Les Filles à la peau couleur d’olive, aux yeux noirs étincelants,
brisent le calme des nuits des rythmes sonores de leurs
tambourins aux longs rubans.
Les sons doux du violon emplissent le coeur, en chantant cet amour
ancien, neuf ou perdu, car la musique des gitans part d’un
esprit inaccessible, toujours libre, toujours beau.
Mystère et romanesque s’emparent de la nuit, jusqu’à ce que
la dernière ombre s’évanouísse dans la première aurore.
(In LP Impressions
Tziganes)
[As filhas de pele cor de azeitona, têm os olhos cintilantes,
quebrando a calma das noites os ritmos sonoros de seus
pandeiros de longas fitas. Os sons do violão enchem o
coração, cantando aquele amor antigo, novo ou perdido,
porque a música dos ciganos participa de um espírito
inacessível, sempre livre,
Sempre bela].
[Mistério e romance se apoderam da
noite, até que a última sombra desaparece ao raiar da
aurora.]
Oh, Deus, para aonde irei?
O que posso fazer?
Onde encontrar
Lendas e canções?
Não vou à floresta,
Não encontro rios.
Oh, bosque, meu pai,
Meu negro pai!
A era dos ciganos viajantes
Já passou. Mas eles estão diante de meus olhos,
São brilhantes,
Fortes e claros como água,
Que se escuta
Vagando
Quando quer falar.
Porém, coitada não tem voz...
...A água não olha para trás.
Foge, corre mais longe,
Onde olhos não a verão,
A água que vaga.
(Canção cigana de Papusza)
Ver
é transpor as barreiras da carne.
Hartis, o cigano, apud Pierre
Derlon
Ler clisos e mangue cayi
Se bichelan a mangues chorés
Barés sato mangues gransias
Gayardos sato mangues chijés
Oos olhos de minha morena
Assemelhan-se à minha infelicidade
Tão grandes como as fadigas
Tão negros como as minhas penas
In ciganos e itinerantes, de Jean-Pierre Liégeois
“A multitude of copper vessels gleams
on ceiling and wall like gypsy eyes in the firelight.”
The National Geographic Magazine, October, 1957, p.575.
[muitos vasos de
cobre brilham no teto e parede como olhos ciganos na
lareira]
Agora vamos
tratar, depois deste intróito, em detalhes, desta
inconfundível marca cigana: o seu olhar. Sabemos de outras
qualidades exteriores destes nômades, mas não falamos de
suas qualidades físicas/psíquicas intrínsecas e, dentre
todas, sobressai o seu olhar que é como que uma impressão
digital, indelével, inconfundível, intransferível. Os
ciganos têm usos e costumes peculiares: Se nômades, usam
roupas estampadas, tranças nos cabelos, dentes claros e
alguns dourados. Têm moral especial sobre virgindade, amor
aos filhos, respeito aos velhos, danças celebrando a vida,
leitura de sortes etc. Se sedentários ou seminômades, trajam
como nós, os não-ciganos. Variam esses detalhes de uma
vitsa[1]
para outra, e entre autores que enfatizam ou minimizam
certos estilos, comportamentos ou maneiras de ser desses
nômades. Num ponto todos são concordes:
o poder do olhar
cigano. Sempre encontrei referências no mesmo sentido,
qual seja um olhar de que não se esquece facilmente, um
olhar que escrutina nossa alma, que desvenda nossos mais
secretos pensamentos.
Aqueles que não concordarem com as traduções que fizemos ou
mandamos fazer, poderão ler direto nos originais, que
fizemos questão de transcrever. Solicitamos e agradecemos
todas as sugestões que nos enviarem.
Eu digo: Não há nenhum olhar tão maravilhoso como o do
cigano!
Pittard (1867-1962) atribuía-lhes [aos ciganos] um lugar
extremamente honroso na estética humana. Encontram-se entre
eles com frequência homens muito escorreitos e mulheres
muito belas. A sua tez ligeiramente trigueira, o cabelo de
azeviche, o nariz direito e bem formado, os dentes brancos,
os olhos castanhos
muito abertos, de expressão ora viva, ora lânguida, a
elegância em geral da sua postura e a harmonia dos seus
movimentos colocam-nos bem acima de muitos povos europeus no
que se refere à beleza física.
Apud Angus Fraser. In História
do povo cigano, p. 28.
Nossos artistas exponenciais cantam assim:
A cigana
(Roberto e Erasmo Carlos)
Na distância vi seu vulto desaparecer.
Nunca mais seu rosto eu pude vê.
Uma vez você apareceu na minha vida,
eu não percebi você de mim se aproximar.
Não sei de onde você veio e nem perguntei.
Talvez de alguma estrada que eu ainda
não passei
Seu
olhar me disse tanta coisa num momento
parecia que podia ler meu pensamento.
E no seu sorriso mil segredos percebi.
Então nos seus mistérios de repente
me perdi.
Minha mão você tomou nas mãos e
conheceu
minha vida inteira e o seu encanto me
envolveu
Toda minha história leu nas linhas que
mostrei.
O que estava escrito e o meu amor eu lhe
entreguei.
Hoje você anda por lugares que eu não
sei.
Vive nos meus sonhos e nas lembranças
que guardei.
Disse tanta coisa quando leu minha mão.
Você só não previu a minha solidão.
Outro poema do nosso cancioneiro popular:
Cigana feiticeira
seu feitiço me pegou,
a luz do seu olhar
tem tanto fogo e me queimou.
Pela primeira vez
deixou uma fogueira
dentro do meu coração.
Cigana feiticeira
feiticeira, ai meu Deus!
Eu gasto tudo, tudo,
pelos carinhos seus.
Me diga só
que tenho de fazer
pra virar cigano
e morar com você.
Passaremos a dar
alguns recortes de historiadores, escritores, romancistas,
compositores, poetas, etnógrafos, antropólogos e outros
pesquisadores/autores consagrados; iniciando com Grellmann[2]:
Their lively black
rolling eyes, are, without dispute, properties which must be
ranked among the lift of beauties, even by the modern
civilized European world, p.
9.
[Seus olhos vívidos, negros, revirados são, sem contestação,
únicos e devem ser classificados entre padrões de beleza,
nivelados ao mundo moderno, europeu.]
George Borrow em
Os ciganos (os
zíngaros ou uma descrição dos ciganos de Espanha[3]),
na Introdução, pp.
28 e
29,
quando descreve três ciganos, assim expressa:
... the eyes large, overhung with long drooping lashes, giving them
almost a melancholy expression, it was only when the lashes
were elevated that the Gypsy glance was seen, if that can be
called a glance which is a strange stare, like nothing else
in this world.
[... os
olhos grandes, movendo-se sob longas pestanas pendentes, que
lhes emprestavam uma expressão quase melancólica; era
somente quando as pestanas se elevavam que se via a mirada
do cigano, se se pode chamar de mirada àquilo que é um olhar
estranho, espantado, como nenhum outro no mundo.]
