C I G A N O
cigano. [do grego bizantino athinganos, pelo fr. tzigane ou tsigane.] S.
m. 1. Indivíduo de um povo nômade, provavelmente originário da Índia e
emigrado em grande parte para a Europa Central, de onde se disseminou,
povo esse que tem um código ético próprio e se dedica à música, vive de
artesanato, de ler a sorte, barganhar cavalos, etc. [Designam-se a si
próprios rom, quando originários dos Balcãs, e manuche, quando da Europa
Central.] Sin.: boêmio, gitano, calom.
Novo Aurélio[2],
Séc. XXI, p. 470)
Os
ciganos têm um milênio de história, porém há quem diga que existem há
mais de quatro mil anos. Heródoto, historiador grego (484-420 a.C.)
falava dos siganos, e os
colocava como habitando às margens do rio Danúbio.
Encontramos na internet belíssimo texto, que passamos a reproduzir :
De
onde vêm os filhos do vento?
Eles se movem
como o sol e a lua. São nômades. Ou, antes, são como as ondas. Estão em
toda parte. Chegam e partem rápido. Parecem o vento. Num momento estão
aqui. No outro, sumiram. Numa lufada, deixam traços indeléveis de sua
passagem no eco de sua música, no relinchar de seus cavalos, no sorriso
alegre de suas mulheres. Não, não são vento. São os filhos-do-vento!
Informa o autor[3]
que o texto acima faz parte de um poema escrito na Pérsia, 200 a 400
anos antes de Cristo. Um povo é chamado de Filhos do Vento e a ele se
refere autor anônimo como “o povo que veio do rio”, numa alusão ao rio
Sind, no norte da Índia, na região de Gujarat.
Cigano não é somente quem
corresponde a uma lista de características mas, sim, quem tem um corpo
cigano (referência étnico-histórica), uma alma cigana
(cultural-espiritual) e vive ligado a um grupo cigano (sócio-político)[4].
Leitor ou leitora,
este é o abêcê da ciganologia,
deixe de lado o preconceito. Imagine-se um extraterrestre que aqui
chegou há pouco. Alienígena não tem preconceito. Ele nos vê apenas como
humanos e todos são iguais, não são? O
Alien,
é melhor chamá-lo assim, veio de um planeta distante, desceu em um
acampamento cigano e o que viu? Primeiro, foi bem recebido. Todos
visitantes são bem recebidos em um acampamento cigano. Apenas se
identificam e dizem sobre seus propósitos, são aceitos. De início, o
Alien estranhou que morassem
em simples tenda, que eles chamam
tcêra. Logo foi informado que os moradores eram nômades, isto é
aqueles que viajam. As tendas ficam distantes da cidade porque outros
moradores, lá longe, preferem casas e prédios de apartamentos e, em
geral, não gostam de ciganos. Aqueles (os da cidade) são sedentários,
isto é, deitam raízes definitivas num lugar, raramente mudam. Os ciganos
têm alguns do seu povo seminômades e sedentários, porém no íntimo
permanecem nômades. A língua que falam é diferente dos não-ciganos, é um
idioma da velha Índia, o romani.
Deriva do sânscrito. Ensinada de pai para filho por todos os tempos. Os
não-ciganos fazem aproximações e tentam estudá-la e escrevê-la. Eles é
que concluíram que ciganos vêm da Índia. Verdade ou não, o cigano não se
preocupa com isso, nem interessa saber, pois vive o dia-a-dia.
Hoje é muito importante;
ontem, passou; amanhã, só
o vento saberá; pois o vento de
amanhã soprará amanhã.
Primeiramente, vamos deixar
bem claro: 99,9% dos dicionários (des)qualificam os ciganos com palavras
injuriosas. Mas uma única mentira, dita um milhão de vezes, continua
sendo mentira. E os dicionários, em relação ao cigano, mentem, erram e
transcrevem preconceitos milenares. Leitor e leitora ou ouvintes, deixem
de lado os dicionários, as enciclopédias, dêem um momento de paz, um
momento de atenção e, sobretudo, um instante de amor e concórdia. Abram
seus corações, sejam aliens[5].
Os ciganos já sofreram muito. Esqueçam as lendas, as informações más que
milhares de escritores deram sobre eles. Passem por estas mal traçadas
linhas um olhar de pureza e os vejam apenas como... seres humanos, como
são. Ouçam, leiam e então julguem, entretanto lembrem-se do Mestre dos
mestres: “Aquele que for livre do pecado atire a primeira pedra”. Se
depois de tudo que dissermos não conseguirmos convencer, aí então
decidam o que os ciganos merecem.
