CIGANOS[1], TZIGANOS, GITANOS, BOÊMIOS, GYPSIE, ZÍNGAROS...  QUE SÃO ELES?
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E porque não devemos discriminá-los.

por Asséde Paiva - 24/03/2015
Acir reis (rev.)

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Cigana feiticeira
seu feitiço me pegou,
a luz do seu olhar
tem tanto fogo e me queimou.
Pela primeira vez
que você leu a minha mão,
deixou uma fogueira
dentro do meu coração.

Cigana feiticeira
feiticeira, ai meu Deus!
Eu gasto tudo, tudo,
pelos carrinhos seus.
Me diga só
que tenho de fazer
pra virar cigano
e morar com você.

Do cancioneiro popular


Nós, o povo cigano, não queremos
sua piedade; sua indiferença; sua animosidade.
Mas queremos muito
compreensão; tolerância, respeito e paz.

C I G A N O

 

 

cigano. [do grego bizantino athinganos, pelo fr. tzigane ou tsigane.] S. m. 1. Indivíduo de um povo nômade, provavelmente originário da Índia e emigrado em grande parte para a Europa Central, de onde se disseminou, povo esse que tem um código ético próprio e se dedica à música, vive de artesanato, de ler a sorte, barganhar cavalos, etc. [Designam-se a si próprios rom, quando originários dos Balcãs, e manuche, quando da Europa Central.] Sin.: boêmio, gitano, calom.
Novo Aurélio
[2], Séc. XXI, p. 470)

 

Os ciganos têm um milênio de história, porém há quem diga que existem há mais de quatro mil anos. Heródoto, historiador grego (484-420 a.C.) falava dos siganos, e os colocava como habitando às margens do rio Danúbio.

 

Encontramos na internet belíssimo texto, que passamos a reproduzir :

 

De onde vêm os filhos do vento?

 

Eles se movem como o sol e a lua. São nômades. Ou, antes, são como as ondas. Estão em toda parte. Chegam e partem rápido. Parecem o vento. Num momento estão aqui. No outro, sumiram. Numa lufada, deixam traços indeléveis de sua passagem no eco de sua música, no relinchar de seus cavalos, no sorriso alegre de suas mulheres. Não, não são vento. São os filhos-do-vento!

 

Informa o autor[3] que o texto acima faz parte de um poema escrito na Pérsia, 200 a 400 anos antes de Cristo. Um povo é chamado de Filhos do Vento e a ele se refere autor anônimo como “o povo que veio do rio”, numa alusão ao rio Sind, no norte da Índia, na região de Gujarat.

 

Cigano não é somente quem corresponde a uma lista de características mas, sim, quem tem um corpo cigano (referência étnico-histórica), uma alma cigana (cultural-espiritual) e vive ligado a um grupo cigano (sócio-político)[4].

 

Leitor ou leitora, este é o abêcê da ciganologia, deixe de lado o preconceito. Imagine-se um extraterrestre que aqui chegou há pouco. Alienígena não tem preconceito. Ele nos vê apenas como humanos e todos são iguais, não são? O Alien, é melhor chamá-lo assim, veio de um planeta distante, desceu em um acampamento cigano e o que viu? Primeiro, foi bem recebido. Todos visitantes são bem recebidos em um acampamento cigano. Apenas se identificam e dizem sobre seus propósitos, são aceitos. De início, o Alien estranhou que morassem em simples tenda, que eles chamam tcêra. Logo foi informado que os moradores eram nômades, isto é aqueles que viajam. As tendas ficam distantes da cidade porque outros moradores, lá longe, preferem casas e prédios de apartamentos e, em geral, não gostam de ciganos. Aqueles (os da cidade) são sedentários, isto é, deitam raízes definitivas num lugar, raramente mudam. Os ciganos têm alguns do seu povo seminômades e sedentários, porém no íntimo permanecem nômades. A língua que falam é diferente dos não-ciganos, é um idioma da velha Índia, o romani. Deriva do sânscrito. Ensinada de pai para filho por todos os tempos. Os não-ciganos fazem aproximações e tentam estudá-la e escrevê-la. Eles é que concluíram que ciganos vêm da Índia. Verdade ou não, o cigano não se preocupa com isso, nem interessa saber, pois vive o dia-a-dia. Hoje é muito importante; ontem, passou; amanhã, só o vento saberá; pois o vento de amanhã soprará amanhã.

 

Primeiramente, vamos deixar bem claro: 99,9% dos dicionários (des)qualificam os ciganos com palavras injuriosas. Mas uma única mentira, dita um milhão de vezes, continua sendo mentira. E os dicionários, em relação ao cigano, mentem, erram e transcrevem preconceitos milenares. Leitor e leitora ou ouvintes, deixem de lado os dicionários, as enciclopédias, dêem um momento de paz, um momento de atenção e, sobretudo, um instante de amor e concórdia. Abram seus corações, sejam aliens[5]. Os ciganos já sofreram muito. Esqueçam as lendas, as informações más que milhares de escritores deram sobre eles. Passem por estas mal traçadas linhas um olhar de pureza e os vejam apenas como... seres humanos, como são. Ouçam, leiam e então julguem, entretanto lembrem-se do Mestre dos mestres: “Aquele que for livre do pecado atire a primeira pedra”. Se depois de tudo que dissermos não conseguirmos convencer, aí então decidam o que os ciganos merecem.

