A C I G A N I N H A
por Asséde Paiva -
30/06/2014 |
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A P R E S E N T A Ç Ã O
Asséde Paiva, poeta
e escritor, que admiro e aprecio de longa data, não só por seus contos,
poesias e romances, mas também, por sua verve histórica, como um dos
maiores ciganófilos e ciganólogos do Brasil; Bacharel em Direito e
Administrador de Empresas, premiado na especialidade Cooperativismo.
Geraldo Veríssimo
Cunha Filho, poeta, compositor, violeiro e maestro de fanfarra. Eles
compuseram em sextilhas e rimas em septilhas, o cordel maravilhoso a que
chamaram A Ciganinha.
Variadas, tensas e
emocionantes situações são mostradas inteligentemente, de maneira
envolvente e criativa. Senti, muitas vezes, as emoções narradas em
versos rimados, que nos levaram aos tempos idos, descritos e
relacionados ao amor, sofrimento, superação. Sublimes momentos, vividos
intensamente. Cheguei a ouvir um violino cigano, ao redor da fogueira.
Não vou entrar em
detalhes, peço aos leitores que ouçam o ritmo e sintam a poesia gerada
pelo amor ingênuo, primeiro; platônico, depois; emocional, após trágico,
com um final amadurecido e feliz. Ele aprendeu com os vaivéns da vida a
dar voltas por cima, sempre para o alto e acabou por encontrar o
verdadeiro amor.
O autor perfilha a
doutrina determinística, como se lê em algumas estrofes aqui e ali. Cito
estes passos: - Estenda sua mão moço / Sou cigana do Egito / Quero ler o
seu futuro / Que espero ser bonito
Privilegiados, tenho
certeza, são todos aqueles que, como eu, tiverem o prazer de ler
A Ciganinha.
Parabéns aos
autores, obrigado por esta honrosa distinção.
Claudete Maria Silva
Volta Redonda, abril
de 2011
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Deus criou o mundo
em seis dias e descansou no sétimo...
Este ano de 2011
completei 77 anos; este cordel, que ora apresento, tem 77 estrofes. E
sou privilegiado, pois o Σ (somatório) dos números da data de meu
nascimento se reduz a 7, conforme nos ensina a numerologia: 23/3/1934
=2+3=3+1+9+3+4=25. Reduzindo 5+2 = 7. Considerando estes casos, é lícito
apresentar algo relativo ao significado e poder místico do número
7 (sete): Sete as maravilhas
do mundo antigo; sete as cores do arco-íris; sete notas musicais; sete
pecados capitais; sete colinas de Roma; dança dos sete véus; sete dias
da semana; o sétimo céu; os sete chacras;
seu Sete da Lira
(manifestação de
exu, um orixá das religiões afro-brasileiras); na cultura cigana as
mulheres usam sete saias; na Bíblia, em Apocalipse de João, temos: os
sete selos; sete trombetas; sete cálices; os sete portentos; a besta de
sete cabeças; sete anjos. Séries de julgamentos de Deus, que são
diferentes e consecutivos.
O sete mede o tempo
da história, o tempo da peregrinação terrestre do homem. Segundo santo
Agostinho O homem é convidado pelo número sete a voltar-se para Deus a fim de
descansar somente nele.
“Sete anos de pastor
Jacó servia...”
Para obter as filhas
De Labão –– isto faz dó, ––
Sete anos e outros sete
Guardou ovelhas Jacó.
Certo dia, São Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou:
––
Senhor, quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe
perdoe? Será até sete vezes?
Respondeu-lhe Jesus:
––
Não digo que até sete vezes, mas que até setenta vezes sete vezes. (Mt
23: 21-22).
Por sete dias, sete sacerdotes com sete trombetas investiram sobre
Jericó, e no sétimo dia cercaram a cidade sete vezes.
Sete é o número da totalidade... O número de Deus.
Cordel em sextilhas e rimas em septilhas: xa, xa, xa. As em
x não rimam entre si.
