Que rei sou eu?
Sem reinado e sem coroa,
Sem castelo e sem rainha,
Afinal, que rei sou eu?!
Este trabalho é absolutamente impessoal e totalmente imparcial. Não nos move
outro objetivo senão informar aos leitores e leitoras sobre um assunto
bastante controverso e ainda não esclarecido, qual seja da existência (ou
inexistência) de reis ciganos, ao longo dos séculos ou milênios. Como não
temos maior interesse do que registrar os fatos (ou lendas), tudo que
pusermos aqui será opinião de outros escritores que abrigam uma ou outra
opinião, seguram uma ou outra bandeira. Digladiam e não chegam a um
denominador comum. Oxalá isso fosse possível, para o bem dos ciganos em
geral.
Nós nos baseamos nas enciclopédias
Britannica (1962); Grande Delta
Larousse (1973); Espasa-Calpe
(1925), p. 215-230; Mirador
(1977); bem como nos grandes e respeitáveis
antropólogos/pesquisadores/professores: Grellmann, Angus Fraser e Jean-Paul
Clébert; e na jornalista Isabel Fonseca. Dentre os brasileiros citamos J. B.
D’Oliveira China e Ático Vilas-Boas da Mota, que nos forneceram excelentes
dados.
Vamos, para início de nossa conversa, ver o que se entende por rei, à luz da
Grande Enciclopédia Delta Larousse (p. 5731):
Rei s.m. Chefe ou príncipe soberano de um reino. Pessoa que, em virtude de
uma eleição ou por hereditariedade, exerce (em geral perpetuamente), ou tem
o direito de exercer, o poder soberano; monarca. O rei concentra em sua
pessoa todos os poderes de chefe de Estado.
Fig. Que se destaca entre
indivíduos de uma mesma classe ou espécie. Aquele que goza de poder
absoluto. O mais importante produtor:
o rei do petróleo; o
rei do aço; o rei do gado etc.
Folc. Imperador das festas de
Espírito Santo. Ludol. Cada uma
das quatro figuras de maior valor de um baralho.
Nesta mesma linha de pensamento: rei momo (no carnaval); rei do congo (nos
congados); rei do futebol etc.
Alguns fatores inibem ou dificultam a existência de um rei cigano,
citando-se: insubmissão, sentimento de independência, impermanência,
nomadismo, dispersão, transnacionalidade, extraterritorialidade, amor à
liberdade individual e do grupo, desorganização, desinteresse pelo passado e
pelo futuro, diversidade do povo, grupalismo familiar, desconfiança das
autoridades etc.
Entretanto, em sentido figurado ou metafórico (como definido na Enciclopédia
acima), podemos aceitar a existência de
rei dos ciganos, para isto basta
ter liderança inata, honradez, competência, carisma, solidariedade, respeito
às tradições, riqueza, bom relacionamento com autoridades do país onde está,
fazer política e ser aceito e, sobretudo vontade.
Rex eris, si recte feceris.
(Horácio) = Serás rei, se andares direito.
Ser rei então é, paradoxalmente, muito fácil e também muito difícil: Basta
querer e ser aceito.
Vamos então citar as passagens retiradas através de pesquisa em acervo
imenso, esperando assim contribuir para que se resolva o dilema: Há ou houve
reis ciganos?
Comecemos pelo livro de Isabel Fonseca[2],
Enterrem-me em pé — a longa viagem dos
ciganos, Companhia das Letras,
1995, p. 276, 315-20, 321, 322-7. Não transcreveremos tudo, mas aqui e ali,
pinçaremos o que nos parecer mais importante.
P. 276 Naquela conversa dentro da tenda, mencionei o autoproclamado “rei dos
ciganos romenos” Ion Cioaba, um rico Kalderash da Transilvânia, que havia
falado muito pela imprensa sobre a restituição do ouro Kalderash. Eles
pareceram se divertir com a idéia; ninguém seria capaz de convencê-los de
que um dia tornariam a ver suas moedas. [....]
P. 318 Ao longo de todo período Ceausescu, Cioaba viajou constantemente ao
exterior, o que só pode significar que tinha poderosos contatos com as
forças de segurança. [....]. Ser senador, eleito ou inventado, não era
grande coisa. Um doutorado era difícil de ser atribuído. E assim, em 1992,
Ion Cioaba declarou-se rei dos ciganos romenos. Mandou fazer uma coroa de
ouro e alugou a igreja ortodoxa de Sibiu para uma elaborada cerimônia de
coroação. Mas houve disputa [....] Rudulesco [o primo] contra-atacou com a
reivindicação de ser imperador de todos os ciganos de toda parte. Desde
então os dois vêm disputando e emitindo reais — ou imperiais denúncias
recíprocas.
P. 322 Os próprios ciganos jamais reconheceram reis. Líderes para disputas
locais — os bulibasha, ou
vojvoda, os shero rom e os
baro rom (literalmente “grande
homem”) — eram o máximo que qualquer grupo necessitava ou tolerava, e esses
homens eram de fato mais juízes do que governantes. [....]
P. 323 Os Kalderash pareciam ter um talento especial para a função [rei]. Já
haviam tentado estabelecer antes uma dinastia, no final dos anos 1920, na
Polônia. Esses Kalderash, em particular uma família chamada Kwiek, estava,
por sua vez, recobrando um velho papel. Em meados do século
XVII, os reis ciganos eram apontados
pela Chancelaria Real Polonesa e deviam representar (e cobrar impostos de)
todos os ciganos nos territórios. [....]
P. 234 Os reis Kalderash se estabeleceram também fazendo alianças com
entidades governamentais, assegurando assim privilégios sobre os ciganos
poloneses, para os quais tal comportamento constituía impensável traição. Os
Kwiek eram uma família de excepcional ambição e vários membros do seu
vitsa (ou clã), comunicavam-se diretamente com a polícia oferecendo
serviços em troca de reconhecimento como a mais alta autoridade cigana. Em
1937, milhares de pessoas, inclusive muitos diplomatas estrangeiros,
compareceram à cerimônia de coroação de Janusz Kwiek, celebrada pelo
arcebispo, em que o rei vestia um manto debruado de arminho (alugado na
Ópera de Varsóvia).
O último Kwiek a deter algum poder foi Katarzyna Kwiek-Zambila, irmã do rei
Janusz; até sua morte em 1961, ela deteve o respeito e a posição em geral
reservados aos homens, inclusive, igual à Luminitsa[3], o
privilégio de participar de um tribunal — o
Kris.