 

Quando dois não-ciganos falam de ciganos, a imagem mais estereotipada que vem à mente deles, no mínimo, é de mulheres com vestes estampadas, esvoaçantes, cabelos trançados, moedas como berenguendém etc., nas esquinas das avenidas e ruas de grandes cidades, chamando as pessoas para leitura da buena-dicha. Esta ainda é a mais aceitável imagem que fazem. Nas outras imagens, os põem num quadro onde se vê, na melhor das hipóteses, pessoas perigosas que devem ser evitadas. Ora, ciganos não são bicho-papão, não andam assaltando por aí, não traficam, nem roubam criancinhas. Não querem sua casa, nem seus bens. Ciganos são o povo mais pacífico da terra. Não se conhece na história universal um só relato onde ciganos tenham apanhado armas e se voltado contra outros povos. Mas que povo é esse? Na verdade, as origens desse povo são obscuras. Hoje, estudos antropológicos, etnográficos e DNA têm levado os pesquisadores de todos os ramos, das múltiplas ciências, a concordarem que os ciganos vieram da Índia. Por que saíram de lá? Ninguém sabe. Especula-se que seriam as invasões mongólicas, ou dos hunos, ou dos árabes; conjugadas com algum período de longa seca ou de chuva continuada. Mas o certo é que estabeleceram-se no Egito [daí o nome egípcios e mais tarde egipcianos, por fim gitanos].

 

Em 1322, a presença de ciganos foi detectada na ilha de Creta e, a seguir, em outras ilhas do Mediterrâneo: Chipre, Rodes, Negroponto e Corfu. Em 1418, apareceram na Europa, em vários países, num período relativamente curto, em menos de cem anos.

 

Os ciganos são como nós. Apenas têm usos, tradições e costumes um pouco diferentes, peculiares, como todos povos têm os seus usos e costumes próprios. A única e definitiva diferença, a mais fundamental característica dos ciganos, é a de não possuir território delimitado reconhecido por outros povos; daí são considerados, pela ONU, nação sem território. Os ciganos simplesmente consideram o mundo seu território. E isso os faz terrivelmente peculiares e não tolerados pelo resto da humanidade. Mas esqueçam por um momento esta marca, tornem-se aliens. Analisemos friamente, conscientemente, alguns dos costumes deste povo e tentemos compreender e respeitar as suas maneiras de viver. Não se pede aqui que façam rapapés aos ciganos. Vamos tentar compreendê-los, só isso. Se fizéssemos um círculo, poderíamos dividi-lo em dezesseis partes e em cada raio registrar um ponto que evidencie qualidades dos ciganos. Será muito fácil, desde que não tenhamos o fatídico preconceito. Mas o que é esta palavra? Segundo o Novo Aurélio Séc. XXI:

 

PRECONCEITO vem de [pré + conceito] S. m. 1. Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo.

 

Se você amigo, amiga, pode abstrair por algum momento o tal preconceito, então poderemos nos entender. Os ciganos são zelosos de seus costumes e tradições. Só se pode ser cigano de nascença; embora sejam muito acolhedores, raramente um não-cigano consegue integrar-se na comunidade, pois são diferentes culturas, entre ciganos prevalece a solidariedade, o que entre nós nem sempre acontece.

 

DEZESSEIS PONTOS IMPORTANTES NA CULTURA CIGANA

 

De início, vamos ressaltar que falaremos genericamente, pois ciganos não são uniformes, eles se subdividem em muitos subgrupos que apresentam diferenças entre eles. São estes os principais: Rom, sinto e calom, que são compostos por kalderash, matchuaia, horahanê, lovara e outros. Portanto um grupo pode ou não apresentar todos costumes aqui citados ou apresentar diferenças. Entretanto, todos são ciganos e se entendem muito fácil.

 

Fincando pé na nossa idéia do círculo, escolhemos o círculo porque ele é o símbolo da roda e dos ciganos no seu eterno devir, escolhemos a evidência maior desse povo que é sua língua. Os ciganos falam o romani, que se derivou do velho sânscrito e vem ao longo de mil anos recebendo contribuições de todas as línguas por onde este povo passa algum tempo. Os dialetos ciganos podem ser agrupados assim:

 

Sintos — na Europa ocidental, com grande influência da língua alemã; Vlax (ou danubianos) — presentes em toda Europa, América, Austrália e sul da África; Balcânicos — recebendo influência eslava e turca. Já dissemos, é uma língua ágrafa, i.é., não tem símbolos para que se escreva. Daí os estudiosos fazem aproximações e analogias. Todavia, é a língua ágrafa que possibilita a manutenção dessa gente unida e evita sua absorção pelos outros povos com os quais convivem. Não é incomum a existência de línguas ágrafas. Os índios brasileiros são exemplos disso. Centenas de outras etnias são também ágrafas.

 

Nomadismo. Este fato, tão típico e misterioso deste povo, não é explicado pelas teorias científicas. Afinal o homem nos seus primórdios era nômade, o que é inexplicável é a continuidade desse nomadismo pelos ciganos. Embora no mundo moderno não se vejam mais caravanas de ciganos, na verdade esse nomadismo persiste em suas almas, no seu psique. Assim, o cigano, ainda que dentro de quatro paredes, se sente nômade, e por de-cá-aquela-palha segue em frente. O cigano procura meios de sobrevivência segundo seu espírito de viajante. Assim uma cigana que comercia, não pensa em termos de supermercado, por não ser compatível com o viajar. Pensa numa mala de viagem com lenços, agulhas, meias, ou seja, pequenas coisas que lhe possibilitam trocar rapidamente de um lugar por outro. Os ciganos são notórios artistas de circo porque a mobilidade do circo é compatível com seu jeito de ver e encarar o caminho. Hoje, os tempos são difíceis para os nômades, principalmente para os ciganos. Assim, vamos encontrá-los como seminômades e sedentários. Mas muito além das aparências, os ciganos permanecem essencialmente andarilhos,. ainda que residam em locais definidos e com endereço certo, por exigência das autoridades. Eles têm e continuarão a ter a alma nômade.

