grupalismo familiar, desconfiança das autoridades etc.

Entretanto, em sentido figurado ou metafórico (como definido na Enciclopédia acima), podemos aceitar a existência de rei dos ciganos, para isto basta ter liderança inata, honradez, competência, carisma, solidariedade, respeito às tradições, riqueza, bom relacionamento com autoridades do país onde está, fazer política e ser aceito e, sobretudo vontade. Rex eris, si recte feceris. (Horácio) = Serás rei, se andares direito.

Ser rei então é, paradoxalmente, muito fácil e também muito difícil: Basta querer e ser aceito.

Vamos então citar as passagens retiradas através de pesquisa em acervo imenso, esperando assim contribuir para que se resolva o dilema: Há ou houve reis ciganos?

Comecemos pelo livro de Isabel Fonseca[2], Enterrem-me em pé — a longa viagem dos ciganos, Companhia das Letras, 1995, p. 276, 315-20, 321, 322-7. Não transcreveremos tudo, mas aqui e ali, pinçaremos o que nos parecer mais importante.

P. 276 Naquela conversa dentro da tenda, mencionei o autoproclamado “rei dos ciganos romenos” Ion Cioaba, um rico Kalderash da Transilvânia, que havia falado muito pela imprensa sobre a restituição do ouro Kalderash. Eles pareceram se divertir com a idéia; ninguém seria capaz de convencê-los de que um dia tornariam a ver suas moedas. [....]

P. 318 Ao longo de todo período Ceausescu, Cioaba viajou constantemente ao exterior, o que só pode significar que tinha poderosos contatos com as forças de segurança. [....]. Ser senador, eleito ou inventado, não era grande coisa. Um doutorado era difícil de ser atribuído. E assim, em 1992, Ion Cioaba declarou-se rei dos ciganos romenos. Mandou fazer uma coroa de ouro e alugou a igreja ortodoxa de Sibiu para uma elaborada cerimônia de coroação. Mas houve disputa [....] Rudulesco [o primo] contra-atacou com a reivindicação de ser imperador de todos os ciganos de toda parte. Desde então os dois vêm disputando e emitindo reais — ou imperiais denúncias recíprocas.

P. 322 Os próprios ciganos jamais reconheceram reis. Líderes para disputas locais — os bulibasha, ou vojvoda, os shero rom e os baro rom (literalmente “grande homem”) — eram o máximo que qualquer grupo necessitava ou tolerava, e esses homens eram de fato mais juízes do que governantes. [....]

P. 323 Os Kalderash pareciam ter um talento especial para a função [rei]. Já haviam tentado estabelecer antes uma dinastia, no final dos anos 1920, na Polônia. Esses Kalderash, em particular uma família chamada Kwiek, estava, por sua vez, recobrando um velho papel. Em meados do século XVII, os reis ciganos eram apontados pela Chancelaria Real Polonesa e deviam representar (e cobrar impostos de) todos os ciganos nos territórios. [....]

P. 234 Os reis Kalderash se estabeleceram também fazendo alianças com entidades governamentais, assegurando assim privilégios sobre os ciganos poloneses, para os quais tal comportamento constituía impensável traição. Os Kwiek eram uma família de excepcional ambição e vários membros do seu vitsa (ou clã), comunicavam-se diretamente com a polícia oferecendo serviços em troca de reconhecimento como a mais alta autoridade cigana. Em 1937, milhares de pessoas, inclusive muitos diplomatas estrangeiros, compareceram à cerimônia de coroação de Janusz Kwiek, celebrada pelo arcebispo, em que o rei vestia um manto debruado de arminho (alugado na Ópera de Varsóvia).

O último Kwiek a deter algum poder foi Katarzyna Kwiek-Zambila, irmã do rei Janusz; até sua morte em 1961, ela deteve o respeito e a posição em geral reservados aos homens, inclusive, igual à Luminitsa[3], o privilégio de participar de um tribunal — o Kris.

A saga dos Kwiek é bem desenvolvida na Enciclopaedia Britannica, vol. 11, p. 43, 1962, de onde retiramos este resumo [Texto em inglês no anexo]:

Gregory Kwiek nasceu em 1856. Em 1883 declarou-se “Rei dos ciganos” e governou na Polônia. Em 1878 ou 1886, abdicou em favor do filho, que em 1928, tornou-se Miguel II, que foi coroado em Varsóvia, em 1930. Porém, o irmão Basil disputou-lhe o trono e um terceiro irmão, “fazedor-de-reis”[4], Matthew, voltou de Espanha para arbitrar a questão, escolhendo Basil e indicando Rudolf chanceler. Os irmãos Basil e Rudolf conspiraram para expulsar Miguel da Polônia. Em 1934, Miguel, após participar de um Congresso Cigano na Romênia, voltou e foi confirmado rei por um grupo em Lodz, mas temendo vingança, fugiu para Tchecoslováquia e não mais se ouviu falar dele novamente. Matthew foi assassinado em 1935 e Basil reinou, sem contestação, até que Rudolf transferiu seu apoio para outro irmão Janusz que, em julho de 1937, foi coroado Janusz I, “rei dos ciganos”, em grande estilo no estádio de Varsóvia, sob os olhos de 15.000 ciganos. Rudolf tinha, neste ínterim, renunciado qualquer direito ao trono, tendo em retribuição um posto de influência no gabinete. Os parentes foram agraciados com cargos. Ele se proclamou rei dos ciganos da Hungria, Espanha, Alemanha, Bulgária, Iugoslávia e Polônia. Planejava ir a Genebra pleitear um país para seu povo. Não conseguiu quorum entre seus membros para tal empreitada. Então, Kwiek demitiu o gabinete e o senado, e banqueteou com centenas de amigos, que lhe confirmaram o status “real”.

Bart McDowell, National Geographic Senior Editorial Staff, escreveu ótimo livro, editado pela National Geographic Society, Gypsies Wandering of the World, em 1970; à p. 15, lemos:

I tried to get Cliff Lee’s reaction to all the cliché questions people ask: Is there a King of the Gypsies? What’s the Gypsy religion like? Do they steal children?

[Quis conhecer a reação de Cliff Lee sobre três perguntas: Há um rei dos ciganos? Qual a religião dos ciganos? Eles roubam crianças?]

“As you know, there isn’t any king” said Cliff. “Oh, one man claimed to be, a few years back.” Cliff’s brow crease and his deep voice grated: “The world’s biggest un-hung charlatan. Now, mind you, if an old Gypsy man dies somewhere and his family wants a nice burial, they may tell the gorgios, non-Gypsies, he was a king-like a chief, you know”.

“That religion question — I was baptized a Roman Catholic in Ireland, and as a boy I went to church often, but only to other baptisms. The priests used to give a baptized child a bit of money. I recall once when I was a boy we went to eight churches one Sunday and got the same infant baptized each time. Different names in every church. A borrowed baby. But here in England most Gypsies are Church of England. Is Scotland, Presbyterian. And in Turkey, Moslems. We’re what the country is”.

“Now that story about stealing children. I keep hearing it, of course. But Gypsies have no shortage of their own. We’re a fertile people.”