A saga dos Kwiek é bem desenvolvida na
Enciclopaedia Britannica, vol. 11, p. 43, 1962, de onde retiramos este
resumo [Texto em inglês no anexo]:
Gregory Kwiek nasceu em 1856. Em 1883 declarou-se “Rei dos ciganos” e
governou na Polônia. Em 1878 ou 1886, abdicou em favor do filho, que em
1928, tornou-se Miguel II, que foi
coroado em Varsóvia, em 1930. Porém, o irmão Basil disputou-lhe o trono e um
terceiro irmão, “fazedor-de-reis”[4],
Matthew, voltou de Espanha para arbitrar a questão, escolhendo Basil e
indicando Rudolf chanceler. Os irmãos Basil e Rudolf conspiraram para
expulsar Miguel da Polônia. Em 1934, Miguel, após participar de um Congresso
Cigano na Romênia, voltou e foi confirmado rei por um grupo em Lodz, mas
temendo vingança, fugiu para Tchecoslováquia e não mais se ouviu falar dele
novamente. Matthew foi assassinado em 1935 e Basil reinou, sem contestação,
até que Rudolf transferiu seu apoio para outro irmão Janusz que, em julho de
1937, foi coroado Janusz I, “rei dos
ciganos”, em grande estilo no estádio de Varsóvia, sob os olhos de 15.000
ciganos. Rudolf tinha, neste ínterim, renunciado qualquer direito ao trono,
tendo em retribuição um posto de influência no gabinete. Os parentes foram
agraciados com cargos. Ele se proclamou rei dos ciganos da Hungria, Espanha,
Alemanha, Bulgária, Iugoslávia e Polônia. Planejava ir a Genebra pleitear um
país para seu povo. Não conseguiu quorum entre seus membros para tal
empreitada. Então, Kwiek demitiu o gabinete e o senado, e banqueteou com
centenas de amigos, que lhe confirmaram o status “real”.
Bart McDowell, National
Geographic Senior Editorial Staff,
escreveu ótimo livro, editado pela National Geographic Society,
Gypsies Wandering of the World, em 1970; à p. 15, lemos:
I tried to get Cliff
Lee’s reaction to all the cliché questions people ask: Is there a King of
the Gypsies? What’s the Gypsy religion like? Do they steal children?
[Quis conhecer a reação de Cliff Lee sobre três perguntas: Há um rei dos
ciganos? Qual a religião dos ciganos? Eles roubam crianças?]
“As you know, there isn’t
any king” said Cliff. “Oh, one man claimed to be, a few years back.” Cliff’s
brow crease and his deep voice grated: “The world’s biggest un-hung
charlatan. Now, mind you, if an old Gypsy man dies somewhere and his family
wants a nice burial, they may tell the
gorgios, non-Gypsies, he was a king-like a chief, you know”.
“That religion question —
I was baptized a Roman Catholic in Ireland, and as a boy I went to church
often, but only to other baptisms. The priests used to give a baptized child
a bit of money. I recall once when I was a boy we went to eight churches one
Sunday and got the same infant baptized each time. Different names in every
church. A borrowed baby. But here in England most Gypsies are Church of
England. Is Scotland, Presbyterian. And in Turkey, Moslems. We’re what the
country is”.
“Now that story about
stealing children. I keep hearing it, of course. But Gypsies have no
shortage of their own. We’re a fertile people.”
Nós adicionamos os comentários sobre religião e crianças por serem assuntos
que, vez por outra, vêm à baila, são recorrentes. E é bom que se diga que
Clifford Lee é um cigano erudito, inglês (nascido em uma caravana). Agora,
em nossas palavras o que foi dito acima:
Eis suas respostas:
[“Você sabe que não há nenhum rei”, disse Cliff. “Um homem autoproclamou-se
rei, anos atrás”. Suas sobrancelhas vincaram e em voz profunda desabafou: “O
maior charlatão, desmiolado do mundo. Agora, pense bem, se um velho cigano
morre em algum lugar e sua família quer lhe dar um funeral decente, eles
podem dizer aos não-ciganos que ele foi como um rei, um chefe, você sabe”].
[A questão religiosa é esta — eu fui batizado na Igreja Católica, na
Irlanda, e como rapaz eu fui à igreja frequentemente, mas somente para
outros batismos. Os padres costumam dar à criança batizada um dinheirinho.
Quando rapaz retornei umas oito vezes em um domingo para batizar o mesmo
menino, cada vez com diferentes nomes, em cada Igreja. Era
um menino emprestado. Aqui, na Inglaterra, a maioria dos ciganos são
anglicanos. Na Escócia, presbiterianos. E na Turquia, muçulmanos. Nós temos
a religião do país onde estamos].
[Quanto à história de que roubamos crianças, eu a ouvi por aí, naturalmente.
Os ciganos não precisam disto, temos nossos filhos. Somos um povo fértil].
Agora vamos transcrever ipsis litteris
tudo que nos diz Jean-Paul Clébert[5], em
seu livro Gypsies, sobre o tema
(real) ou a ele relacionado, editado em 1963, por Vista Books, London, à p.
126:
Authority
The collective whole of
the people called Gypsy is made up of fairly considerable number of
different groups having as social ‘cement’ only Gypsy law. In actual fact,
there is not, nor has there ever existed, a ‘king’ of the gypsies. This
journalistic invention must be swept away, once for all. The press regularly
tells us about the election of a king or a queen of the Gypsies or the
Gitanos. And it is quite true that
the gypsies themselves do not fall short in fostering the legend about such
ceremonies; by this they gain something. Thus, in 1930, in Poland they
unjustifiably crowned one Michael as a King of the Gypsies of Europe, a
ceremony at which the President of the Polish Republic Thought fit to
represented. In 1959, during the pilgrimage to Lourdes, a feather-brained
blonde with the name Zarah cleverly represented herself as the future ‘Queen
of the Gypsies’. As she readily distributed hard cash among the urchins in
the camp, these and many adults did not require much pressing to hail her
and confer this envied title. The previous year reporters of the biggest
newspapers attended the funeral of Mimi Rosseto, ‘the one and only Queen of
Gypsies’, had died after days old death-pangs at Lendinara in North Italy.
It was really a case of an old Gypsy woman of the
Piemontesi tribe, whose precise
role was that of phuri
dai, that is, wise adviser, who
was highly respected by the whole tribe.
When old texts describe
the Gypsies who were led into Europe by dukes and counts, the authors merely
employ the titles in use during their epoch. These ‘dukes’ and ‘counts’ were
in facts tribal chiefs.
Indeed, each Gypsy tribe
(vitcha), whose importance can
vary from ten to several hundred tents or caravans (the equivalent of so
many households), recognizes only the authority of a chief elected for life
(the responsibility is never hereditary) because of his intelligence,
strength and feeling for justice. He is nearly always a man getting on in
years. His authority embraces the whole tribe. He has the right to inflict
corporal punishments and to pronounce measures of exclusion. He presides
over the council of elders and does not have to render accounts to anybody.
Chiefs of tribes are equal among themselves; there is no hierarchy based on
the importance of the tribe. It is the chiefs who decide about migrations.
In principle they are the responsible persons of their group; they are
likewise sometimes treasurers of the community.
...........................................................................................................................................................................................
The
phuri dai is the feminine version of the tribal chief. She is
generally a very old woman, whose power, however unofficial and concealed it
may be, is not less than real. Her influence is exercised on women and
children especially, but the council of elders, indeed the chief himself,
does not disdain to take her advice in delicate matters. She is called
Bibi or ‘aunt(-ie)’. In the role
of phuri dai very clear traces are
found of the old Gypsy matriarchy.
Tradução livre:
Autoridade
[O conjunto completo do povo cigano é feito de uma grade considerável de
diferentes grupos, tendo como cimento social somente a lei dos ciganos. De
fato, não há, nem jamais houve um “rei” dos ciganos. Esta invenção
jornalística deve ser varrida para sempre, de uma vez por todas. A imprensa
regularmente fala-nos da eleição de um rei ou rainha dos ciganos ou gitanos.