 

O ponto seguinte que vamos abordar é o conceito de liberdade. Claro, todos os povos almejam a liberdade. Mas todos ou quase todos abdicam de parcelas substanciais dessa liberdade em nome de outros valores, como por exemplo, segurança. Mas os ciganos não abdicam da liberdade nem em benefício da felicidade. O cigano tem em suas entranhas tão profundo senso de liberdade que em geral morrem ou definham quando presos. Desta forma eles não se prendem nem se curvam para valores que nós julgamos fundamentais como: pátria, hinos altissonantes, bandeiras, selo, armas nacionais, enfim não curvam a espinha para autoridades, governos, regras e regulamentos. Não se quer dizer que sejam anárquicos, eles obedecem às leis do país onde estão. Eles são a essência da liberdade e são felizes como são.

 

Daí seguimos ao pacifismo que tem raízes profundas na alma gitana. A bandeira que tenta uni-los traz em seu centro o símbolo de Asoka[6], também adotado no pendão da Índia; é a roda de dezesseis raios Não se conhece no mundo inteiro, na história da humanidade, um só exemplo de que ciganos tenham pegado em armas contra outros povos. Não lhes move qualquer ambição de conquista, nem querem território. Relembremos que o seu lema é a Terra é minha pátria. Em o Cancioneiro romeno, de Stella Leonardos, lemos, à p. 101, a Canção do Bulibacha[7], da qual retiramos esta estrofe que nos dá a medida do pacifismo cigano:

 

Nem cobiçamos a terra
nem guerreamos, nós ciganos.
Viva nosso povo, ileso
entre cristãos e otomanos!

 

Na música, extravasam toda sua alegria, todo seu sentimento. Na dança, comungam com a natureza. Ciganos, para facilitar a interação Terra/Céu, dançam descalços. Há uma variedade de danças: do lenço, do punhal, da fogueira etc. O que se pode verificar, porém, é que a cigana, embora tenha movimentos aparentemente sensuais, ela é pudica, e jamais veremos além de seus tornozelos nos seus rodopios e meneios. Para evitar acidentes durante o bailado e coreografias, as ciganas usam sobre-saias até em número de sete. Daí, ciganas estereotipadas como as das novelas e filmes nada têm a ver com a realidade. Na dança, o cigano procura desenvolver uma relação telúrica, conectar-se com a natureza e deixar fluir para a superfície física do ser, todos os sentimentos mais íntimos. Assim, nota-se perfeitamente o sinal de êxtase de uma cigana ao rodopiar e fazer seus movimentos gentis, ao sacudir seu pandeiro ou ao som do atrito das castanholas. Para o cigano, dançar é celebrar a vida, a existência e se ligar a Deus.

 

Agora falaremos das leis dos ciganos. Não são como as nossas, são consuetudinárias. Este povo tem o costume irrestrito de obedecer à “lei” dos mais velhos. Quem manda é o chefe, o barô ou voivoda ou capitão. Sua palavra tem força de lei. Ressalte-se o grande respeito que têm pelas pessoas mais idosas, e a matriarca (phury daj) tem a palavra final em todas as questões, não obstante a sociedade cigana ser patriarcal. Contudo, os ciganos se adequam, obedecem e respeitam as leis do país que os acolhem, como já se disse. Porém, o que vale para este povo é a unidade familiar, onde tudo é resolvido. Quando o cigano comete um delito à luz de seus costumes, eles se reúnem num tribunal que denominam Kris. A resolução tem que ser encontrada em conjunto pelo grupo dos mais velhos (de homens ou de mulheres), consoante o prevaricador seja homem ou mulher, e adotada por consenso, com base nos valores da moralidade e de respeito pela honra e pureza. O castigo, que penaliza o infrator, é imposto pela comunidade, dada a inexistência de polícia cigana. As decisões são finais, irrecorríveis. A pena mais drástica não é pena de morte, é o exílio. Pois a privação da vida comunitária é o que de pior pode acontecer a um elemento da etnia cigana. Ser expulso, ser exilado é uma quase-morte para o indivíduo. Após o perdão ou cumprida a pena, o indivíduo volta ao seio do grupo e o regozijo é geral.

 

Falemos da virgindade, hoje considerada um tabu superado entre adolescentes não-ciganas. Para o povo da estrada tal qualidade é exigida à moça que pretende se casar. Então só podemos louvar tal atitude diante de épocas tão corrompidas de hoje, de uma sociedade tão permissiva e relaxa. Se a moça que casar não é mais virgem, pode dar azo a uma imediata separação.