Mas é no capítulo
V,
pp.
278 e
279,
que G. Borrow nos descreve, com maestria, o olhar cigano.
Vamos transcrever o bastante:
There is something remarkable in the eye of the gitano: should his hair
and complexion become fair as those of the Swede or the
Finn, and his jockey gait as grave and ceremonious as that
of the native of Old Castile, were he dressed like a king, a
priest, or a warrior, still would the gitano be detected by
his eye, should it continue unchanged. [...], the eye of the
gitano is neither large nor small, and exhibits no marked
difference in its shape from the eyes of the common cast.
Its peculiarity consists chiefly in a strange staring
expression, which to be understood must be seen, and in thin
glaze, which steals over it when in repose, and seems to
emit phosphoric light. That eye has sometimes a peculiar
effect, we learn from the following stanza:
[Há qualquer coisa de extraordinário nos olhos do gitano: se
o seu cabelo e a sua tez se tornasse tão loura como as do
sueco ou do finlandês, e o seu ar de jóquei tão grave e
cerimonioso como o do nativo de Castela-a-Velha, se ele se
vestisse como um rei, um padre ou um guerreiro, ainda assim
o gitano seria denunciado pelos seus olhos, se continuassem
inalterados [....], os olhos do gitano não são grandes nem
pequenos, e não revelam acentuadas diferenças, na sua forma,
dos olhos dos outros homens. A sua peculiaridade consiste
principalmente numa estranha expressão de fitar, que para se
compreender, deve ser vista, e num leve vítreo que surge
sobre eles, quando em repouso, e parece emitir luz
fosfórica. Que os olhos dos ciganos têm algumas vezes um
efeito peculiar, vê-se pela seguinte estância]:
A gypsy stripling’s glossy eye
Has pierced my bosom’s core,
A
feat no eye beneath the sky
Could e’er effect before.
[Os olhos resplandecentes de um cigano
Perfuram o âmago do meu peito,
Façanha que nenhum olho debaixo do céu
Poderia jamais ter efetuado.]
O livro de Borrow (The Zincali) é extremamente cáustico com
os ciganos. Entretanto, ele era fascinado pelo poder do
olhar cigano e em várias páginas de livro fala sobre este
poder. O autor só expressa admiração por estes nômades
apenas nestas singularidades: O brilho do olhar; a
fidelidade da mulher cigana ao seu
rom; a virgindade; a ausência de prostituição de
mulheres ciganas. Mas, também não podemos deixar de
registrar que este escritor tinha grande preconceito contra
os ciganos. Em seu livro
Lavengro
(Mestre das palavras) assim se expressa em relação ao poder
do olhar cigano, p. 111, in fine:
Há! há!” cried the woman, who had hitherto sat knitting, at
the farther end of the tent, without saying a word, though
not inattentive to our conversation, as I could perceive, by
certain glances, which she occasionally cast upon us both.
“Ha, ha!” she screamed, fixing upon me two eyes, which shone
like burning coals, and which were filled with an expression
both of scorn and malignity; ...
[“Ha! há!” gritou a mulher que,
até agora, tricotava à distância, em um canto da tenda, sem
dizer uma palavra, embora não desatenta à nossa conversa,
como pude perceber por certos olhares de soslaio, que ela
dirigia ocasionalmente a nós dois. “Há, há!” ela berrou,
fixando em mim os dois olhos que brilhavam intensamente como
carvões acesos, e que estavam plenos de desdém e
malignidade;...]
Ao apresentar o
livro Magia cigana,
de Charles Godfrey Leland (Bertrand do Brasil, p.
XIII),
Margery Silver fala dos
profetas sombrios, de olhos
selvagens.
O antropólogo e glotólogo Francisco Adolfo Coelho em seu
livro
Os ciganos em Portugal,
à p. 192, reproduz notícia de um bando de nômades visto em
Elvas, e que entre outras informações nos dá idéia do
feitiço e da força do olhar cigano:
As crianças usavam igualmente botas até
ao joelho, mas pretas, e quase todas fumavam, de cachimbo.
Havia algumas com feições regularíssimas, e os olhos de
todos, negros e rasgados, faiscavam de brilhantes.
Com a palavra o
antropólogo Olímpio Nunes, in
O povo cigano pp.
140-1:
O que impressiona em primeiro lugar num cigano é o seu olhar.
Nem o vestuário, nem a tez, nem a língua e os costumes
denunciam melhor o cigano do que os seus olhos e o olhar. Os
olhos são escuros, sobretudo na mulher, e largamente
fendidos. É impossível descrever o olhar. De Dumas, a
Merimée, a Garcia Lorca, todos disseram verdade. O brilho do
olhar é exaltado, sobretudo nas raparigas. É ao mesmo tempo
inquieto, penetrante quando se fixa, móvel, constantemente
espiando, pois é a arma mais preciosa do cigano, que lhe
permite ver e prever. Reflete, ao mesmo tempo, a doçura e a
selvageria, uma imensa bondade e uma crueldade sem limites.
Um olhar sempre fugidio, mas apesar disso se fixa aqui e
acolá, num certo instante. Um olhar triste e altivo, amoroso
e duro. Um olhar cheio de paixão, mas duma paixão contida,
retida entre as pálpebras que deixam passar um estilhaço
metálico, magnético, saltando de olhos paradoxalmente
enevoados, velados, coalhados como mortos.
Jacques Cazotte,
no seu livro
O diabo enamorado, à p.
89
registra
ciganas de olhos
fundos e ardentes, ou na tradução[4]
de Raimundo Magalhães Jr. ...olhos cavos e fulgurantes..., In
Amores do diabo, p. 73.
Examinando o
livro de Mello Moraes Filho[5]
(1834-1919)
Os ciganos no Brasil e cancioneiro
dos
ciganos,
à p. 68, encontramos:
Os ciganos primitivos eram todos bronzeados, mas de um
bronzeado escuro e fixo; de olhos pretos, rasgados e
penetrantes.
Também, no livro
Quadros e crônicas , de Melo Morais lemos :
Como estrutura, como forma, esse povo é de uma beleza
admirável. As ciganas, quando moças, são de formosura
soberana: rosto oval, cabelos negros, olhos que brilham como
estrelas polares do amor. A mediana estatura é-lhes a regra;
são esbeltas e graciosas como as palmeiras da Ásia, a voz
lhes plange na garganta como cavatina nos desertos.
Quando, porém, as flores dos verdes anos se fanam, a
fealdade reflete-lhes velhice prematura, a pele se lhes
enruga, os olhares perdem as fascinações ardentes,
transformando-se elas em múmias, mas sem o lençol de
perfumes dos embasamentos.
Os homens, altos e tisnados, de cabelos caracolados e barba
pontuda, volvem os olhos cintilantes, sempre desconfiados e
afoitos nas lutas do imprevisto.
D’Oliveira China[6],
em seu
livro
Os ciganos do Brasil,
à p.
