DHAMPIR (caçador de vampiros na cosmovisão cigana)

por Asséde Paiva - 07/08/2015

2557 acessos.

Um dos mais extravagantes seres do imaginário cigano e também muito pouco estudado é o DHAMPIR. De fato esta coisa vamos entender assim está situada no mundo da fantasia, entre o mundo dos espíritos e o real. Realmente, é uma espantosa figura que somente ciganos dos Bálcãs ousam nomear. Encontramos em um livro editado pela Makron Books do Brasil, Editora McGraw-Hill, de J. Gordon Melton, intitulado O livro dos vampiros, a enciclopédia dos mortos-vivos, p.199, o verbete Dhampir:

 

Os ciganos acreditavam que alguns vampiros tinham um apetite sexual insaciável e que retornavam da sepultura para fazer sexo com a viúva ou uma jovem de sua escolha. As visitas continuadas do vampiro poderiam levar uma jovem a se engravidar. O produto dessa união, geralmente do sexo masculino, era chamado dhampir. Acreditava-se que o dhampir tinha poderes inusitados para detectar e destruir vampiro — uma habilidade deveras importante. Alguns dhampirs modernos entre os ciganos da Europa oriental se vangloriavam de sua habilidade em localizar o vampiro, que era simplesmente morto a tiros se localizado fora de sua sepultura. Alguns indivíduos, que acreditavam ser dhampirs, suplementavam sua renda oferecendo-se como caçadores de vampiros. Por outro lado, o dhampir era um membro normal da comunidade de ciganos, embora algumas pessoas acreditassem que o verdadeiro dhampir possuía um corpo escorregadio, gelatinoso e que tinha vida curta — uma crença derivada do conhecimento de que vampiros não têm ossos.

 

Os poderes do dhampir podiam ser transferidos para a prole masculina e em última instância através de uma linhagem familiar. Conquanto as habilidades para caçar vampiros pudessem ser herdadas, não podiam ser aprendidas. Scott Baker escreveu um romance sobre os dhampirs associando-os uma linhagem de dhampirs no seio da família de Elisabeth Bathory.”

 

Na Enciclopédia supracitada encontramos o verbete: CAÇADORES DE VAMPIROS, que pedimos vênia para transcrever:

 

“Na maioria das sociedades que acreditavam no vampiro, o processo de detectar e destruir o vampiro era levado a cabo por um grupo informal de pessoas ameaçadas pela presença dos vampiros e em suas comunidade, mas vez por outra a tarefa foi colocada nas mãos de caçadores de vampiros especializados. Diversas culturas, especialmente as do Bálcãs do sul, nomeavam pessoas específicas para a tarefa de caçar e destruir os vampiros. O caçador de vampiros mais famoso era o dhampir, que se acreditava ser o filho físico de um vampiro e que mora entre os ciganos e os eslavos do sul. Os ciganos tinham o vampiro como criatura muito sexy que muitas vezes voltava ao seu amor para ter relações sexuais. Seu sêmen ainda era potente e vez por outra uma gravidez resultava da atividade do vampiro. A descendência masculina do vampiro, o dhampir, tinha, segundo a crença, poderes particularmente poderosos para enxergar o vampiro invisível e destruí-lo”.

 

“O dhampir poderia se tornar um caçador de vampiros profissional, cobrando da vila pelos seus serviços. De acordo com relatos remanescentes, o dhampir começava seu trabalho na vila informando aos que o contrataram que haveria um mau cheiro no ar. Aparecia então para tentar localizar sua fonte. Poderia, por exemplo, tirar a camisa e olhar a manga como se fosse um telescópio e descreveria a foram que o vampiro invisível tinha tomado. Uma vez localizado o vampiro, poderia se envolver numa dramática luta corpo a corpo com o vampiro ou simplesmente dar-lhe um tiro. Uma vez morto, o vampiro fedia mais ainda e podia deixar uma poça de sangue no chão. Às vezes não podia ser morto, e nesse caso o dhampir tentaria enxotá-lo para uma outra vila. Entre os dhampirs mais notáveis havia um chamado Murat, que operava nos anos 50, na área de Kosovo-Metohija, na Sérvia...”