 

O casamento é outro costume que os ciganos valorizam demais. Para preservar sua cultura e valores, procuram incentivar o casamento entre os membros de sua etnia. Algumas famílias tratam antecipadamente do casamento. As festas dos esponsais, abieu, costumam durar três dias. Há um ritual pré-casamento. Os pais negociam entre aspas o valor da noiva, que chega, depois de muita negociação, a um valor (dote) simbólico. No dia do casamento os noivos comem um pedaço de pão e sal, que dizem manter o casamento íntegro através dos tempos. Em um tacho são postos os presentes e moedas. Os noivos jogam uma taça ao chão, supondo que o amor vai só acabar quando os cacos da taça se juntarem. A noiva e o noivo simulam um rapto e abandonam os convidados. No dia seguinte é feito o exame do sinal de virgindade, através do lençol manchado; quando verificada, explodem as festas, rasgam a camisa do pai da noiva e o carregam pela casa ou acampamento. A moça viverá com os sogros e a eles servirá obedientemente até ter o primeiro filho, quando, então, terá sua tenda. O adultério e bigamia não são tolerados e as mulheres ciganas são extremamente fiéis e dedicadas aos respectivos maridos.

 

A família ou conjunto familiar reúne vários casais com os respectivos filhos e diversas gerações. O conceito de família é amplo e engloba os descendentes (filhos, netos), ascendentes (avós, bisavós) e os colaterais (primos, tias). É de se destacar que o nome se confina a ser usado nos papéis legais e ao convívio com os não-ciganos, sendo pelo apelido que se identificam. A família nuclear é o elo mais forte de ligação entre os grupos. Em geral é muito extensa; pela rudeza de vida, acontecem muitos óbitos e os ciganos, com auxílio da mãe natureza, tratam de repor os entes perdidos e aumentar a prole. Muitas famílias reunidas formam uma Kumpanhia que é comandada pelo mais velho, mais sábio: o Capitão ou Barô.

 

A desgraça maior para um casal é não ter filhos. O nascimento do primeiro filho é que consolida a família e a descendência. Quando a criança nasce, é cuidadosamente lavada pelas tias em uma bacia, onde são jogadas moedas, para que tragam a felicidade para o recém-nascido. E ele é apresentado à Lua para que o tome como madrinha. Um inexcedível amor às crianças é apanágio do povo cigano. As crianças aprendem através do exemplo dos pais. Os meninos brincam, fazem negócios e ajudam os pais, e as meninas cuidam das tendas ou casas e aprendem a buena-dicha com as mais velhas, desde cedo. Jamais se viu um cigano bater em seus filhos, que o obedecem cegamente, até que se casam e se mudam. A idéia de deixar crianças órfãs para trás, não existe, é impensável para um cigano abandonar suas crianças.

 

O respeito aos mais velhos é outra qualidade invejável, outra lição de amor que os ciganos dão ao mundo não-cigano. Seus conselhos são bem recebidos, ouvidos respeitosamente e seguidos. Jamais um cigano idoso foi abandonado. Nunca se encontram ciganos em asilos de terceira idade. E na doença, são de uma solidariedade impar, comovente. Não deixam os doentes sós nos hospitais e chegam a incomodar os outros internos, com tamanha dedicação e barulho.

 

Na morte e no luto é que aparece mais vibrante o amor cigano pelos seus. Se o morto é o marido, a mulher se descabela e dá gritos inenarráveis, parecendo o fim do mundo. Choram todos. Gritam, lamentam, fazem discursos e elogios ao falecido, exaltam suas qualidades. Acendem velas e contratam um enterro digno. Chamam o religioso para encomendar o corpo e queimam os trastes do morto. Antigamente queimavam até sua carroça, que chamam vurdon. Após três dias do enterro, realizam a pómana, a festa em honra do falecido, onde uma cadeira fica vazia, no pressuposto de que o morto comparecerá, em espírito. A viúva guarda luto definitivo, não mais retirará o lenço, diklô, da cabeça. Os mortos são dignamente respeitados e, em respeito a eles, seus nomes jamais serão pronunciados.

 

A religiosidade cigana é incontestável. Crêem em Deus (Devel) e na entidade do mal (Beng). Fazem grandes peregrinações em 24/25 de maio a Saintes-Maries-de-La-Mer (França), em honra à Santa Sara. No Brasil são devotos de N. Sra. Aparecida, se forem católicos. Ressaltamos que os ciganos adotam a religião do país que os acolhe. Assim, no Brasil, temos ciganos católicos, evangélicos, testemunhas de Jeová, protestantes, espíritas, adventistas, umbandistas e outras.

 

Vamos transcrever a lenda e variantes dela que diz respeito à religiosidade dos zíngaros ou ciganos:

 

Sara era serva egípcia de Maria Jacob e Maria Salomé, tias de Jesus, que se crê terem sido levadas miraculosamente para as margens do Ródano, poucos anos depois da crucificação. Só nos meados do século XIX a presença dos ciganos entre outros peregrinos foi notada em Les-saintes-maries e muito mais recentemente que começaram a dominar o primeiro dos dois dias.