19,
assim os descreve:
... os olhos são muito negros e vivos , e nas mulheres,
justificam às vezes o que se diz do tom misterioso,
alternativamente melancólico e alegre dos olhos das ciganas
em geral...
E sumariando o
tema à página
139,
da mesma obra, diz que os ciganos, em geral têm os olhos
muito negros; às vezes castanhos ou esverdeados e os ciganos
do Brasil têm os olhos pretos, rasgados (vivos e
penetrantes); garços; raramente azuis em alguns.
Charles
Baudelaire, in Flores do mal [em
A caravana
dos ciganos]:
La tribu prophetique aux prunelles ardentes
Hier s’est mise en route, emportant ses petits
Sur son dos, ou livrant à leurs fiers appétits
Le trésor toujours prêt des mamelles pendants.
The prophetic tribe with burning eyes
Took the road yesterday, carrying the children
On its back, or giving to their fierce appetites
The ever ready treasure of pendent breasts.
[A tribo
profética a das pupilas ardentes
Pôs-se a caminho, tendo às costas a ninhada
Ou saciando-lhe a altiva gula imoderada
com o farto tesouro das mamas pendentes.]
Mirian Stanescon
— Rorarni[7],
Presidente da Fundação Santa Sara Kali,
escreveu o
livro
Lila Romai (Cartas
ciganas), o verdadeiro
oráculo cigano,
à p. 27 assim nos fala sobre o olho cigano:
Os ciganos dão muito valor aos seus olhos, porque eles lidam
não só com a visão física, como também com a visão
espiritual. Assim, quando o filho nasce, a mãe, até o sétimo
dia, lava seus olhos com água e uma pitadinha de sal,
diariamente. No caso das meninas, seus olhos são lavados
apenas no sétimo dia, com água e sal, e depois com água e
açúcar, pois sabemos que a arte divinatória é praticada
principalmente pelas mulheres ciganas —
DRABARIMÔS
(leitura DA SORTE).
O escritor e Prêmio Nobel de Literatura,
em 1999, Gunter Grass (que doou metade de seu prêmio aos
ciganos de Kosovo), assim se refere aos olhos ciganos:
They have the Evil Eye[8] and that stunning beauty that makes
us ugly to ourselves.
Because their mere existence puts our values
in question.
[Eles têm olhos feiticeiros e aquela estonteante beleza que
nos torna feios. Porque sua mera existência põe nossos
valores em questão.]
Os poetas louvam os olhos ciganos toda hora. Vamos registrar
mais este exemplo, uma estrofe, retirada da poesia
A cigana, de
Alexandrina Scurtu:
De que tela surgiste, ave, sereia e flama,
toda feita de luz e carne? Os teus olhares,
nas olheiras de fogo, acendem a fagulha
do amor e da paixão, da febre e da saudade.
O Prêmio Nobel de
Literatura, Gabriel Garcia Marques também nos brinda com
texto memorável, quando exalta a insuperável resistência do
cigano Melquíades, em
Cem anos de solidão[9],
à p. 11:
... a morte o seguia por todas as partes, farejando-lhe as
calças, mas sem se decidir a dar o bote final. Era um
fugitivo de quantas pragas e catástrofes haviam flagelado o
gênero humano. Sobreviveu à pelagra na Pérsia, ao escorbuto
no arquipélago da Malásia, à lepra em Alexandria, ao
beribéri no Japão, à peste bubônica em Madagascar, ao
terremoto na Sicília e a um naufrágio multitudinário no
estreito de Magalhães. Aquele ser prodigioso, que dizia
possuir as chaves de Nostradamus, era um homem lúgubre,
envolto numa aura triste, com um olhar asiático que parecia
conhecer o outro lado das coisas.
No celebérrimo
romance
Carmem, o genial arqueólogo e contista Prosper Merrimée[10]
(1803-1870)
nos deleita com esta bela descrição dos olhos da cigana:
Seus olhos, em particular, tinham uma expressão ao mesmo
tempo voluptuosa e selvagem, que jamais tornei a encontrar
num olhar humano. Olho de cigana, olho de lobo, é um ditado
espanhol que vem a calhar. Se não tendes tempo de ir ao
Jardim das Plantas para estudar o olhar de um lobo, observe
vosso gato quando espreita o pardal.
Era una belleza extraña y salvage, um rosro que al pronto
extrañaba,no se podía olvidar. Sobre todo, los ojos tenían
una expresíon voluptuosa y feroz a la vez que no he
encontrado después en ninguna mirada humana. Ojo de gitano,
ojo do lobo.
E no capítulo quarto da história de
Carmem, Merrimée
nos descreve bem os olhos dos ciganos:
Os caracteres físicos dos ciganos são
mais fáceis de distinguir do que descrever e, assim que
tenhamos visto um só, reconhecemos um indivíduo dessa raça
em meio de uma multidão. A
fisionomia, a expressão, eis o que sobretudo os
distingue dos povos que habitam o mesmo país. Sua pele é
morena, sempre mais escura do que aquela das populações com
as quais convivem.[Falava dos ciganos da Espanha]. Daí vem o
nome Calé, os negros, pelo qual eles se referem a si mesmos
com frequência. Seus
olhos, ligeiramente oblíquos, bem talhados, muito negros,
são sombreados por cílios longos e espessos. Só podemos
comparar seu olhar com o do animal selvagem. A audácia e
a timidez estão presentes ao mesmo tempo, e desse ponto de
vista, seus olhos revelam muito bem o caráter da nação —
astuciosos, insolentes, mas naturalmente tementes aos
golpes...
Júlio Verne, em
seu primoroso e espetacular livro de aventuras
Miguel Strogoff, assim nos fala sobre uma cigana (p.71)
e ressalta o seu olhar:
A seu lado, a cigana Sangarra, mulher de trinta anos, de
pele morena, alta, bem lançada, olhos magníficos e cabelos
dourados, estava em postura soberba.
Em outro parágrafo, à mesma página: “Estas ciganas têm os
olhos de gato! Vêm bem no escuro e aquela poderia bem
saber...”
Nosso Martins
Fontes[11]
(1884-1937),
no livro
Sherazade, nos
brinda com a inclusão do poema
Canção gitana, em
homenagem a Carmem
[de Bizet] que, por ser mui belo, transcreve-mo-lo
integralmente:
Eu sou a flor de Sevilha,
Rachel da terra do Sol!
no ouro da minha mantilha,
rubeja o fogo espanhol!
Quando as salas estão cheias,
nas verbenas do Alcazar,
concentro azougue nas veias
e vitríolo no olhar!
Danço a zambra, entre sorrisos,
quebrando os braços e os rins,
ao retintinir dos guizos,
tricolejar dos cequins!
A gambiarra ensandalada,
infanta e odalisca, eu sou
uma pantera assanhada,
que freima enfervorizou!
Goya, encarnando a luxúria,
fez a “Maja” granadi!
Só ele exprimiu a fúria,
que ardeja em meu frenesi!
Simulo uma labareda,
columbreando no salão,
longa víbora de seda,
a roxo-rei e zarcão!