Nós adicionamos os comentários sobre religião e crianças por serem assuntos que, vez por outra, vêm à baila, são recorrentes. E é bom que se diga que Clifford Lee é um cigano erudito, inglês (nascido em uma caravana). Agora, em nossas palavras o que foi dito acima:

Eis suas respostas:

[“Você sabe que não há nenhum rei”, disse Cliff. “Um homem autoproclamou-se rei, anos atrás”. Suas sobrancelhas vincaram e em voz profunda desabafou: “O maior charlatão, desmiolado do mundo. Agora, pense bem, se um velho cigano morre em algum lugar e sua família quer lhe dar um funeral decente, eles podem dizer aos não-ciganos que ele foi como um rei, um chefe, você sabe”].

[A questão religiosa é esta — eu fui batizado na Igreja Católica, na Irlanda, e como rapaz eu fui à igreja frequentemente, mas somente para outros batismos. Os padres costumam dar à criança batizada um dinheirinho. Quando rapaz retornei umas oito vezes em um domingo para batizar o mesmo menino, cada vez com diferentes nomes, em cada Igreja. Era um menino emprestado. Aqui, na Inglaterra, a maioria dos ciganos são anglicanos. Na Escócia, presbiterianos. E na Turquia, muçulmanos. Nós temos a religião do país onde estamos].

[Quanto à história de que roubamos crianças, eu a ouvi por aí, naturalmente. Os ciganos não precisam disto, temos nossos filhos. Somos um povo fértil].

Agora vamos transcrever ipsis litteris tudo que nos diz Jean-Paul Clébert[5], em seu livro Gypsies, sobre o tema (real) ou a ele relacionado, editado em 1963, por Vista Books, London, à p. 126:

Authority

The collective whole of the people called Gypsy is made up of fairly considerable number of different groups having as social ‘cement’ only Gypsy law. In actual fact, there is not, nor has there ever existed, a ‘king’ of the gypsies. This journalistic invention must be swept away, once for all. The press regularly tells us about the election of a king or a queen of the Gypsies or the Gitanos. And it is quite true that the gypsies themselves do not fall short in fostering the legend about such ceremonies; by this they gain something. Thus, in 1930, in Poland they unjustifiably crowned one Michael as a King of the Gypsies of Europe, a ceremony at which the President of the Polish Republic Thought fit to represented. In 1959, during the pilgrimage to Lourdes, a feather-brained blonde with the name Zarah cleverly represented herself as the future ‘Queen of the Gypsies’. As she readily distributed hard cash among the urchins in the camp, these and many adults did not require much pressing to hail her and confer this envied title. The previous year reporters of the biggest newspapers attended the funeral of Mimi Rosseto, ‘the one and only Queen of Gypsies’, had died after days old death-pangs at Lendinara in North Italy. It was really a case of an old Gypsy woman of the Piemontesi tribe, whose precise role was that of phuri dai, that is, wise adviser, who was highly respected by the whole tribe.

When old texts describe the Gypsies who were led into Europe by dukes and counts, the authors merely employ the titles in use during their epoch. These ‘dukes’ and ‘counts’ were in facts tribal chiefs.

Indeed, each Gypsy tribe (vitcha), whose importance can vary from ten to several hundred tents or caravans (the equivalent of so many households), recognizes only the authority of a chief elected for life (the responsibility is never hereditary) because of his intelligence, strength and feeling for justice. He is nearly always a man getting on in years. His authority embraces the whole tribe. He has the right to inflict corporal punishments and to pronounce measures of exclusion. He presides over the council of elders and does not have to render accounts to anybody. Chiefs of tribes are equal among themselves; there is no hierarchy based on the importance of the tribe. It is the chiefs who decide about migrations. In principle they are the responsible persons of their group; they are likewise sometimes treasurers of the community.

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The phuri dai is the feminine version of the tribal chief. She is generally a very old woman, whose power, however unofficial and concealed it may be, is not less than real. Her influence is exercised on women and children especially, but the council of elders, indeed the chief himself, does not disdain to take her advice in delicate matters. She is called Bibi or ‘aunt(-ie)’. In the role of phuri dai very clear traces are found of the old Gypsy matriarchy.

Tradução livre:

Autoridade

[O conjunto completo do povo cigano é feito de uma grade considerável de diferentes grupos, tendo como cimento social somente a lei dos ciganos. De fato, não há, nem jamais houve um “rei” dos ciganos. Esta invenção jornalística deve ser varrida para sempre, de uma vez por todas. A imprensa regularmente fala-nos da eleição de um rei ou rainha dos ciganos ou gitanos. E é bem verdade que os próprios ciganos alimentam a lenda acerca dessas cerimônias, pois eles ganham alguma coisa. Assim, em 1930, na Polônia, eles injustificadamente coroaram Miguel como Rei dos ciganos da Europa, numa pompa que até o presidente da Polônia mandou representante. Em 1959, durante a peregrinação a Lurdes, uma loura frívola, chamada Zarah, inteligentemente apresentou-se como a futura ‘Rainha dos ciganos’ e, como ela prontamente distribuiu dinheiro vivo para a garotada no campo, eles e muitos adultos não exigiram muita pressão, a saudaram e lhe conferiram o título invejável. No ano anterior, repórteres de um grande jornal assistiram o funeral de Mimi Rosseto, ‘a única e somente ela rainha dos ciganos’, que morreu após alguns dias de agonia, em Lendinara, no norte da Itália. Foi um caso real de uma velha cigana da tribo Piemontesa, a qual exerceu o papel preciso de uma phuri dai que foi sábia conselheira, e muito respeitada por toda tribo].

[Quando velhos textos descrevem ciganos que foram guiados até à Europa por ‘duques’ e ‘condes’, os autores meramente empregam os títulos usados durante aquela época. Aqueles ‘duques’ e ‘condes’ eram, de fato, chefes de tribo].

[Na verdade, cada tribo cigana (vitsa), cuja importância pode variar de dez a muitas centenas de caravanas (o equivalente a muitas residências), reconhece somente a autoridade do chefe eleito enquanto viver (a responsabilidade nunca é hereditária) por quê: inteligência, força e sensibilidade para a justiça são inerentes ao indivíduo. Ele é sempre avançado em anos. Sua autoridade abrange a tribo inteira. Ele tem o direito de aplicar punições corporais e ditar medidas de exclusão. Ele preside o conselho dos mais velhos e não presta contas a ninguém. Chefes de tribos são iguais entre eles; não há hierarquia baseada na importância da tribo. É o chefe que decide as migrações. Em princípio, é a pessoa responsável pelo seu grupo; eles são também, às vezes, tesoureiros da comunidade].

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[A phuri dai é a versão feminina do chefe da tribo. Ela é geralmente uma mulher velha, cujo poder, embora oficioso e oculto, não é menos real. Sua influência é exercida especialmente sobre mulheres e crianças, mas o conselho dos mais idosos, na verdade o chefe, não desdenha em pedir seu conselho em matérias delicadas. Ela é chamada ‘Bibi’ ou ‘Tia’. No papel da ‘phuri dai’ há traços claros do antigo matriarcado cigano].