E é bem verdade que os próprios ciganos alimentam a lenda acerca dessas
cerimônias, pois eles ganham alguma coisa. Assim, em 1930, na Polônia, eles
injustificadamente coroaram Miguel como Rei dos ciganos da Europa, numa
pompa que até o presidente da Polônia mandou representante. Em 1959, durante
a peregrinação a Lurdes, uma loura frívola, chamada Zarah, inteligentemente
apresentou-se como a futura ‘Rainha dos ciganos’ e, como ela prontamente
distribuiu dinheiro vivo para a garotada no campo, eles e muitos adultos não
exigiram muita pressão, a saudaram e lhe conferiram o título invejável. No
ano anterior, repórteres de um grande jornal assistiram o funeral de Mimi
Rosseto, ‘a única e somente ela rainha dos ciganos’, que morreu após alguns
dias de agonia, em Lendinara, no norte da Itália. Foi um caso real de uma
velha cigana da tribo Piemontesa, a qual exerceu o papel preciso de uma
phuri dai que foi sábia
conselheira, e muito respeitada por toda tribo].
[Quando velhos textos descrevem ciganos que foram guiados até à Europa por
‘duques’ e ‘condes’, os autores meramente empregam os títulos usados durante
aquela época. Aqueles ‘duques’ e ‘condes’ eram, de fato, chefes de tribo].
[Na verdade, cada tribo cigana (vitsa),
cuja importância pode variar de dez a muitas centenas de caravanas (o
equivalente a muitas residências), reconhece somente a autoridade do chefe
eleito enquanto viver (a responsabilidade nunca é hereditária) por quê:
inteligência, força e sensibilidade para a justiça são inerentes ao
indivíduo. Ele é sempre avançado em anos. Sua autoridade
abrange a tribo inteira. Ele tem o direito de aplicar punições corporais e
ditar medidas de exclusão. Ele preside o conselho dos mais velhos e não
presta contas a ninguém. Chefes de tribos são iguais entre eles; não há
hierarquia baseada na importância da tribo. É o chefe que decide as
migrações. Em princípio, é a pessoa responsável pelo seu grupo; eles são
também, às vezes, tesoureiros da comunidade].
...................................................................................................................................................................................................
[A phuri dai
é a versão feminina do chefe da tribo. Ela é geralmente uma mulher velha,
cujo poder, embora oficioso e oculto, não é menos real. Sua influência é
exercida especialmente sobre mulheres e crianças, mas o conselho dos mais
idosos, na verdade o chefe, não desdenha em pedir seu conselho em matérias
delicadas. Ela é chamada ‘Bibi’ ou
‘Tia’. No papel da ‘phuri dai’
há traços claros do antigo matriarcado cigano].
Vamos colocar aqui, também de Clébert, excerto do mesmo livro, às p. 128 e
129, o capítulo sobre matriarcado, que se confunde e se mistura com o
patriarcado, dito predominante entre os ciganos.
It is not easy to clarify
the situation in regard to the matriarchal régime mentioned above. In any
case it is certain , as Martin Block reports it, that kinship was formerly
counted by lineage through the mother. Traces of this custom remain, this
author says, among the gypsies of Southern and Eastern Europe. When a man
marries a woman, he ‘enters’ her family, and returns to his own the moment
he becomes a widower. But as marriages generally occur within the same
tribe, it seems that this basic matriarchy has only a secondary importance.
However, among some tribes, children who are the offspring of different
groups speak the mother’s dialect, and not that of the father.
In actual practice, the
precise nature of consanguinity, whether it he by descent through the mother
or the father, is a minor question; the interesting fact is that the
essential nucleus of the Gypsy organization is the family. Authority is held
there by father who, in the family, plays a role similar to that of tribal
chief. As for the woman, on the family scale she is the
phuri dai: her power is unofficial
and occult, but it is often of solid and undeniable reality. One example
will suffice to show the cohesion of family. As Jules Bloch says, ‘property
belongs to the family and not to the individual.’
[Não é fácil clarificar a situação concernente ao regime matriarcal
mencionado. Em qualquer caso, é certo como Martin Block registra, é que
parentesco foi antigamente considerado pela linhagem da mãe. Traços deste
costume permanecem, diz o autor, entre os ciganos do sul e do leste da
Europa. Quando um homem casa, ele entra na ‘família dela’, e retorna a sua
desde quando se torna viúvo. Mas como casamentos geralmente ocorrem na mesma
tribo, parece que o matriarcado básico tem importância secundária. Contudo,
entre algumas tribos, as crianças que se tornaram órfãs de diferentes
grupos, falam o dialeto da mãe, não o do pai].
[A prática atual, a natureza precisa da consangüinidade, se é descendente
direto da mãe ou do pai, é uma questão menor; o fato que interessa é que o
núcleo essencial da organização cigana é a família. Autoridade é mantida
pelo pai que, na família, exerce o papel similar ao do chefe da tribo. Como
pela mulher que, na escala de família é
phuri dai: seu poder é oficioso e
oculto, mas é frequentemente uma sólida e inegável realidade. Um exemplo
será suficiente para mostrar a coesão da família. Como Jules Bloch diz,
‘propriedade pertence à família e não ao indivíduo’].
Há um ditado, citado por Mirian Stanescon[6],
que referenda tese da força da mãe cigana:
Lê chave murre cheiangue murro nepoto
si, murre chavengue, sai avelas sar ti
avelas = Os filhos de minha filha,
meus netos são; os de meus filhos, serão ou não.
Leiamos, na Enciclopédia Mirador Internacional, o verbete CIGANO, p.
2403-2407, que nos dá esta informação, quando se trata de chefes ciganos:
Esses chefes (kapo ou
Rom Baro, ou voivoda na
Europa central) são as únicas autoridades políticas. Embora haja referências
a reis ciganos, não existe nem nunca existiu organização geral ou
internacional de ciganos. Os grupos são autônomos. Os
voivodas, duques, condes ou reis
cujos túmulos marcaram o caminho da grande migração medieval, eram apenas
chefes de grupo como os Rom Baro. Estes governam assistidos por um conselho, em cujas
decisões comuns a mulher velha (phuri
daj) tem grande influência, sendo consultada antes e depois de qualquer
decisão importante.
Existe um livro muito bom, de referência para os ciganólogos brasileiros.
Foi escrito há 70 anos, por J. B. D’Oliveira China[7],
intitulado Os ciganos do Brasil —
subsídios históricos, etnográficos
e lingüísticos. Separata da Revista do Museu Paulista, Tomo
XXI, editada em março de 1936. Vamos
transcrever alguns trechos que abordam o tema reis ciganos.
APÊNDICE (p. 297, do livro de D’Oliveira China)
O “Estado de São Paulo”, de 21 de fevereiro de 1936, publica o seguinte
telegrama:
“Congresso extraordinário dos ciganos. Varsóvia, 20 (Estado) — Os
representantes dos ciganos do mundo inteiro reúnem-se brevemente em Rowne,
na Polônia, em congresso extraordinário”.
“Estarão presentes oito “reis”, inclusive o dos ciganos brasileiros,
Titulesco Kwiek, que assumirão a presidência do congresso incumbido de
escolher o “rei” dos “reis”, isto é, o soberano de todos os ciganos”.
“O congresso examinará igualmente a possibilidade de escolha para os ciganos
de um território em que pudessem estabelecer-se definitivamente.”