 

Está em livro cujo título é Os segredos do código, [da Vinci], editado por Dan Burstein, Sextante, 2004, pp.47/48:

 

“São muitas as lendas que dizem ter Maria Madalena viajado à França (ou Gália na época) depois da crucificação de Jesus, acompanhada de um variado grupo de pessoas que inclui uma jovem serva negra chamada Sara, Maria Salomé e Maria Jacobina — supostamente tias de Jesus— além de José de Arimatéia, o rico proprietário do sepulcro onde Jesus foi colocado antes da ressurreição, e são Maximino, um dos setenta e dois discípulos mais próximos de Jesus e primeiro bispo de Provença. Embora os detalhes da narrativa variem de versão para versão, parece que Madalena e seu séquito foram obrigados a fugir da Palestina em condições mais que precárias [...] Reza a lenda que eles desembarcaram (sem dúvida muito agradecidos, depois de vagarem por águas salgadas durante semanas) no que hoje é a cidade de Saintes-maries-de-la-mer, nas terras úmidas da Camargue, onde o Ródano deságua no Mediterrâneo. As três Marias —Maria Madalena, Maria Jacobina e Maria Salomé — são objeto de grande veneração na igreja que se ergue dos charcos circundantes como uma imponente vela de navio, ao passo que na cripta há um altar dedicado a Sara, a egípcia, a pequena serva negra de Maria Madalena, hoje a adorada santa padroeira dos ciganos que afluem à cidade no feriado de 25 de maio, quando milhares de fieis devotados conduzem a estátua de Sara até o mar, para sua imersão cerimonial. O fato de a tradição medieval considerar os ciganos originários do Egito — egypsies — confere sentido à sua veneração da menina egípcia Sara...”

 

As lendas têm muitas versões por isso são lendas ficamos com uma adaptação que seria a seguinte: Maria Madalena era o cálice sagrado (Santo Graal), porque trazia em seu ventre o sangue real, a semente de Jesus. Ela teria passado alguns anos em Alexandria, no Egito e Sara seria sua filha e de Jesus, constituindo-se na linhagem sagrada. Maria Madalena por motivo desconhecido (perseguição talvez) fugiu para a Gália com Sara e José de Arimatéia. Lá foram acolhidos pelos ciganos. Sara é venerada pelos ciganos, até porque Madalena, sua mãe, também é conhecida por Madalena Egipcíaca. Isto faz sentido, os ciganos seriam os verdadeiro guardiães da linhagem sagrada através de veneração à Santa Sara. Curioso é o fato de que a igreja (católica) não considera Sara como santa em sua hagiografia. Por que?

 

Negócios: Ciganos precisam viver como nós outros precisamos. Outrora negociavam cavalos, fabricavam utilidades de cobre, cestos, amestravam ursos e montavam circos. Hoje, já não vendem cavalos; vendem autos, carros usados e sucata. São comerciantes, empalhadores e amestradores etc. Outros ainda têm circos e mambembes. Muitos, sedentários, miscigenaram com os habitantes locais e exercem profissões com maestria, sabedoria e muita dignidade. São jornalistas, advogados, médicos, escritores, engenheiros, artistas e outros. Quando se dedicam à música, são excelentes virtuoses no violino, violão, acordeão etc.

 

O negócio das mulheres é cuidar da tenda e ler a sorte dos outros, o que fazem com suprema perspicácia. E às vezes prestam grandes serviços, evitando atos desesperados de suicídio, porque elas nunca prevêem o mal; só coisas boas, que gostamos de ouvir. Vemos em Gil Vicente (Auto de umas ciganas, 1521):

 

Mustra la mano, señura,
No hayas ningun recelo.
Bendígate Diuz del cielo,
Tú tienez buena ventura,
Muy buena ventura tienez.
Muchuz bienez, muchuz bienez,
Un hombre te quiere mucho,
Otroz te hablan de amurez;
Tú, señura, no te curez
De dar á muchuz escuto.

 

E têm o dom de ler em nossos olhos; dom alcançado após milênios de sofrerem muita perseguição. Precisam saber ... e sabem. No mais, elas são as principais responsáveis pela administração do lar, muitas vezes colaboram, com seus negócios, nas despesas. Vendem miçangas e pequenos utensílios, ajudando no sustento do grupo. E tudo que conseguem pertence à comunidade familiar. O dinheiro que obtêm é entregue ao chefe da família. Afinal, tudo é da família. E não têm tanto amor ao dinheiro. Cigano ama a vida, não se preocupa em amealhar grande fortuna. É mais digno de admiração aquele que gasta um milhão do que o que economiza esta quantia.

 

Registre-se que, dos exemplos citados, os três maiores e mais importantes e transcendentais eventos da vida cigana são estes: nascimento, casamento e morte. Dos quais falamos um pouco, pois cada um justificaria um ensaio à parte.

 

E assim repassamos, ainda que superficialmente, os dezesseis aros da roda do bem, os pontos de energia (os Asoka-chakras) que resolvemos consagrar aos ciganos. Relembrando, finalmente, que eles têm defeitos como nós, mas têm qualidades superiores que há muito desapareceram nos não-ciganos ou foram obliteradas pela cultura egoísta, consumista, nossa, os não-ciganos.

 

Os ciganos têm valores e comportamentos éticos que seriam motivos de orgulho para qualquer etnia. São eles:

·  Respeito à família como instituição suprema da sociedade cigana;
·  amor aos filhos, consideração e respeito aos velhos;
·  hospitalidade com alegria;
·  honrar a palavra dada e fidelidade à Lei[8] cigana;
·  liberdade como condição natural da vida;
·  solidariedade para com os membros da etnia cigana;
·  cumprimento das decisões tomadas pelos maiores.

 

E a moral cigana é rígida. Como vimos, o centro da moralidade cigana é a família, pequena ou grande, e para defendê-la, criou-se todo um código interno que tutela os direitos de sangue, de matrimônio e de valor. Entretanto não existe obrigação moral, com relação aos que estão fora do grupo. Juan de Dios Ramirez Heredia (um cigano erudito, espanhol, do grupo calom) oferece uma espécie de Decálogo deste código moral interno.