Vamos colocar aqui, também de Clébert, excerto do mesmo livro, às p. 128 e 129, o capítulo sobre matriarcado, que se confunde e se mistura com o patriarcado, dito predominante entre os ciganos.

It is not easy to clarify the situation in regard to the matriarchal régime mentioned above. In any case it is certain , as Martin Block reports it, that kinship was formerly counted by lineage through the mother. Traces of this custom remain, this author says, among the gypsies of Southern and Eastern Europe. When a man marries a woman, he ‘enters’ her family, and returns to his own the moment he becomes a widower. But as marriages generally occur within the same tribe, it seems that this basic matriarchy has only a secondary importance. However, among some tribes, children who are the offspring of different groups speak the mother’s dialect, and not that of the father.

In actual practice, the precise nature of consanguinity, whether it he by descent through the mother or the father, is a minor question; the interesting fact is that the essential nucleus of the Gypsy organization is the family. Authority is held there by father who, in the family, plays a role similar to that of tribal chief. As for the woman, on the family scale she is the phuri dai: her power is unofficial and occult, but it is often of solid and undeniable reality. One example will suffice to show the cohesion of family. As Jules Bloch says, ‘property belongs to the family and not to the individual.’

[Não é fácil clarificar a situação concernente ao regime matriarcal mencionado. Em qualquer caso, é certo como Martin Block registra, é que parentesco foi antigamente considerado pela linhagem da mãe. Traços deste costume permanecem, diz o autor, entre os ciganos do sul e do leste da Europa. Quando um homem casa, ele entra na ‘família dela’, e retorna a sua desde quando se torna viúvo. Mas como casamentos geralmente ocorrem na mesma tribo, parece que o matriarcado básico tem importância secundária. Contudo, entre algumas tribos, as crianças que se tornaram órfãs de diferentes grupos, falam o dialeto da mãe, não o do pai].

[A prática atual, a natureza precisa da consangüinidade, se é descendente direto da mãe ou do pai, é uma questão menor; o fato que interessa é que o núcleo essencial da organização cigana é a família. Autoridade é mantida pelo pai que, na família, exerce o papel similar ao do chefe da tribo. Como pela mulher que, na escala de família é phuri dai: seu poder é oficioso e oculto, mas é frequentemente uma sólida e inegável realidade. Um exemplo será suficiente para mostrar a coesão da família. Como Jules Bloch diz, ‘propriedade pertence à família e não ao indivíduo’].

Há um ditado, citado por Mirian Stanescon[6], que referenda tese da força da mãe cigana: Lê chave murre cheiangue murro nepoto si, murre chavengue, sai avelas sar ti avelas = Os filhos de minha filha, meus netos são; os de meus filhos, serão ou não.

Leiamos, na Enciclopédia Mirador Internacional, o verbete CIGANO, p. 2403-2407, que nos dá esta informação, quando se trata de chefes ciganos:

Esses chefes (kapo ou Rom Baro, ou voivoda na Europa central) são as únicas autoridades políticas. Embora haja referências a reis ciganos, não existe nem nunca existiu organização geral ou internacional de ciganos. Os grupos são autônomos. Os voivodas, duques, condes ou reis cujos túmulos marcaram o caminho da grande migração medieval, eram apenas chefes de grupo como os Rom Baro. Estes governam assistidos por um conselho, em cujas decisões comuns a mulher velha (phuri daj) tem grande influência, sendo consultada antes e depois de qualquer decisão importante.

Existe um livro muito bom, de referência para os ciganólogos brasileiros. Foi escrito há 70 anos, por J. B. D’Oliveira China[7], intitulado Os ciganos do Brasil — subsídios históricos, etnográficos e lingüísticos. Separata da Revista do Museu Paulista, Tomo XXI, editada em março de 1936. Vamos transcrever alguns trechos que abordam o tema reis ciganos.

APÊNDICE (p. 297, do livro de D’Oliveira China)

O “Estado de São Paulo”, de 21 de fevereiro de 1936, publica o seguinte telegrama:

“Congresso extraordinário dos ciganos. Varsóvia, 20 (Estado) — Os representantes dos ciganos do mundo inteiro reúnem-se brevemente em Rowne, na Polônia, em congresso extraordinário”.

“Estarão presentes oito “reis”, inclusive o dos ciganos brasileiros, Titulesco Kwiek, que assumirão a presidência do congresso incumbido de escolher o “rei” dos “reis”, isto é, o soberano de todos os ciganos”.

“O congresso examinará igualmente a possibilidade de escolha para os ciganos de um território em que pudessem estabelecer-se definitivamente.”

Seguem algumas observações sem maior interesse para o tema, e então pulamos para a p. 301:

POLÍTICA

Os ciganos, sejam de que origem for, vivem em todos os lugares do mundo sob a orientação de um chefe. Na Polônia, Miguel II foi recentemente coroado Rei dos Ciganos e reconhecido oficialmente pelo governo daquele país. No Brasil, no entanto, os zíngaros não obedecem a ninguém. Cada qual faz e procede como entende.

Essa liberdade de ação, que data de longos anos, está ameaçada de uma transformação radical, pois se cogita nomear um chefe para os ciganos do Brasil. Menciona-se o nome do futuro “rei”: Titulesco Kwiek.

PROGRESSISTAS E CONSERVADORES

Foi apurando essa notícia que coligimos os detalhes descritos nesta reportagem e que descobrimos, também, já existem, embora não oficialmente, dois ciganos mais ou menos tidos com chefes da sua “grei” [no Brasil]. A um cabe a liderança dos ciganos da Grécia e a outro, a dos ciganos da Iugoslávia. Pelos motivos expostos, são rivais.

Definindo politicamente essa situação, poderemos denominar os ciganos da Grécia, que trabalham, de progressistas, e os da Iugoslávia, que vivem enraizados nas tradições do passado, de conservadores.

Sobre a questão que atualmente agita os ciganos do Brasil, ouvimos as duas facções e pudemos concluir que entre uma e outra não existe possibilidade de entendimento.

Lola Popadopulos, progressista

É o maioral dos ciganos gregos [no Brasil]. Como os demais do respectivo núcleo, Popadopulos é trabalhador. Na sua residência, no Méier, recebeu-nos gentilmente e ofereceu-nos a única cadeira que havia. Antes de tomar conhecimento de nossa missão, pensou que fôssemos da polícia e exibiu-nos mais de cinqüenta documentos comprovando a sua qualidade de especialista na estanhagem de caldeirões. [....]. Perguntamos a Lola Popadopulos o que sabia sobre a nomeação de um chefe para os patrícios e se conhecia Titulesco Kwiek.

— Não conheço este nome — respondeu-nos. Aqui no Brasil pelo menos, não existe nenhum cigano com esse nome. Com relação ao restante, devo esclarecer que não estou autorizado a falar. [....]

Com dificuldade vencemos o mutismo de nosso entrevistado. Depois de grande relutância, resolveu contar-nos alguma coisa, dizendo-se que de fato se falava nessa nomeação.