Quando dois
não-ciganos falam de ciganos, a imagem mais estereotipada que vem à
mente deles, no mínimo, é de mulheres com vestes estampadas,
esvoaçantes, cabelos trançados, moedas como berenguendém etc., nas
esquinas das avenidas e ruas de grandes cidades, chamando as pessoas
para leitura da buena-dicha. Esta ainda é a mais aceitável imagem que
fazem. Nas outras imagens, os põem num quadro onde se vê, na melhor das
hipóteses, pessoas perigosas que devem ser evitadas. Ora, ciganos não
são bicho-papão, não andam assaltando por aí, não traficam, nem roubam
criancinhas. Não querem sua casa, nem seus bens. Ciganos são o povo mais
pacífico da terra. Não se conhece na história universal um só relato
onde ciganos tenham apanhado armas e se voltado contra outros povos. Mas
que povo é esse? Na verdade, as origens desse povo são obscuras. Hoje,
estudos antropológicos, etnográficos e
DNA têm levado os
pesquisadores de todos os ramos, das múltiplas ciências, a concordarem
que os ciganos vieram da Índia. Por que saíram de lá? Ninguém sabe.
Especula-se que seriam as invasões mongólicas, ou dos hunos, ou dos
árabes; conjugadas com algum período de longa seca ou de chuva
continuada. Mas o certo é que estabeleceram-se no Egito [daí o nome
egípcios e mais tarde egipcianos, por fim gitanos].
Em 1322, a presença de
ciganos foi detectada na ilha de Creta e, a seguir, em outras ilhas do
Mediterrâneo: Chipre, Rodes, Negroponto e Corfu. Em 1418, apareceram na
Europa, em vários países, num período relativamente curto, em menos de
cem anos.
Os ciganos são como
nós. Apenas têm usos, tradições e costumes um pouco diferentes,
peculiares, como todos povos têm os seus usos e costumes próprios. A
única e definitiva diferença, a mais fundamental característica dos
ciganos, é a de não possuir território delimitado reconhecido por outros
povos; daí são considerados, pela ONU, nação sem território. Os ciganos
simplesmente consideram o mundo seu território. E isso os faz
terrivelmente peculiares e não tolerados pelo resto da humanidade. Mas
esqueçam por um momento esta marca, tornem-se
aliens. Analisemos friamente, conscientemente, alguns dos costumes
deste povo e tentemos compreender e respeitar as suas maneiras de viver.
Não se pede aqui que façam rapapés aos ciganos. Vamos tentar
compreendê-los, só isso. Se fizéssemos um círculo, poderíamos dividi-lo
em dezesseis partes e em cada raio registrar um ponto que evidencie
qualidades dos ciganos. Será muito fácil, desde que não tenhamos o
fatídico preconceito. Mas o que é esta palavra? Segundo o Novo Aurélio
Séc. XXI:
PRECONCEITO
vem de [pré + conceito] S. m. 1. Conceito ou opinião formados
antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia
preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o
fato que os conteste; prejuízo.
Se
você amigo, amiga, pode abstrair por algum momento o tal preconceito,
então poderemos nos entender. Os ciganos são zelosos de seus costumes e
tradições. Só se pode ser cigano de nascença; embora sejam muito
acolhedores, raramente um não-cigano consegue integrar-se na comunidade,
pois são diferentes culturas, entre ciganos prevalece a solidariedade, o
que entre nós nem sempre acontece.
DEZESSEIS PONTOS IMPORTANTES NA CULTURA CIGANA
De início, vamos
ressaltar que falaremos genericamente, pois ciganos não são uniformes,
eles se subdividem em muitos subgrupos que apresentam diferenças entre
eles. São estes os principais: Rom, sinto e calom, que são compostos por
kalderash, matchuaia, horahanê, lovara e outros. Portanto um grupo pode
ou não apresentar todos costumes aqui citados ou apresentar diferenças.
Entretanto, todos são ciganos e se entendem muito fácil.
Fincando pé na nossa
idéia do círculo, escolhemos o círculo porque ele é o símbolo da roda e
dos ciganos no seu eterno devir, escolhemos a evidência maior desse povo
que é sua língua. Os ciganos
falam o romani, que se derivou
do velho sânscrito e vem ao longo de mil anos recebendo contribuições de
todas as línguas por onde este povo passa algum tempo. Os dialetos
ciganos podem ser agrupados assim:
Sintos — na Europa ocidental, com grande influência da língua alemã;
Vlax (ou danubianos) — presentes em toda Europa, América, Austrália e
sul da África; Balcânicos — recebendo influência eslava e turca. Já
dissemos, é uma língua ágrafa, i.é., não tem símbolos para que se
escreva. Daí os estudiosos fazem aproximações e analogias. Todavia, é a
língua ágrafa que possibilita a manutenção dessa gente unida e evita sua
absorção pelos outros povos com os quais convivem. Não é incomum a
existência de línguas ágrafas. Os índios brasileiros são exemplos disso.
Centenas de outras etnias são também ágrafas.