E, esfuzilando, felina,
a rir e a gritar: — olé!
Minha peçonha assassina
enfeitiçou dom José!
Temperamento boêmio,
sendo agarena, talvez,
meu coração é irmão gêmeo
das gitanas do Xerez!
Há um nufar, que, um dia, no ano.
Um dia, apenas, reluz:
É assim o amor sevilhano,
é assim o beijo andaluz!
Repicando a castanhola,
minha estridência contém
arrogância de espanhola,
furor, de fera no harém!
São negros os meus cabelos,
como os meus olhos tafuis,
porém tão negros que, ao vê-los,
até
parecem azuis!
Os cascavéis do pandeiro
estridulam, em destom,
num trastralastrás
brejeiro,
ou surdo dongolodrom!
E, espaventando o exagero,
bela, bárbara, brutal,
fulveja meu desespero
na sarabanda infernal!
— Bravo! Que guapa y reguapa!
e, em delírio, um toureador
aos meus pés estende a capa,
embebedado de amor!
E, para que ele se zangue,
meu desprezo respondeu:
— Que culpa tem o meu sangue
de ser mais rubro que o teu?!
É volúvel, mas sincero,
meu coração de mulher:
A quem me quer, eu não quero.
Só quero a quem não me quer.
Nossos escritores vez por outra introduzem ciganos em suas
estórias. Lemos em Machado de Assis (1839-1908), fundador e
primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, este
trecho de Dom Casmurro,
que nos fala de Capitu e de seus olhos, mas com tonalidade
preconceituosa:
Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já
reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e
dissimulada.
Na revista
VEJA,
de 30 de janeiro de 2008, ed. 2045, ano 41, n.4, lê-se à p.
32, interessante polêmica sobre os olhos de Capitu.
Transcreve-se parte, em sequência:
... a pergunta sobre os olhos da personagem Capitu, do romance Dom
Casmurro, de Machado de Assis, encerra duas possibilidades
de resposta. As alternativas eram que Capitu teria olhos de
cigana, de ressaca ou de jabuticaba, e a resposta dada como
correta era a segunda opção. “A
alternativa B (ressaca) está correta, mas a
A (olhos de
cigana) também está”, diz Suzana, que tem mestrado em
literatura da língua portuguesa, pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. “Olhos de ressaca é a expressão pela
qual os olhos de Capitu ficaram mais conhecidos, a expressão
inclusive dá nome aos capítulos 32 e 123. Na ocasião mais
importante em que a expressão é usada, insinua que os olhos
de Capitu teriam a mesma força do mar em dias de ressaca,
que arrasta para dentro sem possibilidade resistência. No
entanto, no capítulo 25, os olhos dela são descritos como
olhos de cigana: “A gente de Pádua não é de todo má. Capitu,
apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou
nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada
[...]”. E no capitulo 148: “Agora, por que é que nenhuma
dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu
coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e
dissimulada.”
Polêmica à parte, por tudo que pesquisamos e escrevemos,
acho que o emérito Machado queria que aqueles olhos fossem
ao mesmo tempo de ressaca e de cigana.
Não podemos
olvidar o grande Alexandre Dumas[12],
que no seu livro O
salteador, assim descreve a cigana Giesta:
Seus cabelos, tão negros que chegavam a tomar, às vezes, o
reflexo azulado da asa do corvo, emolduravam, cindo sobre os
ombros, um rosto de um oval perfeito e de apurada dignidade.
Grandes olhos azuis como pervincas, sombreados por cílios e
sobrancelhas da cor dos cabelos, uma tez lisa e branca como
leite, lábios frescos como cerejas, dentes que fariam inveja
às pérolas, um pescoço cuja ondulação tinha a graça e a
flexibilidade de um pescoço de cisne, braços um pouco
longos, mas de forma perfeita, talhe flexível como o do
junco mirando-se num lago, ou da palmeira balançando-se no
oásis, pés cuja nudez permitia fossem admirados o pequeno
tamanho e a elegância, tal era o conjunto físico da
personagem sobre a qual nos permitimos chamar a atenção do
leitor.
O musicólogo
Sérgio Bittencourt Sampaio, membro da Academia Nacional de
Música, diz que na canção do toureiro da ópera
Carmem, de Bizet,
ouve-se:
Et songe bien, oui
songe en combattant
qu’un oeil noir te regard
et que l’amour t’attend (Ato
II)
[Pensa bem,
Pensa, ao combater,
Que um olhar negro te observa
E que o amor te aguarda.]
A jornalista Isabel Fonseca viajou no período de 1991-1995
com ciganos pela Europa Oriental, onde se encontra a maior
população cigana (8milhões) e escreveu o livro Enterrem-me
de pé, a longa viagem dos ciganos. Companhia das
Letras,1996; à p. 223, falando desses nômades em Varsóvia
nos diz ...Mesmo mantendo o tom plangente, numa desastrada
mímica de seus objetivos,
olham através ou adiante do doador em potencial. No parágrafo seguinte nos fala assim:
... que eram morenos, esguios,
de olhos brilhantes...
E no não menos
extraordinário romance O corcunda de Notre Dame[13],
de Victor Hugo[14],
lemos esta bela passagem
(p.17)
sobre a cigana Esmeralda, a heroína da história:
Como
poderia ser humano aquele corpo moreno e esguio, que
volteava ligeiro, conduzido por pés que pareciam ter asas? E
aqueles olhos pretos, muito grandes, que lampejavam a cada
volta, não eram sobrenaturais?
Na edição
Ediouro, ano
2003,
do livro de Victor Hugo,
op. cit., à p.
73 lê-se:
“Cada vez que essa figura radiante passava girando diante de
alguém, seus grandes olhos negros lançavam um relâmpago”. E
mais abaixo, na mesma página: “...seus cabelos negros, seus
olhos como uma chama, era criatura sobrenatural”. E à p.
290
quando mestre Jacques (Procurador do rei no Tribunal da
Igreja) conspirava com Cláudio Frollo (o arcediago de Notre
Dame) para prender a cigana “...O processo está pronto;
depressa se arranja tudo! Uma linda criatura, pela minha
alma, essa dançarina! Os mais lindos olhos negros que já vi!
Duas granadas[15]
do Egito!...” E ao longo das mais de quinhentas páginas de
seu romance, Victor Hugo volta, várias vezes, a falar do
olhar de Esmeralda. Curioso é que a cigana não era legítima
filha-do-vento, pois fora raptada de uma família, em Paris,
quando criancinha. Mas o romancista pôs nos olhos dela toda
magia do olhar autenticamente cigano.
No imortal
romance Por quem os
sinos dobram, seu autor, Ernest Hemingway, no capítulo
II, p. 16,
nos apresenta um cigano como se segue:
— Não deixe isto muito próximo da gruta — disse o homem
sentado, um rapaz de olhos azuis num rosto moreno, bonito
tipo cigano. — Há fogo lá dentro.