Vasil e Sonia Kwiek

— Cogita-se é verdade de se nomear um chefe para meus companheiros, mas não é Titulesco o nome do escolhido é sim Vasil Kwiek, descendente direto de Miguel Kwiek, atual Miguel II, Rei dos Ciganos da Polônia. Naturalmente, Vasil não será rei, e de acordo com as disposições constitucionais deste país [Brasil], será apenas um chefe. É casado com Sonia Kwiek, também da realeza cigana. [....]

Moisés Petrowick, conservador

Moisés Petrowick é elemento de destaque entre ciganos da Iugoslávia. Muito gordo e folgazão. Quando não está no botequim da rua Senador Pompeu, está na Brahma, bebendo uns chopes. A esposa sai de casa de manhã e só volta à noite lendo a “buena dicha”. Indagamos do seu modo de ver as coisas. Falamos se sabia que os ciganos iriam ter um chefe.

— Não sei, ou por outra, não sabemos disto — declara-nos com firmeza. — Nem tão pouco nos interessa esse assunto. Eu não pretendo obedecer nem ser obedecido, esse caso de nomeação de alguém para nos chefiar é praticamente impossível. Estamos no Brasil e enquanto aqui estivermos só obedeceremos a um “rei”, que é a Polícia. Ela é quem ordena e nos dirige. O resto é conversa-fiada. [....]. Agora, se a polícia nomear um cigano e fazê-lo responsável único pelos nossos atos, isso é outra coisa. Nestas condições, aceitaremos um chefe. De outra forma não tomamos conhecimento dessas novidades.

Por ser interessante transcreveremos esta observação de J. B. D’Oliveira China:

“Lemos também algures que num período da Idade Média eles [ciganos] estavam sujeitos a um chefe misterioso a quem chamavam Rei de Thunes”. Com mesmo nome encontramos na obra de Victor Hugo O corcunda de Notre-Dame. “...eu Clopin Trouillefou, rei de Thunes, sucessor do grande Coërse...”

Ainda encontramos esta anotação em D’Oliveira China:

Os gitanos da Espanha também tiveram seu craly (ou crayi) ou rei por eles eleito e cuja residência teria sido, por algum tempo, a cidade de Saragoça, (op. cit. p.19).

Aqui terminamos com os excertos de D’Oliveira China, vamos procurar outros textos.

No livro Gypsy & Demons divinities — The Magic and Religion of the Gypsies, autor Elwood B. Trigg[8], à p. 19, lemos:

Some gypsies believe that there was a time, many ages past, when there lived a great gypsy emperor named Pharaun (Pharoah) who rule a rich and powerful empire which extended over the entire world.

[Alguns ciganos acreditam que houve um tempo muitos anos atrás quando viveu um grande imperador cigano chamado Faraó, que governava um rico e poderoso império extensivo sobre o mundo inteiro].

Em outros autores vimos referências que nos induzem a crer que pelo menos tinham chefes que se intitulavam condes, duques etc. Lemos em Grellmann[9], in Dissertation on the Gypsies, p. 53:

— “Nos velhos livros, nós encontramos menções a cavaleiros, condes, duques e reis. Não somente Krantz e Munster mencionaram condes e cavaleiros em termo gerais, entre os ciganos; outros povos nos deram os nomes desses dignitários; Causius cita o duque Miguel; Muratori, o duque Andréas; Adventinus registra o rei Zindelo, não se falando de inscrições em monumentos erigidos em diferentes locais in memoriam ao duque Panuel, conde João e o nobre cavaleiro Petrus, no século XV”.

E Grellmann assinala que são imitações do que os ciganos viram nos países civilizados, que percorreram. Em longa explanação, ele admite os chefes ciganos Waywodes, na Hungria. Ainda o mesmo livro de Grellmann às p. 103/104 cita o decreto da Dieta de Augsburg onde, no art. 4o, está textualmente: In a decree of the Empire, of fifty years later date, a regular complaint, preferred on account of the passports granted by various Princes, to the Gypsies, and which are, by the Diet, declared to be null and void. Em nossas palavras, a Dieta de Augsburg cancelou os passaportes e/ou salvos-condutos concedidos, no passado (há cinqüenta anos) aos ciganos, por numerosas reclamações proferidas contra eles.

Não obstante o vaivém de Grellmann, podemos deduzir que, em tese, ele admitia a existência de grandes chefes ou líderes ciganos.

Encontramos ainda esta explicação em Sir Richard Francis Burton[10]: The Jew, the Gypsy and El Islam, p. 263:

“In 1496, Bishop Sigismund at Funf-Kirchen ordered iron cannon-balls from the gypsies to be used against the Turkish invaders of Hungary; and he was doughty supported against the Turks by King Zindelo, Dukes Miguel and Andrew, by counts Manuel and Juan, by the ‘nobel knight’ Pedro, an by the chief Tomas Polgar”.

[Em 1496, o bispo Sigismundo em Funf-Kirchen, usou balas de canhão fabricadas pelos ciganos, contra os invasores turcos, na Hungria; e ele foi denodadamente apoiado pelo rei Zindelo, duques Miguel e André, pelos condes Manuel e João, pelo nobre cavaleiro Pedro e pelo comandante Tomas Polgar, contra os turcos].

Então, podemos dizer que àquela época, na Hungria, os ciganos tinham alguma expressão de nobreza. Hoje alguns, ‘ciganólogos’ discordam abertamente sobre a existência de realeza cigana. Agora, em face dos fatos históricos apresentados, dos grandes estudiosos citados, esperamos que os cientistas de plantão reformulem suas idéias ou apresentem outros fatos. Muito melhor do que falar em realeza cigana, seria mais correto usarmos chefe de grupo, kapo, barô, rom barô, puro, tio etc. ou de kumpanhia, ou voivodes, como os atuais lideres são chamados. Tais chefes podem ter jurisdição sobre poucas ou muitas famílias. Geralmente, são homens reconhecidos pelo senso de justiça e sabedoria, bem como pela lealdade ao seu povo e a sua cultura. O chefe, com outros mais velhos, decide questões relativas ao bem estar do grupo como um todo, e também julga, podendo decidir pela exclusão de um membro, temporária ou definitivamente, o que é uma terrível pena para o cigano.

Rápida pesquisa nos livros História do povo cigano, de Angus Fraser (Teorema, 1995); O povo cigano, de Olímpio Nunes (Apostolado da Imprensa); Moeurs et coutumes des tziganes, de Martin Block (Payot); Les tziganes, de Jules Bloch (Presses Universitaires de France); mostra que estes autores repetem as mesmas lições (com outras palavras) de Grellmann e de Richard Burton. Portanto, nada acrescentaram que valesse a pena reportar.

A enciclopédia ESPASA-CALPE à p. 253 nos apresenta um quadro de Mariano Fernandez, príncipe dos ciganos, de autoria de Vortuay. Como se nota, sempre há alguém da realeza gitana por aí. E à p. 217 relata a saga dos nobres ciganos como todos relatam, só que com mais detalhes sobre o rei Sindel, condes e duques. Vale a pena consultar a Espasa-Calpe.