Seguem algumas observações sem maior interesse para o tema, e então pulamos
para a p. 301:
POLÍTICA
Os ciganos, sejam de que origem for, vivem em todos os lugares do mundo sob
a orientação de um chefe. Na Polônia, Miguel II foi recentemente coroado Rei
dos Ciganos e reconhecido oficialmente pelo governo daquele país. No Brasil,
no entanto, os zíngaros não obedecem a ninguém. Cada qual faz e procede como
entende.
Essa liberdade de ação, que data de longos anos, está ameaçada de uma
transformação radical, pois se cogita nomear um chefe para os ciganos do
Brasil. Menciona-se o nome do futuro “rei”: Titulesco Kwiek.
PROGRESSISTAS E CONSERVADORES
Foi apurando essa notícia que coligimos os detalhes descritos nesta
reportagem e que descobrimos, também, já existem, embora não oficialmente,
dois ciganos mais ou menos tidos com chefes da sua “grei” [no Brasil]. A um
cabe a liderança dos ciganos da Grécia e a outro, a dos ciganos da
Iugoslávia. Pelos motivos expostos, são rivais.
Definindo politicamente essa situação, poderemos denominar os ciganos da
Grécia, que trabalham, de progressistas, e os da Iugoslávia, que vivem
enraizados nas tradições do passado, de conservadores.
Sobre a questão que atualmente agita os ciganos do Brasil, ouvimos as duas
facções e pudemos concluir que entre uma e outra não existe possibilidade de
entendimento.
Lola Popadopulos, progressista
É o maioral dos ciganos gregos [no Brasil]. Como os demais do respectivo
núcleo, Popadopulos é trabalhador. Na sua residência, no Méier, recebeu-nos
gentilmente e ofereceu-nos a única cadeira que havia. Antes de tomar
conhecimento de nossa missão, pensou que fôssemos da polícia e exibiu-nos
mais de cinqüenta documentos comprovando a sua qualidade de especialista na
estanhagem de caldeirões. [....]. Perguntamos a Lola Popadopulos o que sabia
sobre a nomeação de um chefe para os patrícios e se conhecia Titulesco Kwiek.
— Não conheço este nome — respondeu-nos. Aqui no Brasil pelo menos, não
existe nenhum cigano com esse nome. Com relação ao restante, devo esclarecer
que não estou autorizado a falar. [....]
Com dificuldade vencemos o mutismo de nosso entrevistado. Depois de grande
relutância, resolveu contar-nos alguma coisa, dizendo-se que de fato se
falava nessa nomeação.
Vasil e Sonia Kwiek
— Cogita-se é verdade de se nomear um chefe para meus companheiros, mas não
é Titulesco o nome do escolhido é sim Vasil Kwiek, descendente direto de
Miguel Kwiek, atual Miguel II, Rei dos Ciganos da Polônia. Naturalmente,
Vasil não será rei, e de acordo com as disposições constitucionais deste
país [Brasil], será apenas um chefe. É casado com Sonia Kwiek, também da
realeza cigana. [....]
Moisés Petrowick, conservador
Moisés Petrowick é elemento de destaque entre ciganos da Iugoslávia. Muito
gordo e folgazão. Quando não está no botequim da rua Senador Pompeu, está na
Brahma, bebendo uns chopes. A esposa sai de casa de manhã e só volta à noite
lendo a “buena dicha”. Indagamos do seu modo de ver as coisas. Falamos se
sabia que os ciganos iriam ter um chefe.
— Não sei, ou por outra, não sabemos disto — declara-nos com firmeza. — Nem
tão pouco nos interessa esse assunto. Eu não pretendo obedecer nem ser
obedecido, esse caso de nomeação de alguém para nos chefiar é praticamente
impossível. Estamos no Brasil e enquanto aqui estivermos só obedeceremos a
um “rei”, que é a Polícia. Ela é quem ordena e nos dirige. O resto é
conversa-fiada. [....]. Agora, se a polícia nomear um cigano e fazê-lo
responsável único pelos nossos atos, isso é outra coisa. Nestas condições,
aceitaremos um chefe. De outra forma não tomamos conhecimento dessas
novidades.
Por ser interessante transcreveremos esta observação de J. B. D’Oliveira
China:
“Lemos também algures que num período da Idade Média eles [ciganos] estavam
sujeitos a um chefe misterioso a quem chamavam Rei de Thunes”. Com mesmo
nome encontramos na obra de Victor Hugo
O corcunda de Notre-Dame.
“...eu Clopin Trouillefou, rei de
Thunes, sucessor do grande Coërse...”
Ainda encontramos esta anotação em D’Oliveira China:
Os gitanos da Espanha também tiveram seu craly (ou crayi) ou rei por eles
eleito e cuja residência teria sido, por algum tempo, a cidade de Saragoça,
(op. cit. p.19).
Aqui terminamos com os excertos de D’Oliveira China, vamos procurar outros
textos.
No livro Gypsy & Demons
divinities — The Magic and Religion of the Gypsies, autor Elwood B. Trigg[8],
à p. 19, lemos:
Some gypsies believe that
there was a time, many ages past, when there lived a great gypsy emperor
named Pharaun (Pharoah) who rule a rich and powerful empire which extended
over the entire world.
[Alguns ciganos acreditam que houve um tempo muitos anos atrás quando viveu
um grande imperador cigano chamado Faraó, que governava um rico e poderoso
império extensivo sobre o mundo inteiro].
Em outros autores vimos referências que nos induzem a crer que pelo menos
tinham chefes que se intitulavam condes, duques etc. Lemos em Grellmann[9], in
Dissertation on the Gypsies, p.
53:
— “Nos velhos livros, nós encontramos menções a cavaleiros, condes, duques e
reis. Não somente Krantz e Munster mencionaram condes e cavaleiros em termo
gerais, entre os ciganos; outros povos nos deram os nomes desses
dignitários; Causius cita o duque Miguel; Muratori, o duque Andréas;
Adventinus registra o rei Zindelo, não se falando de inscrições em
monumentos erigidos em diferentes locais
in
memoriam ao duque Panuel, conde
João e o nobre cavaleiro Petrus, no século XV”.
E Grellmann assinala que são imitações do que os ciganos viram nos países
civilizados, que percorreram. Em longa explanação, ele admite os chefes
ciganos Waywodes, na Hungria.
Ainda o mesmo livro de
Grellmann às p.
103/104
cita o decreto da Dieta de Augsburg onde, no art. 4o,
está textualmente: In a decree of the
Empire, of fifty years later date, a regular complaint, preferred on account
of the passports granted by various Princes, to the Gypsies, and which are,
by the Diet, declared to be null and void. Em nossas palavras, a
Dieta de Augsburg cancelou os passaportes e/ou salvos-condutos concedidos,
no passado (há cinqüenta anos) aos ciganos, por numerosas reclamações
proferidas contra eles.
Não obstante o vaivém de Grellmann, podemos deduzir que, em tese, ele
admitia a existência de grandes chefes ou líderes ciganos.
Encontramos ainda esta
explicação em Sir Richard Francis
Burton[10]:
The Jew, the Gypsy and El Islam, p.