Em
A virgem e o cigano[16],
obra-prima de D. H. Lawrence, o olhar cigano aparece em
dezenas de páginas. A heroína parece ter sido encantada,
hipnotizada por ele. Vamos citar apenas esta passagem à p.
81:
Viu então o rosto do cigano; o nariz retilíneo, os lábios
móveis e delgados, o olhar direto e significativo dos olhos
negros, que pareciam feri-la num ponto oculto e vital,
infalivelmente.
No cancioneiro popular, a magia dos olhos e do olhar cigano
está presente em inúmeras canções. Encontramos mais de vinte
que falam do tema. Citamos quatro exemplos:
I
Olhos negros, penetrantes...
onde o olhar toma a alma,
invade audacioso os pensamentos
emitindo desejos...
faz sentir na tez o calor ansioso do toque.
..............................................................
In cigano sedutor,
de Yuri Gitano
II
Chegaste tímida, descalça e
com lascívia no andar
E dançaste e provocaste o meu desejo
e simulaste, insinuaste e dissimulaste
E súbito, olhaste no fundo de meus olhos e me desnudaste.
..................................................................
In Cigana, de José
Eduardo Camargo
III
Foi num entardecer em Valência
quando seus olhos ciganos cruzaram os meus
Inquietos, fugazes, desesperados,
devassando minha alma.
.................................................
Foi num entardecer em Valência
que perdi minha alma.
Entre o negro e o profundo dos teus olhos
e o som da tua guitarra profana.
In Paixão Gitana,
de Mhãinah
IV
Ela é bonita, seus cabelos muito negros
e seu corpo faz meu corpo delirar
O seu olhar desperta em mim uma vontade
de enlouquecer, de me perder, de me entregar.
......................................................
In Sandra Rosa
Madalena, de Sidney Magal
James Wells,
viajante inglês, que esteve no Brasil entre
1869 e 1886,
escreveu um livro[17]
e registrou um batuque onde descreve um indivíduo aciganado
da seguinte forma:
... um sujeito selvagem, com cara de cigano, belo, airoso
como um Adónis, com os olhos de uma gazela, mas que contêm o
fogo de um gato selvagem, um grande dançarino...
E em outra página do mesmo livro escreve: “...o cigano
aparece só. Os cabelos cacheados e longos, o cavanhaque e o
olhar longínquo e
desconfiado compõem a estranha imagem do cigano”.
O reverendo
Robert Walsh
(1772-1852)
transitou pelo Brasil em
1828 e 1829;
escreveu o livro
Notícias do Brasil,
ele nos diz que os ciganos tinham
olhos e cabelos
negros...
Não esqueçamos de que o R. Walsh foi um dos mais
preconceituosos escritores/viajantes que passaram pelo
Brasil. Nós o citamos, de passagem, porque não temos
preconceito como ele tinha, nem queremos ser como ele, que
não poupou o povo cigano.
Sir Richard
Francis Burton[18]
(1821-1890)
dá a seguinte nota no rodapé de seu
livro
The Jew, the Gypsy and
El Islam, p. 169:
Every observer has noticed the Gypsy eye, which films
over, as it were, as soon as the owner becomes weary or
ennuyé; it has also a remarkable “far-off” glance, as if
looking over and beyond you. Borrow (The Zincali) describes
it as a “strange stare like nothing else in this world”. And
again he says that “a thin glaze steals over it in repose,
and seems to emit phosphoric
light”.
[Todo observador notou o olho cigano, que fica como se
enevoado logo que o dono se torna enfastiado ou aborrecido;
ele tem também um notável olhar distante, um lampejo como se
procurasse no entorno e além de você. Borrow (The Zincali)
descreve-o como uma “estranha fixidez, jamais vista neste
mundo”. E de novo ele diz que “um fino embaçamento cobre-o
em repouso, e parece emitir uma luz fosfórica”.]
Falando dos Jats, habitantes (nômades) do noroeste da Índia,
provavelmente terra dos ciganos, Francis Burton assim
expressa:
The Jats in appearance are a swarthy and uncomely race,
dirty in extreme, long, gaunt, bony, and rarely, if ever, in
good condition. Their beards are thin, and there is a
curious (i.e. Gypsy-like) expression in their eyes.
[Os jats, na aparência são morenos trigueiros, Raça incomum,
suja ao extremo, alta, esquálida, ossuda, notavelmente quase
sempre em boa condição. As barbas são ralas e há uma curiosa
(i. é. como cigana) expressão nos seus olhos.}
Edward Rice, na
biografia de Burton, citado, nos dá importante contribuição
sobre o tema olhar cigano. Vamos às páginas
136
e
137, do
livro que ele escreveu sobre Burton:
A “curiosa expressão” que ele [Burton] viu nos olhos dos jats
era o chamado “olhar cigano” que sempre intrigava Burton
quando escrevia sobre os ciganos, pois sempre lhe diziam que
ele próprio (Burton) tinha esse mesmo olhar.
E transcreve palavras de Burton, ipsis litteris:
O cigano asiático
também tem aquela peculiar e indescritível aparência e
expressão do olhar, que é tão desenvolvida nos roma
[ciganos] do Marrocos e Espanha mourisca [...]: “um traço
que, como sinal na testa do primeiro assassino, se imprime
nessa raça estigmatizada por toda a terra e, uma vez visto,
nunca mais é esquecido. O “Mau-olhado” não é o menor dos
poderes que a superstição atribui a esse povo; e se há
verdade na doutrina de super-sensibilidade, do magnetismo
animal, não se pode enquadrar na imaginação um olhar tão bem
calculado, tão intensa a força magnética[19].
Mais tarde, Burton [livro de Rice], ao encontrar ciganos na
Síria, sentiu-se novamente atraído pelo olhar.
Os longos cabelos ásperos e colados à cabeça, com a trança
enrolada em espiral, os olhos bem castanhos, cuja mirada
típica é inconfundível, os pomos proeminentes como os dos
tártaros, e os lábios de formato irregular sugeriam origem e
fisionomia hindu.
Os ciganos espanhóis [ainda no livro de Rice]
Conservam o olho característico. A forma é perfeita, e tem
uma mirada especial à qual se atribui o poder de gerar
grandes passions — um dos privilégios do olhar. Várias vezes
notei sua fixidez e brilho, que cintila como
luz fosforescente, clarão que em alguns olhos indica
loucura. Também observei o olhar “ que parece
fitar algo
além de nós, e a alternância entre a mirada fixa e um
embaçamento ou toldamento da pupila distante”
Após a morte de
Burton, The Gypsy Lore
Journal de janeiro de
1891,
em seu obituário, observou:
A singular idiossincrasia frequentemente notada por seus
amigos — a peculiaridade de seus olhos. “Quando ele [o
olhar] fita a pessoa”, disse alguém que o conhece bem, “ele
atravessa e
depois, se toldando, parece ver algo mais além”.
Richard Burton é o único homem (não-cigano) com essa
peculiaridade [...].