Pinçaremos agora algumas notícias da imprensa eletrônica, jornais e revistas:

...em dezembro de 1961, o prestigioso jornal Le Monde publicou um artigo intitulado “A impostura de Vaida Voievod III: os ciganos da França não querem nem uma ilha nem um Rei”. A informação consignava declarações do capelão nacional dos ciganos e zíngaros da França, padre Juan Fleury, que qualificou Sua Majestade de “mitômano perigoso”. [....] “É um impostor, ‘advertiu’, seu nome é estranho, Vaida é um nome próprio e Voievod é um nome comum que designa o chefe; o mais lógico seria que se chamasse Vaida III”.

A morte, em abril de 1967, de Georges Colomba, rei dos ciganos da França, indica a influência do catolicismo francês entre os ciganos: Colomba, embora protestante, foi enterrado segundo o rito católico. (id. Ibidem)

Jornal do Brasil de 27 de junho de 1967 — Paris (AFP-JB) — Comparando a sorte de seu povo à dos judeus, o Rei dos ciganos reclama o direito a se instalar na Somália, “terra de nossos antepassados longínquos”. Vaida Voivod III, Presidente da comunidade mundial de ciganos, anunciou anteontem que exigirá das Nações Unidas um estatuto jurídico, a fim de conseguir na Somália “um bastião de defesa, onde possamos refugiar no caso de desgraça”. [....] Voievod III afirmou que seu reinado se exercia sobre nove milhões de ciganos dispersos em todo o mundo. [....]

O Globo de 25 de março de 1973 — Morre aos 70 anos a Rainha dos ciganos norte-americanos — Linden, Nova Jersei — Sua Majestade Mary Mitchell, a rainha dos ciganos dos EUA, morreu aos 70 anos de idade e foi enterrada sexta-feira no cemitério de Linden, com um colar de moedas de ouro de 50 dólares e uma nota de mil dólares presa na mortalha “para pagar suas despesas no Céu”. A rainha cigana, que sucedeu no trono sua mãe, foi vestida com uma bata azul com incrustações de ouro e uma capa com gola de pele. Suas fossas nasais, olhos e ouvidos foram tapados com pedras preciosas. Quando o caixão desceu à sepultura, os mil ciganos presentes atiraram notas e moedas sobre ele. O cortejo fúnebre de Mary Mitchell foi feito em carros do último tipo, chegados de todos os lugares dos EUA, e também do México. O caixão saiu da funerária Peterson — nos últimos três anos, 25 enterros ciganos, saíram de lá — num coche de quatro rodas, puxado por cavalos brancos.

Fundação Konrad Adenauer Sliftung, ano 99, n. 20/Veja de 8 de junho de 1977 — Cada grupo tem um chefe “natural”, não hereditário. Na família, o membro mais importante é a mãe, que exerce autoridade sobre os filhos e é a dona do patrimônio. O mesmo sistema se aplica à tribo, que tem uma mãe tribal, a puri dai, guardiã do código moral. Os infratores são julgados por um júri de “condes”. E, nos casos mais graves, a pena é o banimento da tribo. Várias foram as tentativas de agrupar os ciganos sob o poder de um só governante. Uma delas foi o aparecimento da dinastia Kwiek, inaugurada por Gregory Kwiek, cigano polonês que, por volta de 1883, se declarou “rei dos ciganos”. Durante seu reinado, realizou-se, em 1909, o único recenseamento cigano de que se tem notícia; o censo informou que havia então na Europa 600 mil ciganos. Gregory abdicou em 1930 em favor de seu filho Michael II, que, após sete anos de governo, foi sucedido por Janusz I. Este proclamou-se administrador dos ciganos da Hungria, Espanha, Alemanha, Bulgária, Iugoslávia e Polônia. Planejou ir a Genebra reivindicar um país para seu povo, mas o projeto foi vetado por uma assembléia cigana. Seu ‘reinado’ durou apenas um ano. Sucedeu-o Mathew Kwiek, do qual não se tem maiores notícias.

O Globo de 20 de outubro de 1979 — [....] A família Stanescon tem como chefe do clã Miguel Nicolai Stanescon, que apesar da idade exerce grande poder sobre a família. Ele é considerado o Rei dos ciganos, e tem 131 anos de idade. Detém o título máximo da comunidade: Amporato.

O Globo de 31 de outubro de 1980 — Festa cigana no casamento da princesa. Começaram na tarde de terça-feira, com a matança e a preparação de centenas de animais para os banquetes, e terminaram na tarde de ontem, com o baile de despedida dos noivos, os festejos de casamento da advogada Mirian Stanescon Batuli, de 33 anos, considerada a princesa de quase dez mil ciganos do Brasil [....].

Folha de São Paulo, sexta-feira, 2 de novembro de 1990 — Governo romeno reconhece ‘rei’ dos ciganos. Depois de um período de ostracismo, durante o regime de Nicolau Ceausescu, os ciganos da Romênia voltaram a ter um ‘rei’, que passou a ser reconhecido pelo governo — o Conselho Provisório de Unidade Nacional, criado no mês passado. Ion Cioaba, o ‘rei’ em questão, e dois outros ciganos têm agora representação no novo governo. [....].

Revista Manchete, no 2116, de 24 de outubro de 1992 — Viva o Rei dos ciganos — Na Romênia pós-Ceausescu tudo é possível. O Empresário Ion Cioaba, por exemplo, acaba de proclamar-se Rei dos ciganos e promete, como bom político, ouro e direitos humanos, do alto de seus 57 anos de idade, recheado por 130 quilos de peso. Cioaba também candidato a senador, ameaça enviar nada menos de 1,2 milhões de ciganos a Bonn, se o Chanceler Helmut Kohl negar-se a devolver ao seu povo o ouro confiscado por Hitler na Segunda Guerra — isto é a bagatela avaliada em 245 milhões de marcos. Ele já se considera o monarca de 3,5 milhões de ciganos, mas dos oito partidos de seu povo na Romênia, só é reconhecido pelos nômades e pela União Livre e Democrática. Sem falar, é claro da Rainha-Mãe, da esposa Margareta e dos muitos filhos e netos.

O Globo, quinta-feira, 2 de outubro de 2003, p. 34 — UE condena bodas de cigana. Ana Maria, de 12 anos, nega ter tentado fugir do noivo. Bucareste. No dia em que o governo da Romênia e a União Européia pediram a abertura de uma investigação para apurar se a princesa cigana Ana Maria, de 12 anos, foi forçada ao casamento — realizado no sábado — a jovem romena apareceu na televisão ao lado do pai, o rei cigano Florin Cioaba, e do noivo, Brita Mihai, de 15 anos, para negar que tenha feito algo contra sua vontade. [....]. Cioaba não permitiu que a filha fosse examinada. — Não há motivo para fazermos exame de corpo de delito. As crianças queriam se casar e os pais concordaram — afirmou ele, lembrando as tradições ciganas.

E na Internet, sobre o mesmo caso:

Com alguma surpresa, Vasile Ionescu, do Centro Romani para Políticas Públicas pela Emancipação dos Ciganos, juntou a sua voz à de Cioaba quando afirmou: “O casamento da princesa não foi arranjado à força. Ela é tão preciosa para o rei como seus olhos, que ele não teria feito nada contra a vontade dela. Devemos manter nossas tradições vivas para manter intacta a nossa identidade e para sobreviver. É imoral e perigoso proibir um costume e ninguém tem o direito de fazer isso”.