Nomadismo. Este fato, tão típico e misterioso deste povo, não é
explicado pelas teorias científicas. Afinal o homem nos seus primórdios
era nômade, o que é inexplicável é a continuidade desse nomadismo pelos
ciganos. Embora no mundo moderno não se vejam mais caravanas de ciganos,
na verdade esse nomadismo persiste em suas almas, no seu psique. Assim,
o cigano, ainda que dentro de quatro paredes, se sente nômade, e por
de-cá-aquela-palha segue em frente. O cigano procura meios de
sobrevivência segundo seu espírito de viajante. Assim uma cigana que
comercia, não pensa em termos de supermercado, por não ser compatível
com o viajar. Pensa numa mala de viagem com lenços, agulhas, meias, ou
seja, pequenas coisas que lhe possibilitam trocar rapidamente de um
lugar por outro. Os ciganos são notórios artistas de circo porque a
mobilidade do circo é compatível com seu jeito de ver e encarar o
caminho. Hoje, os tempos são difíceis para os nômades, principalmente
para os ciganos. Assim, vamos encontrá-los como seminômades e
sedentários. Mas muito além das aparências, os ciganos permanecem
essencialmente andarilhos,. ainda que residam em locais definidos e com
endereço certo, por exigência das autoridades. Eles têm e continuarão a
ter a alma nômade.
O ponto seguinte que
vamos abordar é o conceito de
liberdade. Claro, todos os povos almejam a liberdade. Mas todos ou
quase todos abdicam de parcelas substanciais dessa liberdade em nome de
outros valores, como por exemplo, segurança. Mas os ciganos não abdicam
da liberdade nem em benefício da felicidade. O cigano tem em suas
entranhas tão profundo senso de liberdade que em geral morrem ou
definham quando presos. Desta forma eles não se prendem nem se curvam
para valores que nós julgamos fundamentais como: pátria, hinos
altissonantes, bandeiras, selo, armas nacionais, enfim não curvam a
espinha para autoridades, governos, regras e regulamentos. Não se quer
dizer que sejam anárquicos, eles obedecem às leis do país onde estão.
Eles são a essência da liberdade e são felizes como são.
Daí seguimos ao
pacifismo que tem raízes
profundas na alma gitana. A bandeira que tenta uni-los traz em seu
centro o símbolo de Asoka[6],
também adotado no pendão da Índia; é a roda de dezesseis raios Não se
conhece no mundo inteiro, na história da humanidade, um só exemplo de
que ciganos tenham pegado em armas contra outros povos. Não lhes move
qualquer ambição de conquista, nem querem território. Relembremos que o
seu lema é a Terra é minha pátria.
Em o Cancioneiro romeno, de
Stella Leonardos, lemos, à p.
101, a Canção do Bulibacha[7],
da qual retiramos esta estrofe que nos dá a medida do pacifismo cigano:
Nem cobiçamos a terra
nem guerreamos, nós ciganos.
Viva nosso povo, ileso
entre cristãos e otomanos!
Na
música, extravasam toda sua alegria, todo seu sentimento. Na
dança, comungam com a
natureza. Ciganos, para facilitar a interação Terra/Céu, dançam
descalços. Há uma variedade de danças: do lenço, do punhal, da fogueira
etc. O que se pode verificar, porém, é que a cigana, embora tenha
movimentos aparentemente sensuais, ela é pudica, e jamais veremos além
de seus tornozelos nos seus rodopios e meneios. Para evitar acidentes
durante o bailado e coreografias, as ciganas usam sobre-saias até em
número de sete. Daí, ciganas estereotipadas como as das novelas e filmes
nada têm a ver com a realidade. Na dança, o cigano procura desenvolver
uma relação telúrica, conectar-se com a natureza e deixar fluir para a
superfície física do ser, todos os sentimentos mais íntimos. Assim,
nota-se perfeitamente o sinal de êxtase de uma cigana ao rodopiar e
fazer seus movimentos gentis, ao sacudir seu pandeiro ou ao som do
atrito das castanholas. Para o cigano, dançar é celebrar a vida, a
existência e se ligar a Deus.
Agora falaremos das leis dos
ciganos. Não são como as nossas, são consuetudinárias. Este povo tem o
costume irrestrito de obedecer à “lei” dos mais velhos. Quem manda é o
chefe, o barô ou voivoda ou capitão. Sua palavra tem força de lei. Ressalte-se o
grande respeito que têm pelas pessoas mais idosas, e a matriarca (phury
daj) tem a palavra final em todas as questões, não obstante a sociedade
cigana ser patriarcal. Contudo, os ciganos se adequam, obedecem e
respeitam as leis do país que os acolhem, como já se disse. Porém, o que
vale para este povo é a unidade familiar, onde tudo é resolvido. Quando
o cigano comete um delito à luz de seus costumes, eles se reúnem num
tribunal que denominam Kris. A
resolução tem que ser encontrada em conjunto pelo grupo dos mais velhos
(de homens ou de mulheres), consoante o prevaricador seja homem ou
mulher, e adotada por consenso, com base nos valores da moralidade e de
respeito pela honra e pureza. O castigo, que penaliza o infrator, é
imposto pela comunidade, dada a inexistência de polícia cigana. As
decisões são finais, irrecorríveis. A pena mais drástica não é pena de
morte, é o exílio. Pois a privação da vida comunitária é o que de pior
pode acontecer a um elemento da etnia cigana. Ser expulso, ser exilado é
uma quase-morte para o indivíduo. Após o perdão ou cumprida a pena, o
indivíduo volta ao seio do grupo e o regozijo é geral.