Elwood
B. Trigg, em seu livro Gypsy & Demons Divinities,
(Citadel Press, N. J., p. 35, assim nos fala:
The Gypsy’s eyes are normally darker and more brilliant
than those of other peoples. Among some gypsies,
however, this feature is even more intense than others. It
requires little imagination to see how such individuals
might be recognized as strangely different than others with
a special
power to work magic through the use of their eyes.
[Os olhos ciganos são normalmente mais escuros e mais
brilhantes do que os das outras pessoas. Entre alguns
ciganos, contudo, esta feição é mais intensa do que outras.
Requer pouca imaginação para se ver como tais indivíduos
podem reconhecê-los estranhamente diferentes do que outros,
com especial poder de magia, através do uso de seus olhos.]
Clemente Cimorra,
em Los Gitanos,
à p. 6 nos fala: “la viva expresión de los ojos”... O autor
nos informa à p.
44, livro
citado:
Y. F. M. Pabanó que escribe en
1915 y de una manera material no há conocido más que a
los gitanos de Andalucía, expresa: “Los ojos del hombre
gitano, negros, vivos y penetrantes, poseen cierta
peculiaridad que permite reconercerle al punto, sea
cualquiera el disfraz com que se cubra; bajo el traje más
ceremonioso, como si adopta la vestidura más sucia y
harapienta, al instante se advierte la singular y profunda
fijeza de su mirada. Podrá conocerse a primera vista el ojo
pequeno del hebreo, las pupila obliqua del chino, o la
rasgada e intensa del musulmán; pero el ojo del gitano,
aunque regular y proporcionalmente igual a los de las demás
castas europeas, se distingue em seguida por su fulgor; un
fulgor extrano, que parece a luz del fósforo.
[Y. F. M. Pabanó
que escreve, em
1915,
e que de uma maneira concreta não conheceu outros ciganos
além dos da Andaluzia, expressou: “Os olhos do homem cigano,
negros, vivos e penetrantes, possuem certa peculiaridade que
permite reconhecê-lo a tal ponto, independente de qualquer
disfarce com que se esconde; seja o traje mais cerimonioso,
ou se adota a veste mais suja e esfarrapada, num instante se
percebe a singular e profunda fixidez de seu olhar. Pode-se
conhecer à primeira vista o olho pequeno do judeu, a pupila
oblíqua do chinês, ou a rasgada e intensa do muçulmano; mas
o olho do cigano, embora regular e proporcionalmente igual
aos das demais etnias européias, se distingue, em seguida,
por seu fulgor; uma cintilação estranha que parece a luz do
fósforo”].
Martin Block, em
Moeurs et Coutumes Tziganes, pp.
67-68,
traça excelente comentário sobre as singularidades do olhar
dos gitanos:
C’est à son regard qu’on
reconnaît le plus sûrement un tzigane. A défaut de tout
autre particularité anthropologique, son oeil le trahit. Le
language s’avoue impuissant à caractériser expréssement un
tel regard. La science n’en a pas encore entrepis l’étude,
et c’est dommage; elle laisse là libre carrière aux peintres
et aux poètes Le regard rest pourtant, avec la démarche, un
des meilleurs indices permettant d’attribuer à chaque
individu telle ou telle origine ethnique. Il suffit de
savoir l’observer.
Il y a
dans les yeux du tzigane quelque chose d’inquiet, de mobile,
qui peut devenir singulièrement perçant dés que le regard se
pose sur point précis. La manière dont se répartit la
lumière frappant ces yeux, joint à l’aspiration à se porter
du dedans au dehors, à saisir l’objet que le regard reflèt,
ne peut manquer de nous captiver, même si la pupille est
colorée en bleu. Il semble presque qu’inconsciement
s’imprime ainsi chez ces primitfs un je ne sais quoi venant
de l’éternité, qu’ils nous ouvrent un aperçu sur l’au delà.
Abîme pour nous insondable.
Par les
dimensions de sa surface lumineuse, par l’ardeur de son
éclat, l’oeil du Tzigane laisse soupçonner la passion
contenue mais intense qui unit à la bonté la cruauté, donne
simultanément libre cours à l’amour et à la haine, accouple
la douceur à la sauvagerie. Tout un monde s’est réfugié dans
les regards du Tzigane, ou plus généralement des différents
peuples primitifs restés en dehors de la civilisation
européenne. On retrouve avec étonnement chez beaucoup de
jolies femmes tziganes le même éclat exalté, presque
effrayant, qui caractérise les peuples de l’Inde. Comparez
les traits des Indiennes, tels que nous les font connaître
tant d’illustrations, aux photographies de Tziganes [...] et
vous ne pourrez qu’être frappés de l’analogie. L’oeil noir
ou d’un brun châtain se détache sur un vaste fond blanc,
dont ce contraste augmente encore la blancheur. La chevelure
d’un noir poisseux et l’or ou l’argent des parures qui
l’ornent ainsi que les oreilles semblant rivaliser d’éclat
avec cette blancheur des yeux et des dents.
Em sequência, a excelente tradução do texto supra, feita por
Léa e Jessé Cortines Peixoto:
[É pelo seu olhar que se reconhece mais seguramente um
cigano. À ausência de qualquer outra particularidade
antropológica, seu olho o trai. A linguagem se reconhece
impotente para caracterizar precisamente um tal olhar. A
ciência ainda não empreendeu o estudo, e isto é lamentável;
ela deixa aí inteira liberdade aos pintores e poetas. O
olhar permanece portanto, neste caso, um dos melhores
índices, permitindo atribuir a cada indivíduo tal ou qual
origem étnica. É bastante saber observar.]
[Há nos
olhos do cigano qualquer coisa de inquieto, de mobilidade,
que pode se tornar singularmente penetrante, desde que o
olhar se fixe sobre um ponto preciso. A maneira pela qual se
reparte a luz brilhante desses olhos, associa à aspiração de
transportar-se de dentro ou fora, para apoderar-se do
objeto, que o olhar reflete, não pode deixar de nos cativar,
mesmo se a pupila for colorida de azul. Parece quase que
inconscientemente se imprime assim nestes primitivos um não
sei que vindo da eternidade, que eles nos abrem uma
percepção do mais além. Abismo para nós insondável. Pelas
dimensões de sua superfície luminosa, pelo ardor do seu
brilho, o olhar do cigano permite supor a paixão contida,
porém, intensa, que une à ternura a crueldade, dá
simultaneamente livre curso ao amor e ao ódio, une à doçura,
a selvageria. Todo um mundo se refugia nos olhares do
cigano, ou mais geralmente nos diferentes povos primitivos,
remanescentes fora da civilização européia. Redescobre-se,
com espanto, nas muito bonitas mulheres ciganas, o mesmo
brilho exaltado, quase assustador, que caracteriza os povos
da Índia. Compare os traços dos indianos tais como nos fazem
conhecer tantas ilustrações ou fotografias de ciganos
[....], e não poderemos nos surpreender da analogia. O olho
preto ou castanho claro ou escuro, se destaca sobre um vasto
fundo branco, cujo contraste aumenta ainda mais a brancura.