 

Ainda encontramos na Wikipédia uma longa explicação (em inglês) sobre esta entidade mítica, que colocamos aqui (em parte), para os leitores informando-lhes que muita coisa pode ser encontrada no site:

<http://en.wikipedia.org/wiki/Dhampir> cuja tradução livre está em sequência:

 

A palavra ‘dhampir’está associada ao folclore do povo cigano dos Bálcãs, os quais se acreditam foram descritos por T. P. Vukanovic. No resto da região, os termos em sérvio vampirovic, vampiric (assim como em bósnio, lampijerovi etc.), literalmente significando ‘filho de vampiro’ são usados. Em outras regiões a criança é chamada ‘Vampir’ se é menino e ‘Vampiresa’ se é menina, ou ‘Dhampir se é menino e ‘Dhampiresa’se é menina. No folclore búlgaro são usados numerosos termos, tais como: glog (lit. ‘hawthorn’), vampirdzhiya ( vampire + nomen agentis suffix), vampirar ( vampire + nomen agentis suffix), dzhadadzhiya e svetocher são usados para referir crianças vampiro e descendentes, assim como aos caçadores de vampiros especializados.

 

Origem

 

Nos Bálcãs acredita-se que o vampiro tem grande desejo por mulher, assim ele retornará para manter relação íntima com sua esposa ou com a mulher com quem simpatizava em vida. Na verdade, em um caso registrado na Sérvia, uma viúva tentou justificar sua gravidez ao seu último marido que supostamente tornou-se vampiro, e houve casos de homens sérvios fingindo-se vampiros, a fim de encontrarem a mulher desejada. Dizem no folclore búlgaro que “vampiro” pode deflorar virgem, com esta desculpa. Um vampiro pode também ir de uma vila para outra onde ninguém o conhece, pode casar e ter uma criança lá. A atividade sexual do vampiro parece ser peculiar dos eslavos, embora similar motivo também ocorra nas lendas bielo-russa.

 

Aparências

 

Algumas tradições especificam sinais pelos quais a criança vampira pode ser reconhecida. As lendas sérvias afirmam que ela tem cabeça grande e ausência de sombra. No folclore búlgaro indicações precisas incluem: ser ‘muito sujo’ nariz torto ou mesmo sem nariz tem corpo fofo, sem unhas e ossos (esta última descrição física, peculiar é também descrita para o próprio vampiro e tem uma profunda marca atrás, como um rabo).

 

Métodos de caça a vampiros

 

Entre os povos balcânicos acreditam-se que a criança de um vampiro tem especial habilidade de ver e destruir vampiros. Entre alguns grupos, a habilidade de ver vampiros é considerada exclusiva de dhampirs. Os poderes do dhampir podem ser herdados da dhampir que deu à luz. Vários meios de matar ou expulsar vampiros são reconhecidos entre os povos da região, mas o dhampir é visto como principal agente para enfrentar vampiros. Métodos pelos quais um dhampir mata um vampiro inclui tiro ao vampiro ou transfixando-o com uma estaca, bem como realizando uma cerimônia que envolve usar ‘coroas’ para guiar o vampiro à sua tumba. Se o dhampir não pode destruir um vampiro, ele pode determinar que ele abandone a área.

 

Um dhampir é sempre pago e bem por seus serviços. A quantidade de dinheiro varia, mas nunca se discute pelo preço. O padrão de pagamento ao dhampir pode também incluir comida e roupas. Algumas vezes, o dhampir é pago com gado, jóias ou mulheres.