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1
Ó Deus de eterna luz
E com toda sua glória
Ajude-me eu vos peço
A contar a minha estória
Vou falar de improviso
Trago tudo na memória
2
Quando viemos ao mundo
Temos programa traçado
Carregamos uma cruz
Às vezes muito curvado
Pois é madeira de lei
O lenho muito pesado
3
Eu tinha tranquila vida
Um amigo tão maneiro
Estudava em bom colégio
Não amava era escoteiro
Não fumava ou jogava
E curto era o dinheiro
4
Na pensão em que morava
Conheci três fazendeiros
Vindos de rica família
Todos grandes vaqueiros
Frequentávamos as festas
Porque éramos solteiros
5
Ó cruel fatalidade
Que marcou a minha sina
Ter queimando o meu peito
Amor que me alucina
A irmã dos meus colegas
Aquela doce menina
6
Quando vi a graciosa
Na sacada de pensão
A pele moreninha
Os olhos de carvão
Meu coração disparou
Senti total emoção |
7
Cabelo negro ondulado
Espraiado pela costa
Com jeitinho de sereia
Mergulhando contracosta
E me olhou feiticeira
Ela é minha quem aposta?
8
Ela saiu pro salão
Fiquei enamorado
Triste vida triste sina
Estava apaixonado
As pessoas me gozavam
Ele está mesmo gamado
9
Menina espaventada
Acreditei estouvado
A surpresa me pegou
Quando fui defenestrado
Um sofrer profundo
Não pôde ser evitado
10
Acredite se quiser
A flecha do deus cupido
Não escolhe o momento
Pega você distraído
Naquela pensão Assis
Fui flechado e ferido
11
Eu até desconfiei
Muita sorte acontecer
Eu fui convidado logo
A família conhecer
Comi do bom e melhor
Como era doce viver
12
Meu amor me recebeu
Afagou a minha mão
Montei num cavalo xucro
Galopei pelo sertão
Gália a fazenda era
Um enorme casarão |
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13
Namoramos escondidos
Do controle em rebeldia
Sentávamos na canastra
Relíquia da família
Estrela-guia avisou
Tudo isto acabaria
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Deu-me seu retrato lindo
Que queimou minha visão
Oh! em hora malfazeja
Escrevi carta de mão
Eu lhe mandei sem temor
Pelo tropeiro João
15
Falei coisas bonitas
Amor, ardor e doçura
Não pensava no agravo
Vindo dessa criatura
Não sei só Deus sabe
Quem pôs água na fervura
16
Mas eu fui abandonado
Sem qualquer explicação
Que fiz eu meu Criador?
Para ser chutado então
Por aquela melindrosa
Sem dó e sem emoção
17
Estava desesperado
Andando em desalento
Vi cigana na estrada
Era só deslumbramento
Mudei para outro lado
Ela sentiu meu tormento
18
Ela atravessou o leito
Morou na minha jogada
Mudei minha direção
E não adiantou nada
Ela tomou-me a frente
Imóvel, cristalizada |
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A boêmia estática
Esbelta quase levita
Com os olhos cintilantes
E o sorriso catita
Perguntei à belezinha
–– O que queres senhorita?
20
— Estenda sua mão moço
Sou cigana do Egito
Quero ler o seu futuro
Que espero ser bonito
Por que está tão distante
A olhar pro infinito?