Falemos da virgindade, hoje
considerada um tabu superado entre adolescentes não-ciganas. Para o povo
da estrada tal qualidade é exigida à moça que pretende se casar. Então
só podemos louvar tal atitude diante de épocas tão corrompidas de hoje,
de uma sociedade tão permissiva e relaxa. Se a moça que casar não é mais
virgem, pode dar azo a uma imediata separação.
O
casamento é outro costume que
os ciganos valorizam demais. Para preservar sua cultura e valores,
procuram incentivar o casamento entre os membros de sua etnia. Algumas
famílias tratam antecipadamente do casamento. As festas dos esponsais,
abieu, costumam durar três
dias. Há um ritual pré-casamento. Os pais negociam entre aspas o valor
da noiva, que chega, depois de muita negociação, a um valor (dote)
simbólico. No dia do casamento os noivos comem um pedaço de pão e sal,
que dizem manter o casamento íntegro através dos tempos. Em um tacho são
postos os presentes e moedas. Os noivos jogam uma taça ao chão, supondo
que o amor vai só acabar quando os cacos da taça se juntarem. A noiva e
o noivo simulam um rapto e abandonam os convidados. No dia seguinte é
feito o exame do sinal de virgindade, através do lençol manchado; quando
verificada, explodem as festas, rasgam a camisa do pai da noiva e o
carregam pela casa ou acampamento. A moça viverá com os sogros e a eles
servirá obedientemente até ter o primeiro filho, quando, então, terá sua
tenda. O adultério e bigamia não são tolerados e as mulheres ciganas são
extremamente fiéis e dedicadas aos respectivos maridos.
A
família ou conjunto familiar
reúne vários casais com os respectivos filhos e diversas gerações. O
conceito de família é amplo e engloba os descendentes (filhos, netos),
ascendentes (avós, bisavós) e os colaterais (primos, tias). É de se
destacar que o nome se confina a ser usado nos papéis legais e ao
convívio com os não-ciganos, sendo pelo apelido que se identificam. A
família nuclear é o elo mais forte de ligação entre os grupos. Em geral
é muito extensa; pela rudeza de vida, acontecem muitos óbitos e os
ciganos, com auxílio da mãe natureza, tratam de repor os entes perdidos
e aumentar a prole. Muitas famílias reunidas formam uma
Kumpanhia que é comandada pelo
mais velho, mais sábio: o Capitão ou
Barô.
A
desgraça maior para um casal é não ter
filhos. O nascimento do
primeiro filho é que consolida a família e a descendência. Quando a
criança nasce, é cuidadosamente lavada pelas tias em uma bacia, onde são
jogadas moedas, para que tragam a felicidade para o recém-nascido. E ele
é apresentado à Lua para que o tome como madrinha. Um
inexcedível amor às crianças
é apanágio do povo cigano. As crianças aprendem através do exemplo dos
pais. Os meninos brincam, fazem negócios e ajudam os pais, e as meninas
cuidam das tendas ou casas e aprendem a buena-dicha com as mais velhas,
desde cedo. Jamais se viu um cigano bater em seus filhos, que o obedecem
cegamente, até que se casam e se mudam. A idéia de deixar crianças órfãs
para trás, não existe, é impensável para um cigano abandonar suas
crianças.
O
respeito aos mais velhos é
outra qualidade invejável, outra lição de amor que os ciganos dão ao
mundo não-cigano. Seus conselhos são bem recebidos, ouvidos
respeitosamente e seguidos. Jamais um cigano idoso foi abandonado. Nunca
se encontram ciganos em asilos de terceira idade. E na doença, são de
uma solidariedade impar, comovente. Não deixam os doentes sós nos
hospitais e chegam a incomodar os outros internos, com tamanha dedicação
e barulho.
Na
morte e no luto é que aparece
mais vibrante o amor cigano pelos seus. Se o morto é o marido, a mulher
se descabela e dá gritos inenarráveis, parecendo o fim do mundo. Choram
todos. Gritam, lamentam, fazem discursos e elogios ao falecido, exaltam
suas qualidades. Acendem velas e contratam um enterro digno. Chamam o
religioso para encomendar o corpo e queimam os trastes do morto.
Antigamente queimavam até sua carroça, que chamam
vurdon. Após três dias do
enterro, realizam a pómana, a
festa em honra do falecido, onde uma cadeira fica vazia, no pressuposto
de que o morto comparecerá, em espírito. A viúva guarda luto definitivo,
não mais retirará o lenço, diklô,
da cabeça. Os mortos são
dignamente respeitados e, em respeito a eles, seus nomes jamais serão
pronunciados.
A
religiosidade cigana é
incontestável. Crêem em Deus (Devel)
e na entidade do mal (Beng).
Fazem grandes peregrinações em 24/25 de maio a
Saintes-Maries-de-La-Mer
(França), em honra à Santa Sara. No Brasil são devotos de N. Sra.