263:
“In 1496, Bishop
Sigismund at Funf-Kirchen ordered iron cannon-balls from the gypsies to be
used against the Turkish invaders of Hungary; and he was doughty supported
against the Turks by King Zindelo, Dukes Miguel and Andrew, by counts Manuel
and Juan, by the ‘nobel knight’ Pedro, an by the chief Tomas Polgar”.
[Em 1496, o bispo Sigismundo em Funf-Kirchen, usou balas de canhão
fabricadas pelos ciganos, contra os invasores turcos, na Hungria; e ele foi
denodadamente apoiado pelo rei Zindelo, duques Miguel e André, pelos condes
Manuel e João, pelo nobre cavaleiro Pedro e pelo comandante Tomas Polgar,
contra os turcos].
Então, podemos dizer que àquela época, na Hungria, os ciganos tinham alguma
expressão de nobreza. Hoje alguns, ‘ciganólogos’ discordam abertamente sobre
a existência de realeza cigana. Agora, em face dos fatos históricos
apresentados, dos grandes estudiosos citados, esperamos que os cientistas de
plantão reformulem suas idéias ou apresentem outros fatos. Muito melhor do
que falar em realeza cigana, seria mais correto usarmos chefe de grupo, kapo,
barô, rom barô, puro, tio etc. ou de
kumpanhia, ou voivodes, como os atuais lideres são chamados. Tais chefes podem ter
jurisdição sobre poucas ou muitas famílias. Geralmente, são homens
reconhecidos pelo senso de justiça e sabedoria, bem como pela lealdade ao
seu povo e a sua cultura. O chefe, com outros mais velhos, decide questões
relativas ao bem estar do grupo como um todo, e também julga, podendo
decidir pela exclusão de um membro, temporária ou definitivamente, o que é
uma terrível pena para o cigano.
Rápida pesquisa nos livros História do
povo cigano, de Angus Fraser (Teorema, 1995);
O povo cigano, de Olímpio Nunes
(Apostolado da Imprensa); Moeurs et
coutumes des tziganes, de
Martin Block (Payot); Les tziganes,
de Jules Bloch (Presses Universitaires de France); mostra que estes autores
repetem as mesmas lições (com outras palavras) de Grellmann e de Richard
Burton. Portanto, nada acrescentaram que valesse a pena reportar.
A enciclopédia ESPASA-CALPE
à p. 253 nos apresenta um quadro de Mariano Fernandez, príncipe dos ciganos,
de autoria de Vortuay. Como se nota, sempre há alguém da realeza gitana por
aí. E à p. 217 relata a saga dos nobres ciganos como todos relatam, só que
com mais detalhes sobre o rei Sindel, condes e duques. Vale a pena consultar
a Espasa-Calpe.
Pinçaremos agora algumas notícias da imprensa eletrônica, jornais e
revistas:
...em dezembro de 1961, o prestigioso jornal
Le Monde publicou um artigo
intitulado “A impostura de Vaida Voievod III: os ciganos da França não
querem nem uma ilha nem um Rei”. A informação consignava declarações do
capelão nacional dos ciganos e zíngaros da França, padre Juan Fleury, que
qualificou Sua Majestade de “mitômano perigoso”. [....] “É um impostor,
‘advertiu’, seu nome é estranho, Vaida é um nome próprio e Voievod é um nome
comum que designa o chefe; o mais lógico seria que se chamasse Vaida III”.
A morte, em abril de 1967, de Georges Colomba, rei dos ciganos da França,
indica a influência do catolicismo francês entre os ciganos: Colomba, embora
protestante, foi enterrado segundo o rito católico. (id. Ibidem)
Jornal do Brasil de 27 de junho de 1967 — Paris (AFP-JB) — Comparando a
sorte de seu povo à dos judeus, o Rei dos ciganos reclama o direito a se
instalar na Somália, “terra de nossos antepassados longínquos”. Vaida Voivod
III, Presidente da comunidade mundial de ciganos, anunciou anteontem que
exigirá das Nações Unidas um estatuto jurídico, a fim de conseguir na
Somália “um bastião de defesa, onde possamos refugiar no caso de desgraça”.
[....] Voievod III afirmou que seu reinado se exercia sobre nove milhões de
ciganos dispersos em todo o mundo. [....]
O Globo de 25 de março de 1973 — Morre aos 70 anos a Rainha dos ciganos
norte-americanos — Linden, Nova Jersei — Sua Majestade Mary Mitchell, a
rainha dos ciganos dos EUA, morreu aos 70 anos de idade e foi enterrada
sexta-feira no cemitério de Linden, com um colar de moedas de ouro de 50
dólares e uma nota de mil dólares presa na mortalha “para pagar suas
despesas no Céu”. A rainha cigana, que sucedeu no trono sua mãe, foi vestida
com uma bata azul com incrustações de ouro e uma capa com gola de pele. Suas
fossas nasais, olhos e ouvidos foram tapados com pedras preciosas. Quando o
caixão desceu à sepultura, os mil ciganos presentes atiraram notas e moedas
sobre ele. O cortejo fúnebre de Mary Mitchell foi feito em carros do último
tipo, chegados de todos os lugares dos EUA, e também do México. O caixão
saiu da funerária Peterson — nos últimos três anos, 25 enterros ciganos,
saíram de lá — num coche de quatro rodas, puxado por cavalos brancos.
Fundação Konrad Adenauer Sliftung, ano 99, n. 20/Veja de 8 de junho de 1977
— Cada grupo tem um chefe “natural”, não hereditário. Na família, o membro
mais importante é a mãe, que exerce autoridade sobre os filhos e é a dona do
patrimônio. O mesmo sistema se aplica à tribo, que tem uma mãe tribal, a
puri dai, guardiã do código moral. Os infratores são julgados por um
júri de “condes”. E, nos casos mais graves, a pena é o banimento da tribo.
Várias foram as tentativas de agrupar os ciganos sob o poder de um só
governante. Uma delas foi o aparecimento da dinastia Kwiek, inaugurada por
Gregory Kwiek, cigano polonês que, por volta de 1883, se declarou “rei dos
ciganos”. Durante seu reinado, realizou-se, em 1909, o único recenseamento
cigano de que se tem notícia; o censo informou que havia então na Europa 600
mil ciganos. Gregory abdicou em 1930 em favor de seu filho Michael II, que,
após sete anos de governo, foi sucedido por Janusz I. Este proclamou-se
administrador dos ciganos da Hungria, Espanha, Alemanha, Bulgária,
Iugoslávia e Polônia. Planejou ir a Genebra reivindicar um país para seu
povo, mas o projeto foi vetado por uma assembléia cigana. Seu ‘reinado’
durou apenas um ano. Sucedeu-o Mathew Kwiek, do qual não se tem maiores
notícias.
O Globo de 20 de outubro de 1979 — [....] A família Stanescon tem como chefe
do clã Miguel Nicolai Stanescon, que apesar da idade exerce grande poder
sobre a família. Ele é considerado o Rei dos ciganos, e tem 131 anos de
idade. Detém o título máximo da comunidade: Amporato.
O Globo de 31 de outubro de 1980 —
Festa cigana no casamento da princesa. Começaram na tarde de
terça-feira, com a matança e a preparação de centenas de animais para os
banquetes, e terminaram na tarde de ontem, com o baile de despedida dos
noivos, os festejos de casamento da advogada Mirian Stanescon Batuli, de 33
anos, considerada a princesa de quase dez mil ciganos do Brasil [....].