21
Ela leu meus olhos tristes
Teve um estremecimento
Viu um ser desnorteado
Em fundo padecimento
Seu semblante anuviou
Anteviu o sofrimento
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E insistiu amorosa
— Me dá sua mão senhor
Sua alma sua face
Passará por muita dor
Impossível descrever
Desprezo e desamor
23
E a cigana a falar:
— Nunca vi tanta afeição
Mas vai sair dessa livre
É minha opinião
Não é senhor do destino
Riscado na sua mão
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— Vejo no anel de Vênus
Traço fino arrevesado
Ele quer dizer espere
Ódio encaminhado
Por amar cegamente
Foi por ela esnobado |
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25
— Na sua mão tá escrito
E que fique inteirado
É triste o teu futuro
De amar sem ser amado
Encorpado em tristeza
Viverá desesperado
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Até que incerto dia
A sorte nos unirá
Porque no vaivém da vida
Nossa estrada cruzará
Algo bom vai suceder
No fim você vencerá
27
Da sua linha da vida
Eu também quero falar
Ela é longa e profunda
Dos cinquenta vai passar
Vencerá os obstáculos
A bom termo vai findar
28
Nem sei se vale a pena
Sua vida a carregar
Tanto dinheiro no bolso
E não ter a quem mimar
Carma é carma sou palmista
Se deve tem que pagar
29
Sigamos à minha tenda
Na forquilha da picada
Baterei carta pra ti
Depois de muito trançada
A dama de paus é guia
Na trilha enfumaçada
30
Mas no baralho da vida
É a carta que sobrou
Meu amigo tenho dó
A dama de paus falou
Não há corte que dê jeito
A morena o rejeitou |
31
Aqui o rei de espadas
Naipe de muito azar
Diz que aquela família
Quer te desacreditar
Dirá que é um ninguém
Que mal tem onde morar
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E quando picado for
Pela “coral” venenosa
Vá ao meu acampamento
Procurar Maria Rosa
Cuidarei da sua alma
Pois sou muito poderosa
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Difícil é me achar
Meu povo é movimento
Vamos pro sul ou pro norte
Escolhemos o momento
Pergunte a meus irmãos
Somos os filhos do vento
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Leve este lenço contigo
Ponha sobre o coração
Dará conforto e paz
Em hora de comoção
Para lembrar-se de mim
Quando fizer devoção
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Tendo batido as cartas
A cigana levantou
Você deve ir agora
Seu “bem” o vento levou
Esforce por ser guerreiro
Pois o passado passou
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Pus minha mão no bolso
Retirei dinheiro meu
Estendi para cigana
Como paga porque leu
Ela pegou tão depressa
E na bolsa escondeu |
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37
Aceito os seus trocados
Pessoa tão generosa
O amor dela foi falso
Não mereceu uma prosa
O que tem que ser tem força
Sua via é amargosa
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E a gitana se foi
Discreta como chegou
Tal e qual um passarinho
Bateu asas e voou
Queria ler outras mãos
Onde o povo acreditou
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Eu fiquei pensativo
O meu crime foi amar
Como João-bobo queria
Ter ombro pra descansar
Sentir o calor da vida
Olhar pro céu suspirar
40
Eu fiquei despeitado
Por não beijá-la bem sei
Tímido eu lhe fiz raiva
Seu pontapé eu levei
Machucou-me para sempre
Quanta dor eu carreguei
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Fiquei banzo inseguro
Nunca mais amei ninguém
Enorme a maldade dela
Matou Minh’alma também
Brada ao céu pela verdade
Nua e crua sem, porém
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Minha alegria acabou
A fé desapareceu
Meu olhar ficou sem brilho
Tanta lágrima verteu
Mas ela era perversa
Do amor escarneceu |
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E com mágoa profunda
Afoguei-me no traçado
Dizia pra uns e outros
Que eu estava acabado
Meu destino definido
Na sarjeta fracassado
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Eu caí em depressão
E minha mente sofreu
Consultei mais de dez médicos
Ninguém viu o que se deu
Só um acertou em cheio
O homem ensandeceu
45
E perdi anos de vida
Vivendo em noite escura
Parecia ir sem volta
Direto à sepultura
Só um doutor competente
Saneou minha loucura
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Lembro-me do carnaval
Ela brincava animada
Aspergi lança-perfume
Recuou desaforada
E foi no primeiro dia
Acabou-se a foliada
47
Fracassei no benquerer
Muito melhor para mim
Da derrota fiz vitória
Mas tinha que ser assim
A Deus meu Divino Pai
Dirigi preces sem fim
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Registrado lá no alto
Que vou desaparecer
Revirar mundos e fundos
Combater para valer
Puxar-me pelos cabelos
Com lema: Hei de vencer! |
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49
E fui para longes terras
Para tentar esquecer
As células do meu corpo
Vibravam pelo seu ser
Ó que dor de cotovelo
Dia e noite a sofrer
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E trabalhei muito duro
Para cabedal dispor
Me arrodeei de bens
Alguns de grande valor
O dinheiro compra tudo
Menos o tal de amor
51
Eu lutei valentemente
Até mesmo sem merenda
O meu estreito caminho
Nunca me levou à venda
Não pensei em me vingar
Sublimei esta contenda
52
Responda-me eu imploro
Ó sibila de Endor
Aquela que adorei
Merecia meu amor?