 

            Segundo este código, é pecado para um cigano[9]:
            1.
não ajudar outro cigano
            2. violar os direitos de outro cigano
            3. faltar com o respeito para com os mais velhos
            4. faltar à palavra dada entre ciganos
            5. abandonar os filhos
            6. a separação conjugal por traição
            7. a maternidade antes do matrimônio
            8. a falta de pudor no vestir e os modos de comportar-se
            9. furtar num lugar sagrado
          10. ofender a memória dos mortos.

 

Levantamos apenas a ponta do véu que envolve o mundo dos ciganos. Mundo ao mesmo tempo mágico, misterioso, trágico (porque na história da humanidade, ao longo dos tempos não existiu ou existe povo tão perseguido — excluído dos excluídos) e, ao mesmo tempo, feliz porque ciganos são fortes, tenazes, indomáveis e, dentro do sofrimento, tiram forças para sorrir, brincar e cantar. São fugidios traços, muito mais poderia ser escrito, pois ao longo dos séculos eles, os ciganos, nos têm ensinado lições de liberdade, pacifismo, coexistência, solidariedade, felicidade e sobrevivência, que teimamos em não ver, nem aprender.

 

“Os ciganos não têm heróis. Não existe nenhum mito de uma grande liberação, da fundação de uma “nação”, de uma terra prometida [como os judeus tinham]. Não têm Rômulo e Remo [como tiveram os romanos], nem um combatente e andarilho Enéias[10]. Não têm monumentos, nem altares, nem hinos, nem ruínas. E não têm livro sagrado”. E por isso mesmo, achamos nós, eles são felizes.

 

Em vista do escrito neste ensaio, aliás bem pequeno, consulto ao leitor ou leitora: É justo discriminar os ciganos?

 

O círculo[11], a seguir, sintetiza o que falamos sobre a cultura cigana:

E por ironia da sorte, por ter qualidades invejáveis, os ciganos carregam o estigma da rejeição. Por que? A resposta vamos pedi-la emprestada a Gunter Grass[12], literalmente:

 

Everywhere Gypsies are the lowest of the low. Why? Because they are different. Because they steal, are restless, roam, have the Evil Eye and that stunning beauty that makes us ugly to ourselves. Because their mere existence puts our values in question...

 

Disse Jean Aicard, ilustre escritor de Roi de Camargue, que os ciganos são fantasmas [espelhos] de nós mesmos, e isto é de uma clareza cristalina. Somos todos iguais, viemos do mesmo tronco, temos raízes semelhantes, somos antropóides, pertencemos à família humana, com defeitos e qualidades inerentes. Somos irmãos. Apenas temos usos e costumes peculiares a cada raça ou grupo. Índios agem como índios, com diferenças em cada tribo; Inuits são particularíssimos, porque seu ambiente é o gelo polar; beduínos são diferentes de nós, porque vivem no deserto; e assim pelo mundo afora. Por isso, somos muito interessantes: iguais no todo, diferentes no detalhe. Que tal respeitarmos uns aos outros? Que tal amarmos o próximo e compreender o diferente? Sejamos tolerantes e solidários com os ciganos. Lembremos do espelho... o que vê diante de um cigano? Se for um homem bom, então você é bom; mas se vê um indivíduo mau... lembra que está diante do espelho.

 

O que é ser cigano? Pedimos vênia para transcrever a magistral conceituação de Bruno Gonçalves (cigano português) em seu texto Pontes sem margens[13].

 

Exprimo toda minha emoção do que é ser cigano! Ser cigano é um estilo de vida A sociedade apenas conhece o cigano estereotipado, nós vamos muito além de toda essa carga negativa, pois a sociedade conhece-nos pouco. Somos tão ricos! Somos ciganos porque fazemos parte de um povo, um povo sem território mas um povo que tem sua própria cultura, um modo de ver e se relacionar com o mundo completamente distinto de todos os outros. Ser cigano é ter muitos sonhos! sonhar ser um dia como todos os outros ciganos, sermos ciganos e ciganas de respeito. É cultivar e conservar a união de todos os nossos sentimentos e laços afetivos., de pertencer a um grupo, a um povo, O CIGANO!

 

QUANTOS SÃO OS CIGANOS?

 

É uma pergunta que não pode ser respondida com precisão. Os ciganos jamais foram recenseados, mesmo porque são arredios a este tipo de levantamento, tendo em vista que quase sempre estas questões são feitas para persegui-los. Veja o horror nazista que meticulosamente exterminou mais de 500000 ciganos, a título de que era uma raça perniciosa, embora fossem arianos. Assim, quando se quer fazer um levantamento, os ciganos se identificam com a nacionalidade que os abriga: no Brasil, são brasileiros e estão certos, pois nasceram no Brasil. Desta forma vamos ficar com estimativas de pessoas e órgãos que merecem confiança porque sempre se interessaram pela etnia cigana.

 

O doutor Ian Hancock[14] em A Handbook of Vlax Romani, nos diz que são nove milhões de roma (plural de rom, o correto nome para o povo que é freqüentemente referido como “ciganos”, ou gypsies, em inglês), que vivem na Europa e EUA. E que existem muito mais em todo o mundo.