Folha de São Paulo, sexta-feira, 2 de novembro de 1990 — Governo romeno
reconhece ‘rei’ dos ciganos. Depois de um período de ostracismo, durante o
regime de Nicolau Ceausescu, os ciganos da Romênia voltaram a ter um ‘rei’,
que passou a ser reconhecido pelo governo — o Conselho Provisório de Unidade
Nacional, criado no mês passado. Ion Cioaba, o ‘rei’ em questão, e dois
outros ciganos têm agora representação no novo governo. [....].
Revista Manchete, no 2116, de
24 de outubro de 1992 — Viva o Rei dos ciganos — Na Romênia pós-Ceausescu
tudo é possível. O Empresário Ion Cioaba, por exemplo, acaba de proclamar-se
Rei dos ciganos e promete, como bom político, ouro e direitos humanos, do
alto de seus 57 anos de idade, recheado por 130 quilos de peso. Cioaba
também candidato a senador, ameaça enviar nada menos de 1,2 milhões de
ciganos a Bonn, se o Chanceler Helmut Kohl negar-se a devolver ao seu povo o
ouro confiscado por Hitler na Segunda Guerra — isto é a bagatela avaliada em
245 milhões de marcos. Ele já se considera o monarca de 3,5 milhões de
ciganos, mas dos oito partidos de seu povo na Romênia, só é reconhecido
pelos nômades e pela União Livre e Democrática. Sem falar, é claro da
Rainha-Mãe, da esposa Margareta e dos muitos filhos e netos.
O Globo, quinta-feira, 2 de outubro de 2003, p. 34 — UE condena bodas de
cigana. Ana Maria, de 12 anos, nega ter tentado fugir do noivo. Bucareste.
No dia em que o governo da Romênia e a União Européia pediram a abertura de
uma investigação para apurar se a princesa cigana Ana Maria, de 12 anos, foi
forçada ao casamento — realizado no sábado — a jovem romena apareceu na
televisão ao lado do pai, o rei cigano Florin Cioaba, e do noivo, Brita
Mihai, de 15 anos, para negar que tenha feito algo contra sua vontade.
[....]. Cioaba não permitiu que a filha fosse examinada. — Não há motivo
para fazermos exame de corpo de delito. As crianças queriam se casar e os
pais concordaram — afirmou ele, lembrando as tradições ciganas.
E na Internet, sobre o mesmo caso:
Com alguma surpresa, Vasile Ionescu, do Centro Romani para Políticas
Públicas pela Emancipação dos Ciganos, juntou a sua voz à de Cioaba quando
afirmou: “O casamento da princesa não foi arranjado à força. Ela é tão
preciosa para o rei como seus olhos, que ele não teria feito nada contra a
vontade dela. Devemos manter nossas tradições vivas para manter intacta a
nossa identidade e para sobreviver. É imoral e perigoso proibir um costume e
ninguém tem o direito de fazer isso”.
Há um livro do escritor Peter Maas,
com o título O rei dos ciganos, onde à p. 10 conta a estória de Steve Tene, que
seria neto do rei cigano Tene Bimbo, mas como o livro é de ficção, não
daremos mais informações do que esta: “O
rei Tene Bimbo, juntamente com a rainha Mary, estabeleceu seu
quartel-general em Chicago por volta de
1920.”
Na Internet, outra vez, no site
http://www.vurdon.it/brazil.htm encontramos:
1. A organização social e
familiar. É quase supérfluo dizer que não existem e nunca existiram reis nem
rainhas dos Ciganos, assunto predileto de jornalistas levianos e
desinformados. Através de um exame cuidadoso do comportamento social do
nômade se destaca que o elemento preponderante de sua personalidade é
caracterizado por uma forte tendência ao individualismo.
Aqui encerramos o apanhado sobre a realeza cigana. Sabemos que sequer demos
um arranhão na montanha de papel que existe por aí tratando de tão espinhoso
assunto. Como prometemos, nos limitamos a expor as várias correntes.
Esperamos que os leitores e leitoras nos enviem contribuições que possam
enriquecer o trabalho. Todas as sugestões serão consideradas e aceitas desde
que atendam ao objetivo que é esclarecer se existem ou se existiram reis,
rainhas, príncipes e princesas dos ciganos.
Achamos, finalmente, que o tema é despiciendo para quem ajudou a construir
as pirâmides do Egito, o templo de Jerusalém e, quem sabe, os jardins
suspensos da Babilônia; ser rei, príncipe, duque, conde ou cavaleiro é
insignificante. Ora, direis, isto é fantasia! Então, por que os ciganos são
chamados povo do faraó? (Faraó-nepek).
Por que aparece tão fortemente no imaginário e no arquétipo cigano, ser
oriundo do EGITO[11]?
Por que os ciganos rememoram um legendário faraó que governou um império e
era também cigano? Vamos unir todos os clãs. A união faz a força.
Parafraseando Zurca Sbano[12]:
Todos ciganos são reis... Reis da
liberdade. E, segundo Jean-Pierre Liégeois, in
Ciganos e itinerantes o “rei dos ciganos” só existe na imaginação
dos não-ciganos.
E então vamos ver o que um
scholar [erudito] inglês, George Borrow escreveu sobre ciganos. Antes,
queremos levantar esta questão: Como pode um pastor, viajante e sábio —
conhecedor de mais de 100 idiomas — devotar tanto preconceito contra os
ciganos e se autodenominar romany rye
(amigo dos ciganos? Na verdade, com amigo igual a este os ciganos podem
dispensar os inimigos). Inegavelmente, o homem (Borrow) viajou pelo mundo
afora, da Rússia aos Bálcãs e à Espanha e como falava romani fluentemente,
sempre foi bem recebido entre ciganos, mas ele raramente utilizou esta
facilidade em benefício dos nômades, pelo contrário, registrou o que viu o
que não viu e levantou as piores suspeitas sobre este povo tão sofrido
(roubo, canibalismo, rapto de crianças, paganismo etc.). Mesmo assim, nossa
imparcialidade nos leva a registrar alguma coisa de George Borrow, lembrando
sempre que este homem tinha ódio aos ciganos. Vejamos o que nos diz, às
páginas 109, 110 e 11 do seu livro Lavengro (o mestre das palavras, romani), escrito em 1851 e editado
por Thomas Nelson and sons, Ltd. London, Edinburgh, New York, Toronto, and
Paris, sd. O tema é pertinente, pois falamos de
reis ciganos.
Copiaremos primeiramente o texto em inglês, depois em português.
Chapter XVII
[....] And where are your father and mother?
Where
I shall never see them, brother; at least I hope so.
Not dead; they are bitchadey pawdel.
What’s that?
Sent across — banished.
Ah! I understand; I am sorry for them.
And so you are here alone?
Not quite alone, brother.
No,
not alone: but with the rest — Tawno Chikno takes care of you.
Takes care of me, brother!
Yes, stands to you in the place of a father — keeps you out of harm’s
way.
What do you take me for, brother?
For about three years older than myself.
Perhaps; but you are of the Gorgios, and I am a Rommany Chal. Tawno
Chikno take care of a Jasper Petulengro!
Is that your name?
Don’t you like it?
Very much, I never heard a sweeter; it is something like what you
call me.
The horse-shoe master and the snake-fellow, I am the first.
Who gave you that name?
Ask
Pharaoh.