— Não valia um centavo
Era pedra sem valor
53
— Olhe pra frente seu moço
Naquele espelho distante
Ela nunca gostou de ti
Não se engane um instante
Deve amar quem te ama
E que seja arrebatante
54
No caso dela pesou
Matéria pouco nobre
Como pode moça rica
Namorar um moço pobre
O mundo dá muitas voltas
Amanhã será sem cobre |
55
Vou encarar a verdade
Proclamar aos quatro ventos
Ela foi falsa e má
Encantou-me por momentos
Me deixou na solidão
Com pesares e tormentos
56
Ela sequer imagina
Paixão a mim despertada
Passei sede fome e frio
Em terra muito afastada
Tristeza imensa fez
No meu coração morada
57
Engessou a minha vida
Num grande cubo de gelo
Eu era alegre e feliz
E caí em desmazelo
Espezinhou o meu sonho
Mudou-o em pesadelo
58
Alijei falsos amigos
Desisti da boemia
Lavrei estudei demais
Era o homem que não ria
O senhor ensimesmado
E a fortuna me sorria
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Procurei-a nas estrelas.
Depois no fundo do mar.
Dei sete voltas no mundo,
Sem jamais te encontrar
Agora já desisti
Alguém há de me amar
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Esteja onde estiver
Muito obrigado vivi
Pois com sua rejeição
Na luta sobrevivi
Pudesse eu avisá-la
Diria vim vi e venci! |
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61
Em artigo de jornal
Li manchete dolorida
Por motivo de intriga
Foi por prima agredida
Internou-se em hospital
Sangrando muito ferida
62
O delegado anotou
A briga imotivada
Moça bonita e rica
E por outros desejada
Justo naquele lugar
Que nasci de madrugada
63
Gostaria de ser Fênix
Pra ter o dom de voar
Voejava pra ela
Para tentar confortar
Dizer apesar de tudo
Tem meu colo pra chorar
64
Mas ela não me merece
Eu sou louco incurável
Pois é mulher rancorosa
Insensível adorável
Deus como sofri por ela
Etérea inalcançável
65
Eu disse palavras duras
Às vezes fui seletivo
Usei de expressões fortes
Porque sou obsessivo
No saldo disse-me-disse
O valor é positivo
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O balancete da vida
A ela repassarei
Na conta de resultados
Debitei e creditei
Recebi o merecido
Mas não foi o que sonhei |
67
Nos meus sonhos e visões
Ela vivia ao meu lado
Cuidando de nossos filhos
Mas nisso fui logrado
Pelo aço do punhal
No meu peito enfiado
68
Eu não vou lhe condenar
Porque foi tão caprichosa
É verdade que nós dois
Fomos como cravo e rosa
Partilhamos a essência
Da noite tempestuosa
69
Dando o braço a torcer
Esta é hora a partida
Feitas contas e recontas
E a raiva subtraída
Confesso que ela foi
O amor da minha vida
70
Esta é minha confissão
E tendo desabafado
Não dá pra continuar
O meu corpo fadigado
Pedindo pra repousar
E desobrigar do fado
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Eu estou envelhecendo
Abatido dou conselho
Fugi bati e sofri
Derrotei Pedro Botelho
Não implore por amor
Jamais fique de joelho
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Quando a hora chegar
Eu ouvirei de uma luz
Não tenha medo de nada
Deponha aqui sua cruz
Um homem tem muitas vidas
Fique na paz de Jesus |
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73
A meus ouvintes atentos
Dos sonhos do sonhador
Se falhei pequei demais
Por meu primeiro amor
Já superei todas travas
Do esprito obsessor
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Cumpri a minha missão
Adonai pode dizer
Machuquei ou ofendi
Desculpe foi sem querer
Perdoo sou perdoado
Partirei sem remoer
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Não tenham pena de mim
Nem aqui ou no além
O que aconteceu comigo
Foi pro meu próprio bem
Só peço compreensão
Que anjos digam amém
76
Agora que contei tudo
Minha vida repassar
Aqui faz aqui se paga
É semear e ceifar
Se ela me procurar
Jamais vai me encontrar
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E quem achar que lamento
Enganou com afoiteza
Eu dei a volta por cima
Fui leal tive nobreza
Só perdi uma batalha
No fim ganhei com certeza
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Eu vingado hei de ser
A ela não quero mal
Existe a lei do retorno
Equilíbrio universal
Aprontou-me poucas e boas
O troco virá igual
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Agora volto no tempo
Em que andava sem norte
Foi que vi a sensitiva
A qual leu a minha sorte
Na triste vida e trabalho
No baralho deu um corte
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Onde está a ciganinha?