A cabeleira de um preto engordurado e o ouro ou prata dos
adereços que o ornam, também as orelhas, parecendo rivalizar
o brilho com esta brancura dos olhos e dos dentes.]
Jules Bloch[20]
em seu livro Les
Tsiganes, à p.
42,
nos informa que o antropólogo M. Pittard, entre outras
considerações diz que os ciganos têm:
Leur
teint légèrement basané, leurs cheveux noirs de jais, leur
nez droit bien construit, leurs dents blanches, leurs yeux
bruns largement fendus, au regard vif ou langoureux, la
souplesse générale de leur démarche, l’harmonie de leurs
gestes, les placent, dans l’ordre physique, bien avant
beaucoup de populations européennes... Les Tsiganes
paraissent avoir une santé à tout épreuve...
[A tez ligeiramente bronzeada, seus cabelos negros como
azeviche, nariz reto, bem feito, dentes brancos,
olhos castanhos, amplamente rasgados; penetrantes ou voluptuosos, a
flexibilidade geral de seu caminhar, a harmonia de seus
gestos, o coloca, na ordem física, bem adiante de muitas
populações européias... Os ciganos parecem ter uma saúde à
toda prova...]
Em interessante
monografia
História dos ciganos
no Brasil, ainda inédita, Rodrigo Corrêa Teixeira[21]
faz, em três parágrafos, digressões sobre o olhar cigano.
Pedimos vênia para citar o primeiro e o último:
Quanto ao olhar dos ciganos, era tido mais do que um
elemento de sua aparência física; era como tendo uma
dimensão transcendental. Numa sociedade que transmitia seus
saberes, tradicionalmente, por forma oral,, o olhar é o
ponto de partida para a compreensão entre as pessoas. Além
disso, era através dele que se confirmava um compromisso
(negócios ou casamento, por ex.) depois da palavra dada,
olhando-se nos olhos do cliente ou do outro cigano.
Os ciganos foram, não se sabe a partir de quando,
considerados como portadores de um olhar mágico e poderoso,
capaz de lançar pragas e maldições. Este olhar se
caracterizaria não só pelo exotismo dos olhos com grandes
pupilas, mas também por uma certa magia na forma de
fixá-los. No século XIX, tal imagem ganhou mais relevância
graças ao movimento romântico.
Lemos
em Pierre Derlon
(Tradições ocultas dos
ciganos), à p.
27, o
seguinte:
... Entre estas a faculdade do “olhar”; este pode servir a
finalidades defensivas ou mesmo agressivas; entretanto, é
frequentemente utilizado pelos feiticeiros (kakus) para
apaziguar ou incutir confiança no próximo.
Teófilo Gautier em Gitanos do Monte Sagrado nos dá esta
mensagem, apud Jean-Paul Clébert (The gypsies, p. 92):
Their swarthy complexion brings out the clarity of
their oriental eyes, which are tempered by I do not know
what mysterious sadness, like the memory of an absent
motherland and fallen grandeur.
[Sua pele
trigueira realça o brilho dos seus olhos orientais, os quais
são amenizados por um quê de misteriosa tristeza, como
memória de uma pátria ausente e uma grandeza perdida].
Virgínia Woolf, em seu romance famoso
Orlando, nos
brinda com esta fantasia:
Estes
catálogos de beleza juvenil não podem terminar sem a menção
dos olhos e da testa! Ai de mim, que as pessoas raramente
nascem sem estes atributos! pois, ao olharmos para Orlando
parado junto à janela, temos de reconhecer que possuía olhos
como violetas encharcadas, tão grandes que a água parecia
chegar às bordas e alargá-los....
Observação do organizador desta coletânea: Orlando era, até
à metade do livro, um jovem fidalgo e da metade em diante
era moça, cigana, raptada, criada e educada por um conde
inglês. Curiosamente, a história retrata duzentos anos.
Cristina da Costa Pereira[22],
em seu livro Povo
cigano, à página
92,
diz:
O olhar para o
cigano é fundamental em suas mais diversas relações com as
pessoas: amor, negócios, práticas místicas, etc. Eles
consideram que o olhar nos olhos é a melhor maneira de se
conhecer a pessoa com quem se está falando. Eles costumam
dizer que a leitura do olhar é “conhecimento intuitivo que
todos ciganos têm” [...]. Eis o que alguns ciganos falaram a
respeito do olhar: “Como é que eu estou aqui, falando de
minha vida, de meu povo, se te conheço tão pouco, quer
dizer, em que me baseio para poder confiar no que você me
diz, nas suas intenções em relação aos ciganos, no livro que
você vai escrever sobre nós? Mas é que, na verdade eu já te
conheço, porque eu olhei bem para você? Cigano lê no olho,
moça.”
Pedro Paulo
Serodio Garcia é padre. Escreveu o livro intitulado
O padre cigano. Ele é um dedicado missionário que vive entre
ciganos, perambulando de acampamento em acampamento,
pregando a palavra de Deus, ensinando o Evangelho, sem
proselitismo. Observa e respeita os costumes e usos dos
ciganos. Não quer mudá-los quer conviver com eles,
respeitando as diferenças, solidarizando, compreendendo,
ajudando. Certa feita, em uma festa de batismo comunitário,
nos relata o seguinte, à p.
73, do seu
livro:
Durante as anotações [falava dos registros dos nomes dos que
seriam batizados] percebi que um dos recém-chegados para a
festa do Santo me olhava muito. Ele me acompanhava com dois
grandes olhos negros, contemplava-me o seu coração,
interrogando-me através do seu semblante: “Quem é você?”
“Você sabe quem sou eu?”
Os ciganos olham muito. Mesmo quando os seus olhos estão
voltados para outra direção, estão observando. Estando
distraídos com alguma conversa ou negócio importante, alguém
está de olho vivo. Mas aquele não me observava em função do
grupo ou por alguma desconfiança. Era mais do que isso. Ele
me contemplava. Olhava-me dele para ele.
Júlio Dantas (1876-1962), Escritor, jornalista, diplomata e
político português escreveu emocionante peça teatral
A Severa onde algumas vezes exaltou a beleza do olhar cigano através
de suas personagens. Citamos duas passagens:
É a maior fadista cá da Mouraria! Quando canta, parece que a
alma da gente vai atrás dela. Mas, sangue de cigana, braço
peludo e lume no olho! Não é de quem quer; é de quem ela
quer. (p. 15)
...é a mulher que me convém! Assim mesmo, em bruto, como
nasceu, com o sol no fundo dos olhos e a alma na ponta dos
dedos, a afiar o calão e a navalha, a rir com o sangue pelas
toiradas, a chorar com o fado pelas vielas! (p. 28)
MEU TESTEMUNHO:
Conheci alguém que tinha o olhar cigano. Um homem de valor
inconteste. Erudito, administrador, engenheiro competente,
honestíssimo, humanista: Foi presidente do antigo
IAPI,
presidente do Clube de Engenharia, membro da Comissão que
instituiu a siderurgia no Brasil, presidente do Conselho
Nacional do Petróleo —
CNP,
Prefeito de Brasília, presidente do Instituto Brasileiro de
Siderurgia —
IBS,
presidente da Companhia Siderúrgica Nacional –
CSN e
membro da Alta Administração em muitas empresas estatais e
privadas. Quando morreu, tinha como patrimônio um simples
apartamento à rua Figueiredo de Magalhães, na cidade do Rio
de Janeiro. Morreu pobre. Estalão de probidade. Este homem
chamava-se Plínio Reis de Cantanhede[23]
Almeida. Um cavalheiro, um cérebro privilegiado. Descendente
ou não de cigano, na verdade era um ser humano
extraordinário, primus
inter pares.