I would, if he were here, but I do not see him.
I am a
Pharaoh.
Then you are a king.
Chachipen Pal
I do not understand you.
Where are your languages? You want two things, brother: mother sense,
and gentle Rommany.
What makes you think that I want sense?
That, being so old, you can’t yet guide yourself!
I can read Dante, Jasper.
Anan,
brother.
I can charm snakes, Jasper.
I know you can brother.
Yes, and horses too; bring me the most vicious in the land, if I
whisper he’ll be tame.
Then the more shame for you — a snake-fellow — a horse-witch — and a
lil-reader — yet you can’t shift for yourself. I laugh at you, brother.
Than
you can shift for yourself?
For myself and for others, brother.
And what does Chikno?
Sells me horses when I bid him.
Those horses on the
chong were mine.
And has he none at his own?
Sometimes he has; but he is
not so well oft as myself. When my father and mother were bitchadey
pawdel, which, to tell you the truth, they were, for
chiving wafodo dloovu[13],
they left me all they had, which was not a little, and I became the head of
our family, which was not a small one. I was not older than you when that
happened; yet our people said they had never a better kralis to contrive and
so well known that many Rommany Chals, not of our family, come and join
themselves to us, living with us for a time, in order to better themselves,
more especially those of poorer
sort, who have little of their own. Tawno is one of these.
Is
that fine fellow poor?
One of
the poorest brother. Handsome as he is, he has not a horse of his own to
ride on. Perhaps we may put it down to his wife, who cannot move about,
being a cripple, as you saw.
And
you are what is called a Gypsy King?
Ay, ay; a Rommany Kral.
Are there other kings?
Those
who call themselves so; but the true Pharaoh is Petulengro.
Did
Pharaoh make horse-shoes?
The first who ever did, brother.
Pharaoh live in Egypt.
So did
we once, brother.
And
you left it?
My
fathers did, brother.
And
why did they come here?
They
had their reasons, brother.
And
you are not English?
We are
not Gorgios.
And
you have a language of your own?
Avali.
This
is wonderful.
[....]Em
seqüência, a tradução livre:
[...] Onde estão seus pais?
Onde jamais os verei, irmão, assim espero.
Não morreram?
Não, não estão mortos, eles foram bitchadey pawdel [expulsos].
Que é isto?
Expulsos, banidos.
Entendo. Sinto por eles. Você está aqui sozinho?
Não muito só, irmão.
Não, não só, mas com o resto — Tawno Chikno cuida de você.
Cuida de mim, irmão!
Sim, permanece com você no lugar de seu pai — cuida para que você não se
machuque.
Quanto tempo me dá, irmão
Três anos mais velho do que eu.
Talvez, mas você é górgio (não-cigano), eu sou rom (cigano). Tawny Chikno
cuida de Jasper Petulengro. (petulengro=ferreiro).
Este é o nome dele?
Você não gosta?
Muitíssimo. Eu nunca ouvi algo tão agradável é algo como você me chama.
O mestre ferreiro e amigo da cobra. Eu sou o primeiro.
Quem te deu este nome?
Pergunte ao Faraó.
Eu o faria, se ele estivesse aqui, mas não o vejo.
Eu sou o faraó.
Então você é um rei.
É verdade, irmão.
Não estou entendendo.
Onde está seu idioma? Você quer duas coisas, irmão: sentido de mão e
gentileza do rom.
O que faz você pensar que eu quero sensibilidade?
Por que sendo tão velho,ainda não conduz você mesmo!
Posso ler Dante, Jasper.
Eu sei, irmão
Posso encantar cobras, Jasper.
Sei que pode, irmão.
Sim, e cavalo também; traga-me o mais manhoso da terra, se sussurro ele fica
dócil.
Então, mais vergonha para você — amigo de cobra, feiticeiro de cavalo e
leitor do livro — ainda não pode mudar a si próprio. Rio de você, irmão!
Então você pode se mudar?
A mim e aos outros, irmão.
Que faz Chikno?
Vende cavalos para mim quando ponho
em leilão. Aqueles cavalos na (chong) eram meus.
E ele tem alguns?
Às vezes tem, mas freqüentemente não tão bons como os meus. Quando meu pai e
minha mãe fora exilados, digo a você a verdade eles foram
chiving wafodo dloovu, eles
deixaram para mim tudo que tinham o que não era pouco e u tornei-me o cabeça
de nossa família (o chefe), que não era pequena. Eu não era o mais velho
quando isto aconteceu, nosso povo dizia que jamais tiveram rei melhor para
imaginar e planejar para eles e mantê-los em ordem. E isto é bem sabido
por muito roms, não os de nossa
família, vê e se juntam a nós, moram conosco por algum tempo, a fim de
melhorar eles próprios, mais especialmente aqueles absolutamente pobres, que
têm muito pouco. Tawno é um deles.
Que é um bom amigo pobre?
Um dos mais pobres. Irmão. Simpático ele é, não tem sequer um cavalo para
cavalgar. Talvez cedamos um a sua mulher para se mover por aí, pois ela é
aleijada, como você sabe.
E você é o chamado Rei dos ciganos?
Sim, sim, Rommany Kral.
Existem outros reis?
Há os que se chamam assim, mas o verdadeiro Faraó é Petulengro.
O Faraó faz ferraduras?
Ele fez a primeira, irmão.
O Faraó morou no Egito?
Moramos uma vez, irmão.
E você deixou-o
Meus pais deixaram, irmão
E por que vieram para cá?
Eles tinham suas razões, irmão.
Você não é inglês?
Não somos ingleses (górgios).
E vocês têm língua própria?
Certamente.
Isto é maravilhoso.
[....]
ADENDO
Após dar o trabalho como
terminado, tomamos conhecimento de texto do professor Ático Vilas-Boas da
Mota[14]
na
Revista do Instituto
Brasileiro de Relações Internacionais
(IBRI), com o título
Ciganos: uma minoria discriminada,
onde discorre (com brilho) sobre o tema
reis ciganos. Pedimos licença ao
mestre, para transcrevê-lo totalmente, porque nos apresenta uma visão
peculiar, não abordada por nós, nas páginas anteriores. Eis o texto:
Os intermitentes movimentos de alguns
grupos ciganos em torno de uma personalidade a quem possa conceder o título
de rei
ou de voivoda
são uma prova evidente de que este povo já possuiu, em época remota, um
estado organizado. Das profundezas de seu inconsciente coletivo, ressurge um
arquétipo de governo monárquico sob a forma messiânica de um reunificador,
ainda que, ás vezes, o acontecimento se apresente ridículo ou revestido de
humor, bastando para isso atentar para as notícias divulgadas pelo
Le Berry Républicain
(de 6 de setembro de 1964), ao anunciar o surgimento, na Holanda, de um novo
rei cigano de nome Koka Petalo I, que alimentou páginas inteiras da imprensa
européia, graças à notícia de seu anunciado casamento que se realizou de
maneira suntuosa. Rei ele se julgava das “tribos” (?) Modeste Colombar,
originários do sul da Bélgica. O pobre rei, no dia seguinte ao seu
casamento, fora agarrado e encarcerado na cidade de Amsterdã, devido às
queixas de seus credores. É bem verdade, que logo foi posto em liberdade: “C’est
une histoire idiote, a-t-il dit, mes créanciers auraient mieux fait de me
rappeler que j’avais quelques petites notes à acquitter”. Mas os credores
tinham pressa e os súditos não lhes ensinaram que as contas de um monarca
são pagas pelo tesoureiro real, o qual, àquelas horas já teria
dado no
pé, deixando o rei afogado em sua
própria fantasmagoria.