Aparecida, se forem católicos. Ressaltamos que os ciganos adotam a
religião do país que os acolhe. Assim, no Brasil, temos ciganos
católicos, evangélicos, testemunhas de Jeová, protestantes, espíritas,
adventistas, umbandistas e outras.
Vamos transcrever a
lenda e variantes dela que diz respeito à religiosidade dos zíngaros ou
ciganos:
Sara
era serva egípcia de Maria Jacob e Maria Salomé, tias de Jesus, que se
crê terem sido levadas miraculosamente para as margens do Ródano, poucos
anos depois da crucificação. Só nos meados do século
XIX
a presença dos ciganos entre outros peregrinos foi notada em
Les-saintes-maries e muito mais recentemente que começaram a dominar
o primeiro dos dois dias.
Está em livro cujo título é Os segredos do código, [da Vinci], editado por Dan Burstein,
Sextante, 2004, pp.47/48:
“São muitas as lendas que dizem ter Maria Madalena viajado à França (ou
Gália na época) depois da crucificação de Jesus, acompanhada de um
variado grupo de pessoas que inclui uma jovem serva negra chamada Sara,
Maria Salomé e Maria Jacobina — supostamente tias de Jesus— além de José
de Arimatéia, o rico proprietário do sepulcro onde Jesus foi colocado
antes da ressurreição, e são Maximino, um dos setenta e dois discípulos
mais próximos de Jesus e primeiro bispo de Provença. Embora os detalhes
da narrativa variem de versão para versão, parece que Madalena e seu
séquito foram obrigados a fugir da Palestina em condições mais que
precárias [...] Reza a lenda que eles desembarcaram (sem dúvida muito
agradecidos, depois de vagarem por águas salgadas durante semanas) no
que hoje é a cidade de Saintes-maries-de-la-mer, nas terras úmidas da Camargue, onde o
Ródano deságua no Mediterrâneo. As três Marias —Maria Madalena, Maria
Jacobina e Maria Salomé — são objeto de grande veneração na igreja que
se ergue dos charcos circundantes como uma imponente vela de navio, ao
passo que na cripta há um altar dedicado a Sara, a egípcia, a pequena
serva negra de Maria Madalena, hoje a adorada santa padroeira dos
ciganos que afluem à cidade no feriado de 25 de maio, quando milhares de
fieis devotados conduzem a estátua de Sara até o mar, para sua imersão
cerimonial. O fato de a tradição medieval considerar os ciganos
originários do Egito — egypsies — confere sentido à sua veneração da menina egípcia
Sara...”
As
lendas têm muitas versões por isso são lendas ficamos com uma adaptação
que seria a seguinte: Maria Madalena era o cálice sagrado (Santo Graal),
porque trazia em seu ventre o sangue real, a semente de Jesus. Ela teria
passado alguns anos em Alexandria, no Egito e Sara seria sua filha e de
Jesus, constituindo-se na linhagem sagrada. Maria Madalena por motivo
desconhecido (perseguição talvez) fugiu para a Gália com Sara e José de
Arimatéia. Lá foram acolhidos pelos ciganos. Sara é venerada pelos
ciganos, até porque Madalena, sua mãe, também é conhecida por Madalena
Egipcíaca. Isto faz sentido, os ciganos seriam os verdadeiro guardiães
da linhagem sagrada através de veneração à Santa Sara. Curioso é o fato
de que a igreja (católica) não considera Sara como santa em sua
hagiografia. Por que?
Negócios:
Ciganos precisam viver como nós outros precisamos. Outrora negociavam
cavalos, fabricavam utilidades de cobre, cestos, amestravam ursos e
montavam circos. Hoje, já não vendem cavalos; vendem autos, carros
usados e sucata. São comerciantes, empalhadores e amestradores etc.
Outros ainda têm circos e mambembes. Muitos, sedentários, miscigenaram
com os habitantes locais e exercem profissões com maestria, sabedoria e
muita dignidade. São jornalistas, advogados, médicos, escritores,
engenheiros, artistas e outros. Quando se dedicam à música, são
excelentes virtuoses no violino, violão, acordeão etc.
O
negócio das mulheres é cuidar da tenda e
ler a sorte dos outros, o que
fazem com suprema perspicácia. E às vezes prestam grandes serviços,
evitando atos desesperados de suicídio, porque elas nunca prevêem o mal;
só coisas boas, que gostamos de ouvir. Vemos em Gil Vicente (Auto de
umas ciganas, 1521):
Mustra la mano, señura,
No hayas ningun recelo.
Bendígate Diuz del cielo,
Tú tienez buena ventura,
Muy buena ventura tienez.
Muchuz bienez, muchuz bienez,
Un hombre te quiere mucho,
Otroz te hablan de amurez;
Tú, señura, no te curez
De dar á muchuz escuto.
