A longa e acidentada estrada dos ciganos no Brasil

CRONOLOGIA, DATAÇÃO, EFEMÉRIDES IMPORTANTES NA CIGANOLOGIA BRASILEIRA
(Respeitou-se a grafia original)

Parte II –– Época Joanina até hoje


por Asséde Paiva - 13/05/2015

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1808 ¾ Portugueses e boêmios vieram para o Brasil, na comitiva real que fugia de Napoleão. In Melo Morais Filho, op. cit.

1809 ¾ Viajante inglês Henry Koster dá informações dos ciganos que percorriam os sertões de Pernambuco. Isto em 1809 a 1815, período de duração da viagem. Renato Rosso, op. cit., p. 17.

16/12/1816 — Lei referente à locomoção de ciganos. Cartório 2º OF, de Estância, Sergipe, menciona a existência de uma lei do reino, no 165, que proibia os ciganos de andarem dispersos pelo reino e seus domínios, sob pena de prisão.

1817 ¾ Afonso de E. Taunay fala da impressionante quantidade de ciganos na corte de dom João VI. Id. Ibid.

1819 ¾ Saint-Hilaire encontra-se com numeroso grupo de ciganos em Mogy Guassu (São Paulo). In J. B. D’Oliveira China.

3 de junho, 1822 ¾ Felisberto Inácio Januário Cordeiro encaminha um memorial a José Bonifácio, que começa assim: “Respeitosamente dirijo à presença de V. Exa., com Procurador dos Moradores da Freguesia de Inhaúma, a cópia inclusa da Memória que fiz e remeti ao Intendente-Geral da Polícia sobre a segurança das estradas q. continuam a ser infestadas de salteadores ciganos” E a “Memória” encaminhada à autoridade policial, na primeira parte acusa o seguinte: “São tantos e tão continuados os roubos e assassínios praticados não só de noite, mas até de dia, pelas estradas que da Cidade do Rio de Janeiro seguem para o Campinho, Irajá e Penha, que se não derem quanto antes vigorosas e sucedidas providências em breve os caminhos se tornarão intransitáveis; e os ciganos, os vagabundos, os desordeiros e os escravos aquilombados, conhecendo que são perseguidos e castigados ativa e... elevando cada vez mais suas ousadias, temeridade e cruezas, passarão a formar-se em reforçadas quadrilhas que não só não darão quartel nas estradas passageiros, mas até assaltarão a viva força do fazendeiro e mais habitantes dos sítios e roças dentro de suas próprias casas; porque já tem passado ao terrível excesso de arrombarem cercas e portões e de irem às cavalariças furtar animais, e às casas, atacarem seus habitantes”. (111-25). Apud José Alípio Goulart, op. cit., pp. 177-8.

25 de janeiro, 1830 ¾ José de Melo Correia apresenta em sessão do Conselho da Província (de Alagoas) que “fosse evacuado esse povo [cigano] por intermédio dos Juizes de Paz”, porque: “Os ciganos não são brasileiros, pois, I. dizem que sua pátria é o Egito; 2. Não juraram o projeto da Constituição e menos consta que jurassem outra qualquer dos nossos vizinhos; 3. Não se acham alistados em corporação alguma desta província e, por isso não podem prestar serviços à mesma; 4. Finalmente não consta que eles tenham um pároco que os reconheça por seu fregueses. Dornas Fo, op. cit., p. 141.

1860 ¾ Posturas de Juiz de Fora. Art. 161. É prohibido comprar ou trocar escravos, animais etc. com ciganos e pessoas desconhecidas e suspeitas. Ciganos e suspeitos se denominão os que são por taes havidos; e não são moradores e estabelecidos no Município e nem tem pessoa capaz que os conheça e abone. In Gooduwin Júnior, J. W. Império do Brasil: nesta nação nem todo mundo é cidadão. Apud Cadernos de Filosofia e Ciências Humanas, pp. 29 e 32, ano V, no 9, 1997.

13/5/1873 — Conflito entre o cigano José Ferreira e seus companheiros, armados de pistola e facão, perto do engenho Cansanção, agrediram Alberto C. e Souza e seus irmãos, por se recusarem a fazer a troca de um cavalo. Estância (SE) /C.2o OF

8 de julho, 1887 e 17 de março de 1888. O Pharol Juiz de Fora. [...] Diversas notícias referem-se ainda aos chamados “turcos” possivelmente ciganos, que pediam esmolas, impingiam bugigangas às pessoas sendo inclusive acusados de roubar crianças para comê-las. Idem, ibidem.