 

Charlatões viajando na região das montanhas dos Cárpatos, nos Bálcãs e pela Europa Oriental, se arvoram em dhampirs. Eles se diziam os únicos que poderiam ver espíritos e realizavam shows para os aldeões, que temerosos, pesarosos, tomados de superstição acreditavam no individuo que assegurava ter seguido na vila um morto recente, que ele dhampir iria resgatar.

 

 

Segue o texto em inglês:

 

“The word "dhampir" is associated with the folklore of the Roma people of the Balkans, whose beliefs have been described by T. P. Vukanović. In the rest of the region, terms such as Serbian vampirović, vampijerović, vampirić (thus, Bosnian lampijerović etc.) literally meaning "vampire's son", are used. In other regions the child is named "Vampir" if a boy and "Vampiresa" if a girl, or "Dhampir" if a boy and "Dhampiresa" if a girl. In Bulgarian folklore, numerous terms such as glog (lit. "hawthorn"), vampirdzhiya ("vampire" + nomen agentis suffix), vampirar ("vampire" + nomen agentis suffix), dzhadadzhiya and svetocher are used to refer to vampire children and descendants, as well as to other specialized vampire hunters.

 

Origin

 

In the Balkans it is believed that male vampires have a great desire for women, so a vampire will return to have intercourse with his wife or with a woman he was attracted to in life. Indeed, in one recorded case, a Serbian widow tried to blame her pregnancy on her late husband, who had supposedly become a vampire, and there were cases of Serbian men pretending to be vampires in order to reach the women they desired. In Bulgarian folklore, vampires were sometimes said to deflower virgins as well. A vampire may also move to a village where nobody knows him and marry and have children there. The sexual activity of the vampire seems to be a peculiarity of South Slavic vampire belief as opposed to other Slavs, although a similar motive also occurs in Belarusian legends.

 

Features

 

Some traditions specify signs by which the children of a vampire can be recognized. Serbian legends state they have a large head and lack a shadow; in Bulgarian folklore, possible indications include being "very dirty", snub-nosed or even noseless, having a soft body, no nails and bones (the latter physical peculiarity is also ascribed to the vampire itself), and "a deep mark on the back, like a tail".

 

Vampire hunting methods

 

Among all Balkan peoples it is believed that the child of a vampire has a special ability to see and destroy vampires. Among some groups, the ability to see vampires is considered exclusive to dhampirs. The powers of a dhampir may be inherited by the dhampir's offspring. Various means of killing or driving away vampires are recognized among peoples of the region, but the dhampir is seen as the chief agent for dealing with vampires. Methods by which a dhampir kills a vampire include shooting the vampire with a bullet, transfixing it with a hawthorn stake, and performing a ceremony that involves touching "crowns" of lead to the vampire's grave. If the dhampir can't destroy a vampire, he may command it to leave the area.

 

A dhampir is always paid well for his services. The amount of money varies, but there is never bickering over the price. Standard pay for a dhampir may also include a meal or a suit of clothing. Sometimes a dhampir is paid in cattle, jewelry or women.

 

Charlatans traveling the regions around the Carpathian Mountains, Balkans and elsewhere in Eastern Europe would claim to be dhampirs. They were believed to be the only ones who could see the spirit and would put on elaborate shows for villages. Once fear, grief and superstition took hold in a village following a recent death, the dhampir would "come to the rescue".

 

Para saber mais:

 

Elwood B. Trigg. Gypsy & Demons, Divinities. Seacacus: Citadel Press, 1973.Jean-Paul Clébert. The Gypsies. London Vista Books, 1963.

 

Isabel Fonseca.  Enterrem-me em pé — A longa viagem dos ciganos, São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Melton, J. Gordon. O livro dos vampiros, a enciclopédia dos mortos-vivos. São Paulo: Makron Books do Brasil, Editora McGraw-Hill, 1994.

 

Olimpio Nunes. O povo cigano. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1981.

Raymond Buckland. Magia e mistério dos ciganos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

 
© direitos reservados desde 2008 -  benficanet.com - contato@benficanet.com