E têm
o dom de ler em nossos olhos;
dom alcançado após milênios de sofrerem muita perseguição. Precisam
saber ... e sabem. No mais, elas são as principais responsáveis pela
administração do lar, muitas vezes colaboram, com seus negócios, nas
despesas. Vendem miçangas e pequenos utensílios, ajudando no sustento do
grupo. E tudo que conseguem pertence à comunidade familiar. O dinheiro
que obtêm é entregue ao chefe da família. Afinal, tudo é da família. E
não têm tanto amor ao dinheiro. Cigano ama a vida, não se preocupa em
amealhar grande fortuna. É mais digno de admiração aquele que gasta um
milhão do que o que economiza esta quantia.
Registre-se que, dos exemplos citados, os três maiores e mais
importantes e transcendentais eventos da vida cigana são estes:
nascimento, casamento e morte.
Dos quais falamos um pouco, pois cada um justificaria um ensaio à parte.
E
assim repassamos, ainda que superficialmente, os dezesseis aros da roda
do bem, os pontos de energia (os Asoka-chakras) que resolvemos consagrar
aos ciganos. Relembrando, finalmente, que eles têm defeitos como nós,
mas têm qualidades superiores que há muito desapareceram nos não-ciganos
ou foram obliteradas pela cultura egoísta, consumista, nossa, os
não-ciganos.
Os ciganos têm valores e comportamentos éticos que seriam motivos de
orgulho para qualquer etnia. São eles:
·
Respeito à família como instituição suprema da
sociedade cigana;
·
amor aos filhos,
consideração e respeito aos velhos;
·
hospitalidade com
alegria;
·
honrar a palavra
dada e fidelidade à Lei[8]
cigana;
·
liberdade como
condição natural da vida;
·
solidariedade para
com os membros da etnia cigana;
·
cumprimento das
decisões tomadas pelos maiores.
E a
moral cigana é rígida. Como vimos, o centro da moralidade cigana é a
família, pequena ou grande, e para defendê-la, criou-se todo um código
interno que tutela os direitos de sangue, de matrimônio e de valor.
Entretanto não existe obrigação moral, com relação aos que estão fora do
grupo. Juan de Dios Ramirez Heredia (um cigano erudito, espanhol, do
grupo calom) oferece uma
espécie de Decálogo deste código moral interno.
Segundo este código,
é pecado para um cigano[9]:
1. não ajudar outro cigano
2. violar os direitos de
outro cigano
3. faltar com o respeito
para com os mais velhos
4. faltar à palavra dada
entre ciganos
5. abandonar os filhos
6. a separação conjugal por
traição
7. a maternidade antes do
matrimônio
8. a falta de pudor no
vestir e os modos de comportar-se
9.
furtar num lugar sagrado
10. ofender a memória dos
mortos.
Levantamos apenas a ponta do véu que envolve o mundo dos ciganos. Mundo
ao mesmo tempo mágico, misterioso, trágico (porque na história da
humanidade, ao longo dos tempos não existiu ou existe povo tão
perseguido — excluído dos excluídos) e, ao mesmo tempo, feliz porque
ciganos são fortes, tenazes, indomáveis e, dentro do sofrimento, tiram
forças para sorrir, brincar e cantar. São fugidios traços, muito mais
poderia ser escrito, pois ao longo dos séculos eles, os ciganos, nos têm
ensinado lições de liberdade, pacifismo, coexistência, solidariedade,
felicidade e sobrevivência, que teimamos em não ver, nem aprender.
“Os ciganos não têm
heróis. Não existe nenhum mito de uma grande liberação, da fundação de
uma “nação”, de uma terra prometida [como os judeus tinham]. Não têm
Rômulo e Remo [como tiveram os romanos], nem um combatente e andarilho
Enéias[10].
Não têm monumentos, nem altares, nem hinos, nem ruínas. E não têm livro
sagrado”. E por isso mesmo, achamos nós, eles são felizes.
Em
vista do escrito neste ensaio, aliás bem pequeno, consulto ao leitor ou
leitora: É justo discriminar os
ciganos?
O
círculo[11],
a seguir, sintetiza o que falamos sobre a cultura cigana:
|
E por ironia da sorte, por ter qualidades invejáveis, os ciganos
carregam o estigma da rejeição. Por que? A resposta vamos pedi-la
emprestada a Gunter Grass[12],
literalmente:
Everywhere Gypsies are the lowest of the low. Why? Because they are
different. Because they steal, are restless, roam, have the Evil Eye and
that stunning beauty that makes us ugly to ourselves.
Because their mere existence puts our values in question...
Disse Jean Aicard, ilustre escritor de
Roi de Camargue, que os
ciganos são fantasmas [espelhos] de nós mesmos, e isto é de uma clareza
cristalina. Somos todos iguais, viemos do mesmo tronco, temos raízes
semelhantes, somos antropóides, pertencemos à família humana, com
defeitos e qualidades inerentes. Somos irmãos. Apenas temos usos e
costumes peculiares a cada raça ou grupo. Índios agem como índios, com
diferenças em cada tribo; Inuits são particularíssimos, porque seu
ambiente é o gelo polar; beduínos são diferentes de nós, porque vivem no
deserto; e assim pelo mundo afora. Por isso, somos muito interessantes:
iguais no todo, diferentes no detalhe. Que tal respeitarmos uns aos
outros? Que tal amarmos o próximo e compreender o diferente? Sejamos
tolerantes e solidários com os ciganos. Lembremos do espelho... o que vê
diante de um cigano? Se for um homem bom, então você é bom; mas se vê um
indivíduo mau... lembra que está diante do espelho.