21 de março, 1892 ¾ A Câmara Municipal de Paracatu se reúne para discutir a presença de ciganos na periferia. É decidido que eles poderiam ficar por três dias, após este prazo seriam presos e pagariam multa de 20$000 por cigano preso. Fonte: Internet < www.ada.com.br/spagnuolo/fragmentos_de_paracatu.html>

1893 ¾ A cidade de Rio Preto é cercada por 500 ciganos. No mesmo ano é preso em Uberaba o cigano João Cristo. Apud Renato Rosso, op. cit., p. 19.

[...] O sr. Ministro da Agricultura tem notícia de que em um dos vapores esperados no Rio vém centenas de turcos ou bohemios sem profissão, telegrafou para os portos intermediários a fim de que não lhes fossem permitido o desembarque. No Rio foram dadas as mesmas ordens. O Pharol. Apud James William Goodwin Jr., in Cadernos de filosofia e ciências humanas. Belo Horizonte, ano V no 9, out./1997, pp. 29 e 32.

Junho, 1912 ¾ No governo de Miguel de Paiva Rosas (1912-1916), um bando de ciganos é massacrado pela polícia, no lugar Peixe (Nossa Senhora dos Remédios). In Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, de Cláudio Bastos. Teresina, 1994.

1808-1903 ¾ Os ciganos são perseguidos em Minas Gerais. In Rodrigo Corrêa Teixeira. Correrias de ciganos pelo território mineiro. Dissertação de Mestrado em História, UFMG.

1935 ¾ Notícia Diário da Bahia, tendo como título “A vida agitada dos ciganos”. Ao tratar dos ciganos da Bahia, fala-se sobre os Michlos, ciganos cearenses. As terras cearenses foram as que mais receberam ciganos de Portugal.. Apud Renato Rosso, op. cit., p. 20.

1944 ¾ Os ciganos de São Paulo levaram ao governo brasileiro a sua solidariedade em face da agressão totalitária, [da Alemanha], oferecendo os seus serviços militares em defesa de nossa pátria, como ainda entregando donativos em dinheiro e jóias de ouro para auxiliar o custeio de nossa defesa. Dornas Filho, op. cit., p.146).

14 de março, 2001 ¾ Foram deportados 24 ciganos (oito homens, sete mulheres e nove crianças, uma de colo), para a Romênia. E assim o Brasil mostra quão pouco hospitaleiro é. In Folha de S. Paulo de 14/3/2001.

14 de julho, 2001 ¾ É posto em liberdade o cigano Paulo Bianchi Yvanovich, que fora preso em 19 de abril de 2001 injustamente, e acusado pelo estupro e assassinato de três jovens em Teresópolis. O exame de DNA inocentou o rapaz. O Globo. Rio de Janeiro. Eis aí o velho preconceito: Se há um crime, prenda o cigano.

31 de dezembro, 2001 ¾ Refugiados romenos somem em São Paulo. Assim noticiou a Folha de S. Paulo: (400 indivíduos desaparecem... deportados? Escondidos por alguém? Expulsos da cidade? O consulado da Romênia informou: eles são ciganos e não querem trabalhar. O que aconteceu com esta gente?)

13 de maio, 2002 ¾ Até que enfim! Após 428 anos o governo brasileiro reconhece que os ciganos merecem respeito, são cidadãos. O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II) inclui (graças aos esforços da Associação de Preservação da Cultura Cigana, no Paraná), pequeno texto sobre este povo. Vamos citar os tópicos relativos a eles para que não se esqueçam:

Ciganos

259. Promover e proteger os direitos humanos e liberdades fundamentais dos ciganos.

260. Apoiar a realização de estudos e pesquisas sobre a história, cultura e tradições da comunidade cigana.

261. Apoiar projetos educativos que levem em consideração as necessidades especiais das crianças e adolescentes ciganos, bem como estimular a revisão de documentos, dicionários e livros escolares que contenham estereótipos depreciativos com respeito aos ciganos.

262. Apoiar a realização de estudos para a criação de cooperativas de trabalho para ciganos.

263. Estimular e apoiar as municipalidades nas quais se identifica a presença de comunidades ciganas com vistas ao estabelecimento de áreas de acampamento dotadas de infra-estrutura e condições necessárias.
264. Sensibilizar as comunidades ciganas para a necessidade de realizar o registro de nascimento dos filhos, assim como apoiar medidas destinadas a garantir o direito de registro de nascimento gratuito para as crianças ciganas.

 

25 de junho, 2006 — É criado o dia do cigano no Brasil, a ser festejado em 24 de maio, dia de Santa Sara, a padroeira dos ciganos.

 
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