Há um livro do escritor Peter Maas, com o título O rei dos ciganos, onde à p. 10 conta a estória de Steve Tene, que seria neto do rei cigano Tene Bimbo, mas como o livro é de ficção, não daremos mais informações do que esta: “O rei Tene Bimbo, juntamente com a rainha Mary, estabeleceu seu quartel-general em Chicago por volta de 1920.

Na Internet, outra vez, no site http://www.vurdon.it/brazil.htm encontramos:

1. A organização social e familiar. É quase supérfluo dizer que não existem e nunca existiram reis nem rainhas dos Ciganos, assunto predileto de jornalistas levianos e desinformados. Através de um exame cuidadoso do comportamento social do nômade se destaca que o elemento preponderante de sua personalidade é caracterizado por uma forte tendência ao individualismo.

Aqui encerramos o apanhado sobre a realeza cigana. Sabemos que sequer demos um arranhão na montanha de papel que existe por aí tratando de tão espinhoso assunto. Como prometemos, nos limitamos a expor as várias correntes. Esperamos que os leitores e leitoras nos enviem contribuições que possam enriquecer o trabalho. Todas as sugestões serão consideradas e aceitas desde que atendam ao objetivo que é esclarecer se existem ou se existiram reis, rainhas, príncipes e princesas dos ciganos.

Achamos, finalmente, que o tema é despiciendo para quem ajudou a construir as pirâmides do Egito, o templo de Jerusalém e, quem sabe, os jardins suspensos da Babilônia; ser rei, príncipe, duque, conde ou cavaleiro é insignificante. Ora, direis, isto é fantasia! Então, por que os ciganos são chamados povo do faraó? (Faraó-nepek). Por que aparece tão fortemente no imaginário e no arquétipo cigano, ser oriundo do EGITO[11]? Por que os ciganos rememoram um legendário faraó que governou um império e era também cigano? Vamos unir todos os clãs. A união faz a força.

Parafraseando Zurca Sbano[12]: Todos ciganos são reis... Reis da liberdade. E, segundo Jean-Pierre Liégeois, in Ciganos e itinerantes o “rei dos ciganos” só existe na imaginação dos não-ciganos.

            E então vamos ver o que um scholar [erudito] inglês, George Borrow escreveu sobre ciganos. Antes, queremos levantar esta questão: Como pode um pastor, viajante e sábio — conhecedor de mais de 100 idiomas — devotar tanto preconceito contra os ciganos e se autodenominar romany rye (amigo dos ciganos? Na verdade, com amigo igual a este os ciganos podem dispensar os inimigos). Inegavelmente, o homem (Borrow) viajou pelo mundo afora, da Rússia aos Bálcãs e à Espanha e como falava romani fluentemente, sempre foi bem recebido entre ciganos, mas ele raramente utilizou esta facilidade em benefício dos nômades, pelo contrário, registrou o que viu o que não viu e levantou as piores suspeitas sobre este povo tão sofrido (roubo, canibalismo, rapto de crianças, paganismo etc.). Mesmo assim, nossa imparcialidade nos leva a registrar alguma coisa de George Borrow, lembrando sempre que este homem tinha ódio aos ciganos. Vejamos o que nos diz, às páginas 109, 110 e 11 do seu livro Lavengro (o mestre das palavras, romani), escrito em 1851 e editado por Thomas Nelson and sons, Ltd. London, Edinburgh, New York, Toronto, and Paris, sd. O tema é pertinente, pois falamos de reis ciganos.

Copiaremos primeiramente o texto em inglês, depois em português.

Chapter XVII

            [....] And where are your father and mother?
           
Where I shall never see them, brother; at least I hope so.
            Not dead; they are bitchadey pawdel.
            What’s that?
            Sent across — banished.
            Ah! I understand; I am sorry for them. And so you are here alone?
            Not quite alone, brother.
           
No, not alone: but with the rest — Tawno Chikno takes care of you.
            Takes care of me, brother!
            Yes, stands to you in the place of a father — keeps you out of harm’s way.
            What do you take me for, brother?
            For about three years older than myself.
            Perhaps; but you are of the Gorgios, and I am a Rommany Chal. Tawno Chikno take care of a Jasper Petulengro!
            Is that your name?
            Don’t you like it?
            Very much, I never heard a sweeter; it is something like what you call me.
            The horse-shoe master and the snake-fellow, I am the first.
            Who gave you that name?
           
Ask Pharaoh.
            I would, if he were here, but I do not see him.
           
I am a Pharaoh.
            Then you are a king.
            Chachipen Pal
            I do not understand you.
            Where are your languages? You want two things, brother: mother sense, and gentle Rommany.
            What makes you think that I want sense?
            That, being so old, you can’t yet guide yourself!
            I can read Dante, Jasper.
           
Anan, brother.
            I can charm snakes, Jasper.
            I know you can brother.
            Yes, and horses too; bring me the most vicious in the land, if I whisper he’ll be tame.
            Then the more shame for you — a snake-fellow — a horse-witch — and a lil-reader — yet you can’t shift for yourself. I laugh at you, brother.
           
Than you can shift for yourself?
            For myself and for others, brother.
            And what does Chikno?
            Sells me horses when I bid him. Those horses on the chong were mine.
            And has he none at his own?
            Sometimes he has; but he is  not so well oft as myself. When my father and mother were bitchadey pawdel, which, to tell you the truth, they were, for chiving wafodo dloovu
[13], they left me all they had, which was not a little, and I became the head of our family, which was not a small one. I was not older than you when that happened; yet our people said they had never a better kralis to contrive and so well known that many Rommany Chals, not of our family, come and join themselves to us, living with us for a time, in order to better themselves, more especially those  of poorer sort, who have little of their own. Tawno is one of these.
           
Is that fine fellow poor?
           
One of the poorest brother. Handsome as he is, he has not a horse of his own to ride on. Perhaps we may put it down to his wife, who cannot move about, being a cripple, as you saw.
           
And you are what is called a Gypsy King?
            Ay, ay; a Rommany Kral.
            Are there other kings?
           
Those who call themselves so; but the true Pharaoh is Petulengro.
           
Did Pharaoh make horse-shoes?
            The first who ever did, brother.
            Pharaoh live in Egypt.
           
So did we once, brother.
           
And you left it?
           
My fathers did, brother.
           
And why did they come here?
           
They had their reasons, brother.
           
And you are not English?
           
We are not Gorgios.
           
And you have a language of your own?
           
Avali.
           
This  is wonderful.