 

Segundo Grattan Puxon, em 1970 esta era a população cigana, na Europa:

 

Iugoslávia 650 mil

Romênia 540 mil

Espanha 500 mil

Hungria 480 mil

USSR 414 mil

Bulgária 363 mil

Czecholovakia 300 mil

France 190 mil

Italy 80 mil

West Germany 70 mil

Poland 52 mil

Albânia 50 mil

Greece 45 mil

Portugal 40 mil

Netherlandes 31 mil

Belgium 14 mil

Ireland 10 mil

Switzerland 10 mil

Áustria 9 mil

Sweden 8 mil

Finland 6 mil

Norway 4 mil

Denamark 3 mil

Britain 50 mil

 

A revista VEJA de 17/11/1999 e de 7/6/2000 publicou estes números:

 

Romênia 2,5 milhões

Bulgária 800mil a 920mil

Hungria 600 mil

Eslováquia 500mil a 590 mil

Iugoslávia 400mil a 420 mil

Grécia 200mil

Macedonia 260mil a 370 mil

Rep. Checa 300mil

Albânia 130 mil

Bosnia 50mil a 55 mil

Croácia 40mil a 45 mil

 

European Roma Rights Center, Minority Rights Group, Centre de Recherches Tsiganes y Unicef, informam estes números:

 

Alemanha 85 mil a 120 mil

Luxemburgo 200 mil a 500 indivíduos

Suécia 15 mil a 20 mil

Reino Unido 80 mil a 100 mil

Portugal 50 mil a 100 mil

Holanda 30mil a 40 mil

Itália 85 mil a 120 mil

Irlanda 20 mil a 27mil

Grécia 140 mil a 200 mil

Áustria 15 mil a 20 mil

Bélgica 10 a 15 mil

Dinamarca 2,5 mil a 4,5 mil

Espanha 500 mil a 600 mil

França 200 mil a 300 mil

Finlândia 5 mil a 8 mil indivíduos

 

Em Mil Folhas http://jornal.publico.pt/publico/2001/06/23/MilFolhas lemos que: Europa tem 10 milhões de ciganos; EUA 75 mil a 150 mil. Fontes esparsas [internet], nos dizem que no Canadá tem aproximadamente 300 mil ciganos.

 

Jean Pierre Liégeois. apud (Frans Moonem) Roma, tsiganes, voyaguers, nos apresenta esta estatística, válida para 1994:

 

Albânia 90 mil a 100 mil

Belarússia 10 mil a 15 mil

Bosnia-Herzegovina 40mil a 50 mil

Bulgária 700 mil a 800 mil

Croácia 30 mil a 40 mil

Eslováquia 480 mil a 520 mil

Eslovênia 8 mil a 10 mil

Estônia 1 mil a 1,5 mil

Grécia 120 mil a 140 mil

Hungria 550 mil a 600mil

Iuguslávia (Sérvia e Montenegro) 40 mil a 45 mil

Letônia 2mil a 3,5 mil

Lituânia 3 mil a 4 mil

Macedonia 220 mil a 260 mil Moldávia 20 mil a 25 mil

Polônia 40 mil a 50 mil

Rep. Tcheca 250 mil a 300 mil

Romênia 1,800 um milhão e oitocentos mil a 2,500 dois milhões e quinhentos mil

Rússia 220 mil a 400 mil

Turquia 300 mil a 500 mil

Ucrânia 50 mil a 60 mil

 

Finalmente, retiramos estes números da internet[15] que, por sua vez, foram retirados de revista da Unesco “Mémoire des peuples”

 

Albanie 90 mil a 100mil

Allemagne 100 mil a 120mil

Autriche 15 mil a 68mil

Belgique 12 mil a 15mil

Bulgarie 313 mil a 800mil

Chypre 500 a 1mil indivíduos

Comunidade de Estados

Independentes 300 mil a 550mil

Denamark 1,5 mil a 4,5mil

Espangne 350 mil a 800mil

ex-Yougoslavie 690 mil a 1 milhão

Finlandie 7 mil a 9mil

France 280 mil a 400mil

Grèce 150 mil a 200mil

Hongrie 142 mil a 800mil

Irlande 20 mil a 30mil

Italie 90 mil a 110mil

Luxembourg 100 a 150 indivíduos

Norvège 4,5 mil a 5mil

Pays-Bas 30 mil a 35mil

Pologne 30 mil a 50mil

Portugal 30 mil a 50mil

Rép, Tchèque 30 mil a 250mil

Roumanie 410mil a 2,5 milhões

Royaume-Uni 90 mil a 120mil

Slovaquie 200 mil a 400mil

Suède 15 mil a 20mil

Suisse 30 mil a 35mil

Turquie 300mil a 550mil

États-Unis 100mil

Mexique 10mil

 

Em maio de 2003, Jorge Bernal, cigano Kalderash, residente na Argentina, apresentou um “paper” na Commission on Human Rights; Sub-Commission on Promotion and Protection of Human Rights, Working Group on Minorities, ninth session, do qual extraímos alguns dados sobre ciganos nas américas. São eles:

 

Argentina 300mil

Brasil 800mil a 1milhão

Colômbia 8 mil

Chile 15 mil a 20mil

Equador 5 mil

Uruguai ???

USA 1 milhão

Nas Américas + de 4 milhões

 

Jorge Bernal sabe o que fala, pois não só é cigano, como estuda seu povo há muitos anos. Viaja pelo mundo todo, participa de encontros na ONU etc.