O que é ser cigano? Pedimos vênia para transcrever a magistral
conceituação de Bruno Gonçalves (cigano português) em seu texto
Pontes sem margens[13].
Exprimo toda minha emoção do que é ser cigano! Ser cigano é um estilo de
vida A sociedade apenas conhece o cigano estereotipado, nós vamos muito
além de toda essa carga negativa, pois a sociedade conhece-nos pouco.
Somos tão ricos! Somos ciganos porque fazemos parte de um povo, um povo
sem território mas um povo que tem sua própria cultura, um modo de ver e
se relacionar com o mundo completamente distinto de todos os outros. Ser
cigano é ter muitos sonhos! sonhar ser um dia como todos os outros
ciganos, sermos ciganos e ciganas de respeito. É cultivar e conservar a
união de todos os nossos sentimentos e laços afetivos., de pertencer a
um grupo, a um povo, O CIGANO!
QUANTOS SÃO OS CIGANOS?
É uma pergunta que não pode ser respondida com
precisão. Os ciganos jamais foram recenseados, mesmo porque são arredios
a este tipo de levantamento, tendo em vista que quase sempre estas
questões são feitas para persegui-los. Veja o horror nazista que
meticulosamente exterminou mais de 500000 ciganos, a título de que era
uma raça perniciosa, embora fossem arianos. Assim, quando se quer fazer
um levantamento, os ciganos se identificam com a nacionalidade que os
abriga: no Brasil, são brasileiros e estão certos, pois nasceram no
Brasil. Desta forma vamos ficar com estimativas de pessoas e órgãos que
merecem confiança porque sempre se interessaram pela etnia cigana.
O
doutor Ian Hancock[14]
em A Handbook of Vlax Romani,
nos diz que são nove milhões de
roma (plural de rom, o
correto nome para o povo que é freqüentemente referido como “ciganos”,
ou gypsies, em inglês), que vivem na Europa e EUA. E que existem muito
mais em todo o mundo.
Segundo Grattan Puxon, em 1970 esta era a
população cigana, na Europa:
Iugoslávia 650 mil
Romênia 540 mil
Espanha 500 mil
Hungria 480 mil
USSR 414 mil
Bulgária 363 mil
Czecholovakia 300 mil
France 190 mil
Italy 80 mil
West Germany 70 mil
Poland 52 mil
Albânia 50 mil
|
Greece 45 mil
Portugal 40 mil
Netherlandes 31 mil
Belgium 14 mil
Ireland 10 mil
Switzerland 10 mil
Áustria 9 mil
Sweden 8 mil
Finland 6 mil
Norway 4 mil
Denamark 3 mil
Britain 50 mil
|
A revista VEJA de 17/11/1999 e de 7/6/2000
publicou estes números:
Romênia 2,5 milhões
Bulgária 800mil a 920mil
Hungria 600 mil
Eslováquia 500mil a 590 mil
Iugoslávia 400mil a 420 mil
Grécia 200mil
|
Macedonia 260mil a 370 mil
Rep. Checa 300mil
Albânia 130 mil
Bosnia 50mil a 55 mil
Croácia 40mil a 45 mil
|
European Roma Rights Center, Minority Rights
Group, Centre de Recherches Tsiganes y Unicef, informam estes números:
Alemanha 85 mil a 120 mil
Luxemburgo 200 mil a 500 indivíduos
Suécia 15 mil a 20 mil
Reino Unido 80 mil a 100 mil
Portugal 50 mil a 100 mil
Holanda 30mil a 40 mil
Itália 85 mil a 120 mil
Irlanda 20 mil a 27mil
|
Grécia 140 mil a 200 mil
Áustria 15 mil a 20 mil
Bélgica 10 a 15 mil
Dinamarca 2,5 mil a 4,5 mil
Espanha 500 mil a 600 mil
França 200 mil a 300 mil
Finlândia 5 mil a 8 mil indivíduos
|
Em Mil Folhas
http://jornal.publico.pt/publico/2001/06/23/MilFolhas
lemos que: Europa tem 10 milhões de ciganos;
EUA 75 mil a 150 mil. Fontes esparsas [internet], nos dizem que no
Canadá tem aproximadamente 300 mil ciganos.