[....]Em seqüência, a tradução livre:

[...] Onde estão seus pais?
Onde jamais os verei, irmão, assim espero.
Não morreram?
Não, não estão mortos, eles foram bitchadey pawdel [expulsos].
Que é isto?
Expulsos, banidos.
Entendo. Sinto por eles. Você está aqui sozinho?
Não muito só, irmão.
Não, não só, mas com o resto — Tawno Chikno cuida de você.
Cuida de mim, irmão!
Sim, permanece com você no lugar de seu pai — cuida para que você não se machuque.
Quanto tempo me dá, irmão
Três anos mais velho do que eu.
Talvez, mas você é górgio (não-cigano), eu sou rom (cigano). Tawny Chikno cuida de Jasper Petulengro. (petulengro=ferreiro).
Este é o nome dele?
Você não gosta?
Muitíssimo. Eu nunca ouvi algo tão agradável é algo como você me chama.
O mestre ferreiro e amigo da cobra. Eu sou o primeiro.
Quem te deu este nome?
Pergunte ao Faraó.
Eu o faria, se ele estivesse aqui, mas não o vejo.
Eu sou o faraó.
Então você é um rei.
É verdade, irmão.
Não estou entendendo.
Onde está seu idioma? Você quer duas coisas, irmão: sentido de mão e gentileza do rom.
O que faz você pensar que eu quero sensibilidade?
Por que sendo tão velho,ainda não conduz você mesmo!
Posso ler Dante, Jasper.
Eu sei, irmão
Posso encantar cobras, Jasper.
Sei que pode, irmão.
Sim, e cavalo também; traga-me o mais manhoso da terra, se sussurro ele fica dócil.
Então, mais vergonha para você — amigo de cobra, feiticeiro de cavalo e leitor do livro — ainda não pode mudar a si próprio. Rio de você, irmão!
Então você pode se mudar?
A mim e aos outros, irmão.
Que faz Chikno?
Vende cavalos para mim quando ponho em leilão. Aqueles cavalos na (chong) eram meus.
E ele tem alguns?
Às vezes tem, mas freqüentemente não tão bons como os meus. Quando meu pai e minha mãe fora exilados, digo a você a verdade eles foram chiving wafodo dloovu, eles deixaram para mim tudo que tinham o que não era pouco e u tornei-me o cabeça de nossa família (o chefe), que não era pequena. Eu não era o mais velho quando isto aconteceu, nosso povo dizia que jamais tiveram rei melhor para imaginar e planejar para eles e mantê-los em ordem. E isto é bem sabido por muito roms, não os de nossa família, vê e se juntam a nós, moram conosco por algum tempo, a fim de melhorar eles próprios, mais especialmente aqueles absolutamente pobres, que têm muito pouco. Tawno é um deles.
Que é um bom amigo pobre?
Um dos mais pobres. Irmão. Simpático ele é, não tem sequer um cavalo para cavalgar. Talvez cedamos um a sua mulher para se mover por aí, pois ela é aleijada, como você sabe.
E você é o chamado Rei dos ciganos?
Sim, sim, Rommany Kral.
Existem outros reis?
Há os que se chamam assim, mas o verdadeiro Faraó é Petulengro.
O Faraó faz ferraduras?
Ele fez a primeira, irmão.
O Faraó morou no Egito?
Moramos uma vez, irmão.
E você deixou-o
Meus pais deixaram, irmão
E por que vieram para cá?
Eles tinham suas razões, irmão.
Você não é inglês?
Não somos ingleses (górgios).
E vocês têm língua própria?
Certamente.
Isto é maravilhoso.
[....]

 

ADENDO

 

Após dar o trabalho como terminado, tomamos conhecimento de texto do professor Ático Vilas-Boas da Mota[14] na Revista do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), com o título Ciganos: uma minoria discriminada, onde discorre (com brilho) sobre o tema reis ciganos. Pedimos licença ao mestre, para transcrevê-lo totalmente, porque nos apresenta uma visão peculiar, não abordada por nós, nas páginas anteriores. Eis o texto:

 

Os intermitentes movimentos de alguns grupos ciganos em torno de uma personalidade a quem possa conceder o título de rei ou de voivoda são uma prova evidente de que este povo já possuiu, em época remota, um estado organizado. Das profundezas de seu inconsciente coletivo, ressurge um arquétipo de governo monárquico sob a forma messiânica de um reunificador, ainda que, ás vezes, o acontecimento se apresente ridículo ou revestido de humor, bastando para isso atentar para as notícias divulgadas pelo Le Berry Républicain (de 6 de setembro de 1964), ao anunciar o surgimento, na Holanda, de um novo rei cigano de nome Koka Petalo I, que alimentou páginas inteiras da imprensa européia, graças à notícia de seu anunciado casamento que se realizou de maneira suntuosa. Rei ele se julgava das “tribos” (?) Modeste Colombar, originários do sul da Bélgica. O pobre rei, no dia seguinte ao seu casamento, fora agarrado e encarcerado na cidade de Amsterdã, devido às queixas de seus credores. É bem verdade, que logo foi posto em liberdade: “C’est une histoire idiote, a-t-il dit, mes créanciers auraient mieux fait de me rappeler que j’avais quelques petites notes à acquitter”. Mas os credores tinham pressa e os súditos não lhes ensinaram que as contas de um monarca são pagas pelo tesoureiro real, o qual, àquelas horas já teria dado no , deixando o rei afogado em sua própria fantasmagoria.

 

Outro monarca cigano que conseguiu certa repercussão na imprensa do Velho Continente foi Christian Modeste, falecido em 1966, no Hospital de Lovaina (Bélgica), com a idade de 52 anos. Ele se intitulava “Roi des Gitans d’Europe Occidentale”. A muitos poderia causar espécie, mas o rei Modeste chegou a presidir, em Pomezia (pertinho de Roma), o Congresso Mundial dos Ciganos, conforme se pode ler no Dépêche du Midi de 13 de abril de 1966. Quem o sucedeu foi Octave Peterbos, considerado progressista, enquanto o seu predecessor era tido como conservador.

 

A história da realeza cigana, talvez por sua natureza intermitente, superposta, concomitante, embora resistente, não foi ainda escrita. Os dados pertinentes surgem dispersos e fragmentados, em muitos estudos sobre os ciganos, geralmente carregados de humor ou de ironia, conquanto esboçados com simpatia. Por falar em realeza, no mesmo ano, na Holanda, em Bois-le-Duc, foi sepultada com todas as suas vestes nobres, inclusive jóias, a primeira dama cigana Augustina Westhimer, esposa de Joffre Westhimer, príncipe da família Petalo, irmão do rei Fernando. Vasto é o campo a ser explorado, a história da realeza cigana constitui a história do próprio povo zíngaro, projetada nas aspirações de quem consegue fazer da fantasia e da realidade, um só corpo a serviço do sonho.