Agora, transcrevemos um parágrafo da excelente, sedutora e
comovente história
Mikaela (cigana), do escritor José Fleming, em
Balaio de paiol:
Ed.
GREBAL
(Grêmio Barramansense de Letras).
Um rosto moreno,
meio encoberto por sedosos cabelos negros, que caindo sobre
o ombro direito, cobriam um lado da face onde seus olhos,
tão negros como os cabelos, luziam inquietos e
observadores...
E nosso Visconde de Taunay em sua excelente novela assim vê
os olhos da Ciganinha
(p.10, 16, 18 e 26:
Cabelos negros,
bastos, então mais cuidados e lustrosos, mas sempre com a
sua forcinha, de preferência vermelha, cabelos ondeados, com
uns crespinhos rebeldes na testa e na nuca roliça; rosto
para o comprido, num oval regular e como fechando a
encantadora covinha no queixo; tez não muito morena, tanto
assim que bem largas sardas lembravam as grandes soalheiras
de outrora, apanhadas em criança; sobrancelhas de japonesa;
olhos enormes,
negros, rutilantes,
aveludados, com
uns cílios que punham sombra às atrigueiradas faces em que
florescia suave rubidez; lábios úmidos,
polposos, com o brilho de romã aberta, num arco
deliciosamente desenhado, orelhinhas pequeninas, como
conchinhas nacaradas.
Talvez por isso,
mas muito mais pelos seus olhos a luzirem como brilhantes
negros, entre orlas de cabeludas pestanas...
Se junto ao
Parnahiba
Gemem tristes
salgueiros,
Perto dela em vão
soluço
Preso aos olhos
feiticeiros.
A Enciclopédia Clássica, baseada na britânica (1911), diz o
seguinte:
By one feature, however, they are easily distinguishable and
recognize one another, viz by the lustre of their eyes and
the whiteness of their teeth
[Pelos traços,
contudo, são facilmente notados e reconhecem um ao outro,
seja pelo brilho suave de seus olhos e pelos dentes claros.]
E com este frevo canção (Cigana
fatal), dos irmãos Valença,
apud Caarüra,
iniciamos o fechamento deste caderno dedicado ao olhar do
cigano:
Cigana, morrer é
o menos
por teus encantos
fatais:
Teus lábios são
dois venenos,
teus olhos são
dois punhais.
Ai, não sorria
desta paixão
insana.
Nestes três dias,
me matarás,
cigana.
Ah! Não resistimos e vamos transcrever, com adaptação nossa,
trecho de um poemeto de Martins Fontes que nos diz assim:
Tudo que abrange
o pensamento,
Do grão de areia
ao firmamento,
O olhar “cigano”
traduz!
Seus olhos são
miraculosos!
Nos seus
mistérios fabulosos,
A treva é luz!
E na revista
Ilustração Portuguesa, março de 1909, lemos
as ciganas d´olhos de luz...
Pessoas comuns como este autor; poetas, artistas, contistas
e romancistas tecem loas ao brilho, ao magnetismo, às
chispas do olhar cigano. Seguem a mesma linha, etnógrafos,
antropólogos, folcloristas e historiadores. Olhos que nos
enfeitiçam, nos envolvem, nos amedrontam. Olhos profundos,
hipnóticos, tristes, próximos e distantes. Misteriosos,
rasgados, verdes, castanhos ou negros, feiticeiros doces,
vibrantes, benéficos ou maléficos. Olhos de muito
sofrimento, registros de lutas de dois mil anos de
sobrevivência. Vamos, pois, nos render ao diamante, ao
fascínio e à luz do olhar desses nômades, que vieram lá de
longe, da Índia, nos encantar. E vamos adicionar a linda
composição de Jimi Hendrix -
Gypsy Eyes
(tradução) Lyrics:
Olhos ciganos
Olhos ciganos
Bem, descobri que fui hipnotizado,
amo seus olhos ciganos,
amo seus olhos ciganos
tudo bem!
hey! cigana
escalo minha árvore e fico e me aqueço no fogo
querendo descobrir onde neste mundo você está
e sabendo o tempo todo que você continua
rodando pelo país
você ainda pensa em mim?
oh! minha cigana
bem, eu fui até a estrada, o lugar onde você vive
aquele que se situa a milhão de milhas
sim, saí por aquela estrada em busca de seu
amor e de minha alma também
mas quando encontrá-la não vou deixá-la ir
lembro-me da primeira vez que a vi
as lágrimas em seus olhos pareciam que tentavam dizer
oh menino, você sabe que eu poderia amar você
mas primeiro devo trilhar meu caminho
hoje, dois homens estranhos brigaram até a
morte por mim
vou encontrá-lo lá na velha estrada velha
hey!
tenho procurado por tanto tempo e meus pés
me fizeram perder a batalha
andando pela estrada meus joelhos cansados
me jogaram fora do caminho, caí mas ouvi uma
voz doce chamar
minha olhos ciganos está vindo e serei salvo
oh estarei salvo
por que eu a amo tanto
disse eu te amo
hey!
te amo uh
Deus, eu te amo
hey!
O fado, plangente
música tocada em Portugal, principalmente em Lisboa, não
podia deixar de tecer loas aos olhos da cigana e assim nos
fala em bela canção, de maneira metafórica, sobre as meninas
dos olhos e de como estraçalham nosso coração:
Sinas
Música de Alfredo Marceneiro
Letra de Henrique Rego
Já mandei ler tantas sinas
Na palma da minha mão
E todas elas constatam
Que as buliçosas meninas
Dos teus olhos é que são
As meninas que me matam
Meninas tão menineiras
Azougadas, leves, finas,
Descrentes, loucas, profanas.
São pequenas feiticeiras
Em janelas pequeninas
De rosadas persianas
Essas meninas são luzes
Que talvez Nossa Senhora
Não tenha iguais no altar.
Mas Deus me livre das cruzes
Que há-de ter pela vida afora
Quem delas se enamorar
Essas meninas bulhentas
Mas de feição tão suave
Não deixando de bulir
Por elas passo tormentas
Fecha as meninas à chave
Que são horas de dormir
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