 

Em 13 de fevereiro de 2005, O Globo à página 36, sob o título Integração tardia, nos informa que a população cigana no mundo é de 12 milhões.

No Brasil, os números são inconclusivos. Não existem informações oficiais Seja do IBGE ou de outras entidades.
Rodrigo Corrêa Teixeira nos diz que de 1819 a 1959 imigraram para o Brasil 5,3 milhões de europeus entre eles 2,0 milhões de italianos e alemães e entre eles devem ter vindo ciganos sinti
.

Cristina Costa Pereira[16] escreveu em 1985: “Pode-se afirmar que hoje há cerca de 150000 ciganos espalhados por todo o Brasil, nômades ou semi-sedentários. Isto sem nos referirmos aos que negam a sua ciganidade o que triplicaria este número.”

Em Gli Zingari in Brasile (Lacio Drom no 6 ano 26, mar. dez./90 lemos que na América Latina, segundo dados fornecidos pela Únion Romani de Madrid, existem 1500000 ciganos; dos quais 800000 no Brasil.

O professor Ático Vilas-Boas da Mota em avaliação conservadora, prudente, nos disse que o número de ciganos, no Brasil é de 300000.

Aguardemos, pois, alguém ou alguma entidade nos dê o número aproximado de ciganos nos Brasil. Até então, ficaremos com o entorno de 150mil a 1 milhão.

Ressaltamos ainda que desconhecemos fonte fidedigna do número de ciganos na Austrália[17], no Continente Africano e na Ásia. Mas eles lá estão, seguramente. Richard F. Burton, citado, conhecedor profundo da África, em seu livro O judeu, o cigano e o Islã nos informa sobre os Ghawazis, ciganos dançarinos do Egito, bem como da existência de outros grupos. Também os viu em Marrocos e em muitos outros lugares do Continente Africano, bem como na Ásia. Sabemos que Angola quando era colônia portuguesa, o governador D. Antônio Álvares da Cunha (1753-1758), solicitou ao rei de Portugal, que lhe mandassem ciganos[18], pois, facilmente se adaptavam ao clima (calor) na Colônia. Há ainda os Banjaus, ciganos do mar, nas Filipinas ao sudoeste da Ásia.

[1] O correto é rom (homem) masc., sing.; romá (homem), masc., plur.; romni, romniá (mulher); romani, adjetivo, pertencente ao homem. In The Jew, The Gypsy and El Islam (1898, p.160), Richard Francis Burton, o aventureiro inglês, que sabia tudo sobre ciganos.

 

[2] Parabéns para o Aurélio, por ter eliminado, nesta edição, conceitos insultuosos ao povo cigano.

 

[3] L. P. Baçan <www.acasadomagodasletras.com/biblioteca/eso/cig.>

 

[4] Renato Rosso. In Ciganos um povo de Deus.

 

[5] Aligenígenas. Seres supostamente vindos de outra galáxia.

 

[6] Neto de Chandragupta Maurya. Após conquistar Kalinga (hoje Orissa) desistiu de outras conquistas militares e arrependeu-se da devastação causada e tornou-se budista. Durante pelo menos os últimos trinta anos do seu reinado o sofrimento de seres sencientes, inclusive animais não-humanos, foi mitigado por ele, que assumira a preocupação de Buda com o alívio da dor, e que também tinha simpatia pela ternura peculiar dos jainistas para com todas as formas não-humanas de vida. [Adaptado de Toynbee, in A humanidade e a Mãe-Terra, pp.287-92, Zahar Editores, Rio, 1978.

 

[7] Do turco buluk-bachi. Chefe cigano.

 

[8] Em última análise consiste na fidelidade entre ciganos: 1. Não separarás de teu Rom; 2. Tu serás fiel ao teu Rom; 3. Tu pagarás teus débitos ao Rom. (Francis Burton, The Gypsy, p. 209.

 

[9] In Renato Rosso. Ciganos um povo de Deus.

 

[10] Príncipe troiano. Quando da tomada da cidade pelos gregos, fugiu carregando o pai nas costas, chegou à Itália onde o rei de Lácio lhe deu a filha Lavínia em casamento, dando origem aos etruscos.

 

[11] Inspirado em Carlos Jorge de Souza, Um olhar (de um cigano) cúmplice, p 34, in Que sorte ciganos na nossa escola. Coleção Interface, 2001.

 

[12] Escritor. Prêmio Nobel de Literatura, em 1999. Destinou parte do prêmio aos ciganos de Kosovo.

 

[13] In Que sorte, ciganos na nossa escola! Coleção Interface, 2001, p. 205.

 

[14] Director of the Romani Archives and Documentation Center at the Texas University.

[15] <http://perso.wanadoo.fr/cultures.tsiganes/cultures-tsiganes/voyage-p1.htm>

 

[16] Escritora e professora de literatura. Escreveu entre outros, Povo cigano, 1985, p 31.

 

[17] A Austrália continua a ser um dos raros países onde não existe praticamente discriminação contra o Povo cigano. In Ciganos e degredos, p. 134; por Sharon Sillers Floate.
N. A. Os ciganos são também respeitados  em Israel, mesmo porque alguns defendem a idéia de que seriam descendentes de uma das tribos dispersas dos hebreus.

 

[18] “ ... seria muito conveniente que para este ministério viessem muitos ciganos, e também com as suas mulheres, porque estes são os que mais resistem neste clima, e não têm provado mal em seus procedimentos” (sublinhado nosso).

 
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