ANEXO

A seguir, transcreveremos, verbatim, o subitem do verbete GYPSYFoundation of a Dynasty, da Enciclopaedia Britannica, 1962, vol. 11, p. 43 [Ver tradução livre à p. 4]:

Foundation of a dynasty — The only attempt by gypsies to found a dynasty is associated with the family of Kwiek. Gregory Kwiek, a kettle-smith of Polish origin, was born about 1856 and spent his early life in Italy or Spain. About 1883 he declared himself “king of the gypsies” and ruled them mainly from Poland. Having spent much of his lifetime between making kettles and touring the gypsy camps of Europe to gain favour and raise revenue, he abdicated in favour of his son , born at Bielcza in 1878 or 1886. In 1928 he became Michael II and was crowned near Warsaw in 1930. He tried to set up a Romany tribunal at Poznam. A brother Basil disputed the throne and a third brother, “kingmaker”[*] Matthew returned from Spain to arbitrate, settling for Basil, with Rudolf as chancellor. The brothers Basil and Rudolf plotted to force Michael out of Poland. In 1934 Michael attended a gypsy congress in Rumania, returned was confirmed king by a gathering at Lotz, but fearing vengeance fled to Czechoslovakia and was nor heard of again. Matthew was murdered in 1935, and Basil reigned unchallenged until Rudolf transferred his favour to another brother Janusz, who in July 1937 was crowned Janusz I, “king of the gypsies” with treat ceremony at the Warsaw stadium, in full view of 15,000 gypsies. The officiating priest was Orthodox Bishop Theodorowicz. The robes and regalia had been borrowed from the Warsaw opera house. Rudolf had meanwhile renounced all claim to the throne in return for an influential post in the cabinet; Sergej Kwiek became chief adviser, Alexander Kwiek was made president of Federation of Gypsies an Zdunek became financial advisor. Once the ceremony was over Janusz demanded the takings from the stadium gathering, but this was refused by the authorities until expenses had been paid. King Janusz thus began his reign with an unbalanced budget, since he had promised to pay the expenses of his electors and musicians. Finally, impoverished, re returned to village of Milanowky, his new home, to carry on his trade.

 

Janusz proclaimed himself ruler of the gypsies of Hungary, Spain, Germany, Bulgaria, Yugoslavia and Poland, and planed to go to Geneva to plead for a country for his people. But his rule was challenged about ten months later on the ground that the senate of only 17 members did not constitute a quorum. Other allegations were more nebulous, but the complaint that his election had not been unanimous was justified. At one point his subjects demand free elections. At this Kwiek dismissed both cabinet and senate and regaled several hundred of friends, who thereupon confirmed his “royal” status. His reign of about a year was followed by a shorter, that of another Matthew Kwiek.

 

[* A person who controls appointments to positions of high (esp. political) authority]

 

Trecho da página 217, da Enciclopédia Espasa-Calpe, verbete GITANO. (Não fizemos tradução, pois está em espanhol, que se entende com um pouco esforço).

 

“En resumen, puede decirse que la gran difusón del pueblo gitano en Europe comenzó en 1417 y el centro primitivo de la dispersión fué Moldavia y Valaquia. Por dos grandes vias se difundieron los cíngaros, una litoral otra interna; la del litoral seguió el rumbo de Persia e Mesopotamia y Asia Menor, hacia el mar Caspio y el mar negro, donde pudieron encontrarse con los que emigrabam por el litoral, désviandose entonces al NE., para remontarse à las provincias septentrionales de Rusia y Siberia. Según Colloci, qui es uno de los autores qu más han estudiado este pueblo, a lan gran banda, compuesta de las del rey Sindel y duques Mihali, Andrash y Panuel, por la Valaquia, remontando el Danubio, fijandose y difundiéndose en Hungria. La banda del duque Mihali, que es la que penetró en Europa, se dirige desde Hungria à Viena y desciende  atravesando el N. De Italia é internándose en Suiza. En Zurich se fracciona. Unos se remontan  à Alemania, y otros, síguiendo su rumbo descendente, penetran en Francia hacia Marsella, attraviesan el Ródano, no muy lejos de su desembocadura, y entran en Cataluña, llegando à Barcelona el 11 de Junio de 1447. Original y curioso monumento hístórico de esta banda es la tumba del duque Panuel, del conde Pedro y del conde Juan; la del primero se encuentra en Steinbach, cerca de la ciudad de Fusternau y con una leyenda que dice: Al Noble Señor el Señor Panuel, Duque del bajo Egipto y Señor del cuerno del ciervo. El segundo fué erigido en 1453 en Bautma en memoria del conde Pedro de Kleinschild, y el tercero fué levantado en 1498 para honrar la memoria del conde Juan del Bajo Egipto. Sobre las tumbas de los primeros se hallan esculpidos dos curiosos blasones.

 

FINIS


[1] Bacharel em Direito e Administrador. Autor de Organização de cooperativas de consumo; premiado no IX Congresso Brasileiro de Cooperativismo, em Brasília; Brumas da história do Brasil. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RIHGB) n. 417, out./dez. 2002; Possessão, São Paulo: Ícone Editora, 1995; O espírito milenar, Goiânia: Editora Paulo de Tarso, s.d.

 

[2] Isabel Fonseca é jornalista. Norte-americana, de ascendência hispânica, húngaro-judaica, estudou nas Universidades de Colúmbia, nos Estados Unidos, e Oxford, na Inglaterra. Viveu quatro anos entre os ciganos da Europa-central.

[3] Filha de Cioaba. Era uma princesa arrogante, implacável e mais que satisfeita com sua própria pessoa.

[4] Pessoa que controla designações para posições (especialmente políticas) de alto nível.

[5] Escritor francês.

[6] Cigana Kalderash. Advogada, escritora, taróloga e Presidente do Grupo de Amigos de Santa Sara (GRASSA).

[7] Grande ciganólogo brasileiro (1874-1941). Ensaísta, professor, historiador, escritor.

[8] Professor associado na Universidade da Califórnia, graduado da Universidade da Califórnia do Sul, no Colégio da Ressurreição em Yorkshire, Inglaterra, é doutor em filosofia da Universidade de Oxford. Fala corretamente o romani, a língua dos ciganos.

[9] Henrich Moritz Gottlieb G. (1753-1840). Professor da Universidade de Göttingen, escreveu Die Zigeuner... em 1783.

[10] Explorador, soldado, erudito, aventureiro, escritor, agente secreto, diplomata, tradutor, Burton viveu entre quatro continentes — foi cônsul no Brasil. Perfeito conhecedor da língua cigana, o romani, e falava 28 idiomas e outros tantos dialetos. Tinha tanta afinidade com os ciganos, que foi convidado, por eles, para ser “rei”. Está em The Jew the Gypsy and El Islam, de Burton, no prefácio de W. H. Wilkins, p. XIII/XIV [What are you doing with a black coat on? — They would say —  why don’t you join us and be our King?...] Quando morreu foi enterrado em um túmulo no feitio de tenda, e em vida, quando jovem, foi conhecido como o ciganinho. Ele tinha o “olhar cigano”.

[11] “A cigana do Ingito / Caminha para Belém / Dar as graças ao menino / E à Virgem parabém” //. In Etnografia portuguesa, de J. Leite de Vasconcellos. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982. Também esta quadrinha colhida no Auto das pastorinhas, por Ceição de Barros Barreto: “Sou cigana do Egito / que de muito longe vem, / a descer montes e serras, / do Egito para Belém” //. Ou, ainda nesta versão: Somos ciganas do Egito / Que viemos de Belém, / Adorar a um Deus menino / Nascido p’ra nosso bem...//

[12] Cigano kalderash, circense.

[13]  As palavras chongo, chiving, wafado, dloovu, em romani degradado, não traduzíveis.

[14] Licenciado em letras neolatinas pela UFF-RJ; Doutor em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP; Fundador da Cadeira de Literatura Oral (Pós-Graduação-Mestrado) na UF de Goiás; professor de língua portuguesa na Fundação Brasil-Romênia, Bucareste (2000); Escritor, historiador, ensaísta, poeta e folclorista.

 

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