Com beleza peregrina
Queria dizer pra ela
Teu saber é papa-fina
Acertaste cem por cento
Ao ler mãos não desafina
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De todos seus vaticínios
Não escapei de cumprir
E está nas mãos de Deus
Livremente decidir
Levar-me pra junto Dele
Ou pra aonde quero ir
82
Hoje estou convencido
Que amei pessoa errada
Seria a cigana Rosa
Formosa como alvorada
Moça de olhar profundo
Que nem noite estrelada
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Desejo recomeçar
Tudo será diferente
Eu terei Maria Rosa
Ao meu lado certamente
Amor ao calor do fogo
Proteção de sua gente
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E ao som dum violino
Eu a verei requebrar
Batendo as castanholas
Só para me encantar
Viveremos avoantes
Sob luz do sol e luar |
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Sua alma sua palma
Sorte gravada na mão
O coração me contou
Não morrerei de paixão
Bateram em minha porta
Em certa ocasião
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A bela do oriente
Com o piscar chamejante
Falou-me como um carinho
–– Encontrei-te ambulante
Vamos embora daqui
Viajar como errante
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Iremos pelos campos
Não tememos o trovão
E subiremos nos montes
Descansaremos no chão
E dançaremos na chuva
Em qualquer ocasião
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A ti darei minha alma
E meu corpo acolhimento
Nasci livre e sou livre
Hoje a ti me acorrento
Você será meu amor
Terá meu canto e lamento |
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Venha tristonho ganjão
Vem aninhar em meus braços
Consultei o meu tarô
Tirarei teus embaraços
E terás saúde e paz
Acompanhando meus passos
90
Há muito tempo falei
Nossos caminhos cruzados
E agora aconteceu
Seguiremos agarrados
Enfrentaremos intempéries
Eternos enamorados
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Era a cigana Rosa
Formosa como na lenda
Segurou-me pelas mãos
Levou-me pra sua tenda
Nós somos felizes juntos
Deus me deu por encomenda
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Adeus pessoas amáveis
Sairei com alegria
Sei que não farei falta
Eu só disse o que podia
Deixo abraço pra todos
E vou viver com Maria |
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Eis comovente poesia de
Vieira da Silva
Cigana
Era uma vez uma cigana. Um dia
Laura pediu-lhe que lhe lesse a sina
E ela, a cigana, de contente, ria
Ante a mãozinha delicada e fria.
Fita-lhe o olhar e, débil e franzina,
Linha por linha, atentamente, lia
Um futuro de rosas à menina;
Tudo o que Laura desejasse podia...
E disse aos pais: "Três vezes, meus senhores,
Aquele ipê se cobrirá de flores
Para a menina se cobrir de um véu".
Laura riu-se e corou. E um ano corre,
Outro mais... e mais outro... E Laura morre...
— Foi com certeza se casar no céu! —
..................................
A poesia supra me deu vontade de chorar. |
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