Jean Pierre Liégeois.
apud (Frans Moonem)
Roma, tsiganes, voyaguers, nos
apresenta esta estatística, válida para 1994:
Albânia 90 mil a 100 mil
Belarússia 10 mil a 15 mil
Bosnia-Herzegovina 40mil a 50 mil
Bulgária 700 mil a 800 mil
Croácia 30 mil a 40 mil
Eslováquia 480 mil a 520 mil
Eslovênia 8 mil a 10 mil
Estônia 1 mil a 1,5 mil
Grécia 120 mil a 140 mil
Hungria 550 mil a 600mil
Iuguslávia (Sérvia e Montenegro) 40
mil a 45 mil
|
Letônia 2mil a 3,5 mil
Lituânia 3 mil a 4 mil
Macedonia 220 mil a 260 mil Moldávia
20 mil a 25 mil
Polônia 40 mil a 50 mil
Rep. Tcheca 250 mil a 300 mil
Romênia 1,800 um milhão e oitocentos
mil a 2,500 dois milhões e quinhentos mil
Rússia 220 mil a 400 mil
Turquia 300 mil a 500 mil
Ucrânia 50 mil a 60 mil
|
Finalmente, retiramos estes números da internet[15]
que, por sua vez, foram retirados de revista da Unesco “Mémoire des
peuples”
Albanie 90 mil a 100mil
Allemagne 100 mil a 120mil
Autriche 15 mil a 68mil
Belgique 12 mil a 15mil
Bulgarie 313 mil a 800mil
Chypre 500 a 1mil indivíduos
Comunidade de Estados
Independentes 300 mil a 550mil
Denamark 1,5 mil a 4,5mil
Espangne 350 mil a 800mil
ex-Yougoslavie 690 mil a 1 milhão
Finlandie 7 mil a 9mil
France 280 mil a 400mil
Grèce 150 mil a 200mil
Hongrie 142 mil a 800mil
Irlande 20 mil a 30mil
|
Italie 90 mil a 110mil
Luxembourg 100 a 150 indivíduos
Norvège 4,5 mil a 5mil
Pays-Bas 30 mil a 35mil
Pologne 30 mil a 50mil
Portugal 30 mil a 50mil
Rép,
Tchèque 30 mil a 250mil
Roumanie 410mil a 2,5 milhões
Royaume-Uni 90 mil a 120mil
Slovaquie 200 mil a 400mil
Suède 15 mil a 20mil
Suisse 30 mil a 35mil
Turquie 300mil a 550mil
États-Unis 100mil
Mexique 10mil
|
Em maio de 2003, Jorge Bernal, cigano
Kalderash, residente na Argentina, apresentou um “paper” na Commission
on Human Rights; Sub-Commission on Promotion and Protection of Human
Rights, Working Group on Minorities, ninth session, do qual extraímos
alguns dados sobre ciganos nas américas. São eles:
Argentina 300mil
Brasil 800mil a 1milhão
Colômbia 8 mil
Chile 15 mil a 20mil
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Equador 5 mil
Uruguai ???
USA 1 milhão
Nas Américas + de 4 milhões
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Jorge Bernal sabe o que fala, pois não só é
cigano, como estuda seu povo há muitos anos. Viaja pelo mundo todo,
participa de encontros na ONU etc.
Em 13 de fevereiro de 2005,
O Globo à página
36,
sob o título Integração tardia,
nos informa que a população cigana no mundo é de 12 milhões.
No Brasil, os números são inconclusivos. Não
existem informações oficiais Seja do IBGE ou de outras entidades.
Rodrigo Corrêa Teixeira nos diz que de 1819 a 1959 imigraram para o
Brasil 5,3 milhões de europeus entre eles 2,0 milhões de italianos e
alemães e entre eles devem ter vindo ciganos
sinti.
Cristina Costa Pereira[16]
escreveu
em 1985: “Pode-se afirmar que hoje há cerca de 150000 ciganos espalhados
por todo o Brasil, nômades ou semi-sedentários. Isto sem nos referirmos
aos que negam a sua ciganidade o que triplicaria este número.”
Em Gli Zingari in Brasile (Lacio Drom no 6 ano 26, mar. dez./90 lemos que na América Latina,
segundo dados fornecidos pela Únion Romani de Madrid, existem 1500000
ciganos; dos quais 800000 no Brasil.
O professor Ático Vilas-Boas da Mota em
avaliação conservadora, prudente, nos disse que o número de ciganos, no
Brasil é de 300000.
Aguardemos, pois, alguém ou alguma entidade
nos dê o número aproximado de ciganos nos Brasil. Até então, ficaremos
com o entorno de 150mil a 1 milhão.
Ressaltamos ainda que desconhecemos fonte fidedigna do número de ciganos
na Austrália[17],
no Continente Africano e na Ásia. Mas eles lá estão, seguramente.
Richard F. Burton, citado, conhecedor profundo da África, em seu livro
O judeu, o cigano e o
Islã nos informa sobre os
Ghawazis, ciganos dançarinos do Egito, bem como da existência de outros
grupos. Também os viu em Marrocos e em muitos outros lugares do
Continente Africano, bem como na Ásia. Sabemos que Angola quando era
colônia portuguesa, o governador D. Antônio Álvares da Cunha
(1753-1758),
solicitou ao rei de Portugal, que lhe mandassem ciganos[18],
pois, facilmente se adaptavam ao clima (calor) na Colônia. Há ainda os
Banjaus, ciganos do mar, nas Filipinas ao sudoeste da Ásia.
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