Outro monarca cigano que conseguiu certa
repercussão na imprensa do Velho Continente foi Christian Modeste, falecido
em 1966, no Hospital de Lovaina (Bélgica), com a idade de 52 anos. Ele se
intitulava “Roi des Gitans d’Europe Occidentale”. A muitos poderia causar
espécie, mas o rei Modeste chegou a presidir, em Pomezia (pertinho de Roma),
o Congresso Mundial dos Ciganos, conforme se pode ler no
Dépêche du Midi
de 13 de abril de 1966. Quem o sucedeu foi Octave Peterbos, considerado
progressista, enquanto o seu predecessor era tido como conservador.
A história da
realeza cigana,
talvez por sua natureza intermitente, superposta, concomitante, embora
resistente, não foi ainda escrita. Os dados pertinentes surgem dispersos e
fragmentados, em muitos estudos sobre os ciganos, geralmente carregados de
humor ou de ironia, conquanto esboçados com simpatia. Por falar em realeza,
no mesmo ano, na Holanda, em Bois-le-Duc, foi sepultada com todas as suas
vestes nobres, inclusive jóias, a primeira dama cigana Augustina Westhimer,
esposa de Joffre Westhimer, príncipe da família Petalo, irmão do rei
Fernando. Vasto é o campo a ser explorado, a história da realeza cigana
constitui a história do próprio povo zíngaro, projetada nas aspirações de
quem consegue fazer da fantasia e da realidade, um só corpo a serviço do
sonho.
ANEXO
A seguir, transcreveremos,
verbatim, o subitem do verbete
GYPSY —
Foundation of a
Dynasty, da Enciclopaedia
Britannica, 1962, vol. 11, p. 43 [Ver tradução livre à p. 4]:
Foundation of a dynasty — The only attempt by gypsies to found a dynasty is associated with the
family of Kwiek. Gregory Kwiek, a kettle-smith of Polish origin, was born
about 1856 and spent his early life in Italy or Spain. About 1883 he
declared himself “king of the gypsies” and ruled them mainly from Poland.
Having spent much of his lifetime between making kettles and touring the
gypsy camps of Europe to gain favour and raise revenue, he abdicated in
favour of his son , born at Bielcza in 1878 or
1886. In
1928 he became Michael II and was crowned near Warsaw in 1930. He tried to
set up a Romany tribunal at Poznam. A brother Basil disputed the throne and
a third brother, “kingmaker”[*] Matthew returned from Spain to arbitrate,
settling for Basil, with Rudolf as chancellor. The brothers Basil and Rudolf
plotted to force Michael out of Poland. In 1934 Michael attended a gypsy
congress in Rumania, returned was confirmed king by a gathering at Lotz, but
fearing vengeance fled to Czechoslovakia and was nor heard of again. Matthew
was murdered in 1935, and Basil reigned unchallenged until Rudolf
transferred his favour to another brother Janusz, who in July 1937 was
crowned Janusz I, “king of the gypsies” with treat ceremony at the Warsaw
stadium, in full view of 15,000 gypsies. The officiating priest was Orthodox
Bishop Theodorowicz. The robes and regalia had been borrowed from the Warsaw
opera house. Rudolf had meanwhile renounced all claim to the throne in
return for an influential post in the cabinet; Sergej Kwiek became chief
adviser, Alexander Kwiek was made president of Federation of Gypsies an
Zdunek became financial advisor. Once the ceremony was over Janusz demanded
the takings from the stadium gathering, but this was refused by the
authorities until expenses had been paid. King Janusz thus began his reign
with an unbalanced budget, since he had promised to pay the expenses of his
electors and musicians. Finally, impoverished, re returned to village of
Milanowky, his new home, to carry on his trade.
Janusz
proclaimed himself ruler of the gypsies of Hungary, Spain, Germany,
Bulgaria, Yugoslavia and Poland, and planed to go to Geneva to plead for a
country for his people. But his rule was challenged about ten months later
on the ground that the senate of only 17 members did not constitute a
quorum. Other allegations were more nebulous, but the complaint that his
election had not been unanimous was justified. At one point his subjects
demand free elections. At this Kwiek dismissed both cabinet and senate and
regaled several hundred of friends, who thereupon confirmed his “royal”
status. His reign of about a year was followed by a shorter, that of another
Matthew Kwiek.
[* A
person who controls appointments to positions of high (esp. political)
authority]
Trecho da página
217, da Enciclopédia
Espasa-Calpe, verbete GITANO. (Não fizemos
tradução, pois está em espanhol, que se entende com um pouco esforço).
“En resumen, puede decirse que la gran difusón del pueblo
gitano en Europe comenzó en 1417 y el centro primitivo de la dispersión fué
Moldavia y Valaquia. Por dos grandes vias se difundieron los cíngaros, una
litoral otra interna; la del litoral seguió el rumbo de Persia e Mesopotamia
y Asia Menor, hacia el mar Caspio y el mar negro, donde pudieron encontrarse
con los que emigrabam por el litoral, désviandose entonces al NE., para
remontarse à las provincias septentrionales de Rusia y Siberia. Según
Colloci, qui es uno de los autores qu más han estudiado este pueblo, a lan
gran banda, compuesta de las del rey Sindel y duques Mihali, Andrash y
Panuel, por la Valaquia,
remontando el Danubio, fijandose y difundiéndose en Hungria. La banda del
duque Mihali, que es la que penetró en Europa, se dirige desde Hungria à
Viena y desciende
atravesando el N. De Italia é internándose en Suiza.
En Zurich se fracciona. Unos se remontan
à Alemania, y otros, síguiendo su rumbo descendente,
penetran en Francia hacia Marsella, attraviesan el Ródano, no muy lejos de
su desembocadura, y entran en Cataluña, llegando à Barcelona el 11 de Junio
de 1447. Original y curioso monumento hístórico de esta banda es la tumba
del duque Panuel, del conde Pedro y del conde Juan; la del primero se
encuentra en Steinbach, cerca de la ciudad de Fusternau y con una leyenda
que dice: Al Noble Señor el Señor Panuel, Duque del bajo Egipto y
Señor del cuerno del ciervo. El segundo fué
erigido en 1453 en Bautma en memoria del conde Pedro de Kleinschild, y el
tercero fué levantado en 1498 para honrar la memoria del conde Juan del Bajo
Egipto. Sobre las tumbas de los primeros se hallan esculpidos dos curiosos
blasones.
FINIS
[11] “A
cigana do Ingito / Caminha para Belém / Dar as graças ao menino / E
à Virgem parabém” //. In Etnografia portuguesa, de
J. Leite de Vasconcellos. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982.
Também esta quadrinha colhida no
Auto das pastorinhas, por
Ceição de Barros Barreto: “Sou cigana do Egito / que de muito longe
vem, / a descer montes e serras, / do Egito para Belém” //. Ou,
ainda nesta versão: Somos ciganas do Egito
/ Que viemos de Belém, / Adorar a um Deus menino / Nascido p’ra
nosso bem...//